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JG

Escritor, por Michel Schneider

por Juliana Garcia da Cruz - terça-feira, 9 abr. 2013, 20:55
 

É aquele que não sabe quem é. Quem escreve? Não respondamos, porém, depressa demais: ninguém. Em francês, podemos dizer: isso neva, ça neige. Depois da psicanálise, e com rigor: isso pensa, isso fala ou isso deseja (ça pense, ça parle, ça désire); mas não: isso escreve (ça écrit). Nem: isso lê, aliás. Há sempre alguém quando se escreve. Diversamente, quando se analisa também. Mesmo se esse alguém tenta se abolir, apagar‑se ante as palavras, o texto não é nunca de ninguém, nem o inconsciente uma formação desencarnada.

 

ML

O Plagio

por Maria Lucia Costa Lima - terça-feira, 9 abr. 2013, 20:58
 

O plagio pode ser fruto de uma de uma atitude infantilizada de apropriação do que foi feito, ou fruto de uma compatibilidade de ideias que se da no plano do inconsciente.

 

RM

Outro imaginário, Michel Schneider

por Rafaela Maria Cossielo De Martins - terça-feira, 9 abr. 2013, 21:39
 

É o outro que sou eu (o outro do transitivismo infantil, que leva a criança que bate em outra a dizer: é ele quem me bate).Atribuindo inconscientemente ao outro aquilo que eles mesmos pensaram. Nas formas extremas dessa projeção, atinge‑se aquilo que Lacan chama "conhecimento paranóico", no cerne da impossibilidade de coexistir com o outro.

 

FK

Identidade Autoral, por Michel Schneider

por Fabio Kuniyoshi - terça-feira, 9 abr. 2013, 21:45
 

Identidade autoral: de forma subjetiva, pode representar num primeiro momento, a identidade daquele que escreve, mas também pode ser o produto da reflexão a que se leva o conteúdo das páginas do livro, que por vezes, passa a ser uma representação mais consistente da identidade do próprio escritor.

 

DJ

Controle

por Daniela Jaramillo Barbosa - domingo, 23 jun. 2013, 19:22
 

"A Internet, essencial sob os mais diversos aspectos sociais, é um arranjo comunicacional baseado em protocolos tecnológicos. Como apontou Galloway, o estilo de gerenciamento das redes distribuídas é protocolar e expressa claramente a sociedade do controle.

Para realizar a comunicação digital é preciso aceitar seus protocolos. Para se comunicar livremente nas redes digitais é preciso acatar suas regras, seus procedimentos e sua arquitetura comunicacional. Assim, é possível observar claramente que a mesma rede que garante nossa liberdade comunicativa é a que nos controla. Não há como garantir o livre fluxo de informação digital sem aceitar os protocolos da rede. Neles reside o controle.

O controle em si não é nem bom nem ruim, simplesmente é o modo técnico de garantir a comunicação distribuída e interativa. São os protocolos TCP/IP e seu sistema verticalizado de organização de domínios, o DNS (Domain Name System), que definem uma série de limites e de possibilidades de comunicação em rede. Construídos por coletivos de técnicos, hackers, engenheiros, acadêmicos e representantes de corporações, esse e outras centenas de protocolos constituem e viabilizam a comunicação em rede. São os elementos mais típicos da sociedade do controle, cujas principais tecnologias de poder também são distribuídas, mas convivem claramente com formas de dominação baseadas nas tecnologias de poder territorial — principalmente os Estados soberanos — e com instituições disciplinares e suas arcaicas técnicas de vigilância." (p. 77)

SILVEIRA, Sergio Amadeu da. “Ambivalências, liberdade e controle dos ciberviventes”. In Cidadania e redes digitais / Sergio Amadeu da Silveira (organizador). Sao Paulo: Maracá-Educação e Tecnologias. 2010.

É interessante a consideração do conceito de controle relacionado com a Internet, já que deixa ao descoberto a natureza da sociedade na qual esse “arranjo comunicacional” funciona , uma sociedade que funciona com regras de controle, direitos e liberdades que são limites aceitados e defendidos por aqueles políticamente de acordo como cidadãos e usuários.

 

 

DJ

Anonimato

por Daniela Jaramillo Barbosa - domingo, 23 jun. 2013, 19:33
 

"The phenomenon of anonymity online is equally problematic. Democratic theorists have long debated the question of whether anonymity is constructive or destructive to public speech. Some envision anonymity as a platform that enables speech to be separated from the identity of the speaker, so that all voices can be treated equally; others see anonymity as a corrupting influence, allowing people to evade the consequences of their speech. The advent of the Internet, with its abundant opportunities for anonymous speech, allows us to test speculation against reality.

The case of hacktivism shows that anonymity practices look little like either the worst or best case scenarios envisaged in theory. Some hacktivists use their real names, while others use traceable pseudonyms, and still others use pseudonyms that are completely untraceable. Each of these choices amounts to a type of accountability claim, a political tool that conveys information about the speaker and the speaker’s engagement in the public sphere." (p. 21-22)

SAMUEL, Alexandra (2004) Hacktivism and the future of Political Participation. Tese para Doctorado em Filosofia na Universidade de Harvard.

 

ANEXO:

 

DJ

Cibervivente

por Daniela Jaramillo Barbosa - domingo, 23 jun. 2013, 19:35
 

"(...)Os viventes nas redes digitais são ciberviventes, personagens de uma sociedade de comunicação e controle. São livres enquanto aderentes aos protocolos que tecnicamente limitam, condicionam e formatam a comunicação de suas ideias. Estão felizes com a agilidade dos serviços que registram suas navegações, com as possibilidades crescentes de armazenamento de seus arquivos pessoais e com as facilidades de como uma única senha permite acessar uma multiplicidade de redes de relacionamento. Os cibreviventes têm, nas redes digitais, mais poder de comunicação e de relacionamento, e mais potencial de influência. Quanto mais participam da rede, mais contribuem para a definição de padrões, mais dados sobre seus interesses e seus comportamentos disseminam, mais controlado são". (p.79, 81)

"(...)Somos ciberviventes, pois nossa sociabilidade passa cada vez mais por redes digitais de comunicação e controle. Nossas vidas são cada vez mais dependentes de senhas e nosso padrão comunicacional é guardado em bancos de dados de grandes corporações. Somos controlados sem sermos obrigados e submetidos opressivamente aos controles. Aderimos a eles e somos felizes por existirem. Chegamos a pagar pelos mesmos." (p. 81)

SILVEIRA, Sergio Amadeu da. “Ambivalências, liberdade e controle dos ciberviventes”. In Cidadania e redes digitais / Sergio Amadeu da Silveira (organizador). Sao Paulo: Maracá-Educação e Tecnologias. 2010.

 

DJ

Hacktivismo

por Daniela Jaramillo Barbosa - domingo, 23 jun. 2013, 19:38
 

"Hacktivism is the nonviolent use of illegal or legally ambiguous digital tools in pursuit of political ends" (p. 2). "These tools include web site defacements, redirects, denial-of-service attacks, information theft, web site parodies, virtual sit-ins, virtual sabotage, and software development" (p. iii). "The “type” of hacktivism categorizes people: political crackers, performative hackers, and political coders." (p. 36)

"Commonly defined as the marriage of political activism and computer hacking (Denning 1999; National Infrastructure Protection Center 2001), hacktivism combines the transgressive politics of civil disobedience with the technologies and techniques of computer hackers. The result has been the rapid explosion and diffusion of a digital repertoire of political transgression, harnessed to a wide range of political causes." (p. 1)

SAMUEL, Alexandra (2004) Hacktivism and the future of Political Participation. Tese para Doctorado em Filosofia na Universidade de Harvard. 

 

ANEXO:

 

 

CK

Letramento

por Camila Kakitani - segunda-feira, 24 jun. 2013, 20:55
 

O letramento refere-se às práticas de leitura e de escrita, considerando-se também as práticas sociais que estão envolvidas nesse processo. Por exemplo, escrever no papel é diferente do que escrever na tela do computador. Enquanto no primeiro é preciso elaborar mentalmente a frase antes de colocar no papel, no segundo é possível pensar e escrever ao mesmo tempo, pois é um processo bem mais dinâmico, uma vez que as funções de "deletar" e "digitar" são bem mais fáceis do que "apagar" e "escrever".

 

SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e de escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002.

 

CK

Cibercultura

por Camila Kakitani - segunda-feira, 24 jun. 2013, 20:57
 

Cibercultura é o conjunto de técnicas, práticas, atitudes e comportamentos relacionados ao desenvolvimento da rede mundial de computadores.  Da mesma maneira que se desenvolveu a sociedade do consumo com o hábito do consumo e do descarte, também se desenvolveu a cibercultura e com ele novos hábitos e comportamentos como a dificuldade de se desconectar e a fragilização dos relacionamentos interpessoais.

 

SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e de escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002.

 

CK

Tipográfico

por Camila Kakitani - segunda-feira, 24 jun. 2013, 20:58
 

Tipográfico é um adjetivo que qualifica a leitura, a escrita ou o letramento, ou seja, não é somente o conteúdo em um material impresso, como também a fotocomposição. Sua definição tornou-se bastante genérica.

 

SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e de escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002.

 

CK

Hipertexto

por Camila Kakitani - segunda-feira, 24 jun. 2013, 21:00
 

Hipertexto: um texto móvel e dinâmico, como por exemplo o texto escrito na tela do computador. Através da busca de palavras é possível começar a leitura exatamente do ponto que se gostaria, não se limitando aos parágrafos ou aos capítulos anteriores, além disso, permite também a inserção de palavras no meio de sentenças já pré-estabelecidas. Permite enfim, uma liberdade maior de escrita e leitura.

 

SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e de escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002.

 

LE

Escrever

por Lucy Eri Ikeda - terça-feira, 25 jun. 2013, 15:41
 

"Escrever é utilizar todo tipo de meio de expressão para tentar dizer o que se é e, antes ainda, o que não se é: o plágio, metafórico, que substitui pelo texto plagiado aquele que o plagiário deveria ter escrito; o palimpsesto, metonímico, que recobre os textos uns com os outros; o pasticho, quase‑alucinação mais verdadeira que o verdadeiro estilo do outro; o achado, repetição que deságua no inédito, às vezes por lapso." (SCHNEIDER, Michel)

Escrever não é apenas desenhar letras, possui um sentido além do dicionário.

 

LE

Parapraxe

por Lucy Eri Ikeda - terça-feira, 25 jun. 2013, 15:50
 

Um erro pequeno, deslize, como um erro de fala ou objetos fora de lugar, como um resultado da mente inconsciente.

"[...] que são agora conhecidas, em linguagem cotidiana, como deslizes Freudianos, demonstram ‘que a fronteira entre o normal e o anormal em assuntos psiquicos é fluida, e que nós somos todos um pouco neuróticos.' O deslize, para Freud, é prova inexorável da existência do inconsciente e de suas operações cotidianas, em todos. É um modo de legitimar as reivindicações dele para o inconsciente em um nível universal." (GOSSY, Mary)

 

LE

Livro

por Lucy Eri Ikeda - terça-feira, 25 jun. 2013, 16:46
 

Segundo a definição de Kant, possui dois sentidos que seria o físico e o intelectual, com dois proprietários distintos,

"[..] o livro como opus mechanicum, como objeto material, que pertence a seu adquiridor, e o livro como discurso dirigido a um público, que permanece como propriedade de seu autor e só pode ser distribuído por aqueles que são seus mandatários."

 

Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v24n69/v24n69a02.pdf

 

TC

Ciberespaço, segundo Pierre Levy

por Talita Carvalho da Mota e Silva - terça-feira, 25 jun. 2013, 16:46
 

    Ciberespaço é um termo utilizado por Pierre Lévy, que significa a infra-estrutura material da comunicação digital, ou seja, o espaço de possibilidades infinitas para a navegação virtual. Este novo campo para a navegação virtual acentua a complexidade das práticas profissionais ao incluir a dimensão do intangível, do imensurável. Assim, a revolução digital não só redesenha os espaços ocupacionais, mas também as competências e habilidades demandadas pela Sociedade do Conhecimento.
    As novas tecnologias transformam a relação com o espaço, dando-nos uma nova percepção de mundo e, neste contexto, observamos uma era digital marcada por uma velocidade e um estilo de vida nunca antes experimentados. O desenvolvimento das redes de computadores instaura um novo espaço para a cultura digital (Franco, 1997) que se estabelece a partir de uma rede de todas as memórias informatizadas e de todos os computadores.
    No ciberespaço não é mais o leitor que se desloca diante do texto, mas é o texto que se desloca e se desdobra de forma diferente no contato com cada leitor (Lévy, 2000, p.14), possibilitando que este não mais se coloque numa posição passiva diante de um texto estático, mas em meio a um processo dinâmico participe como sujeito de uma construção coletiva.
    Pela perspectiva de rede hipertextual, todos os textos passam a fazer parte de um mesmo texto dinâmico que faz desaparecer a noção de página com fronteiras delimitadas, para fazer circular o saber em fluxo. Esta reconfiguração revela a construção de uma nova inteligência potencializada pela sensibilidade, percepção e imaginação, cujos dispositivos técnicos podem colaborar no aprendizado e na aquisição de saberes.

FONTE: Citando Pierre Levy em “ Da escrita linear à escrita digital: atravessamentos profissionais”- Alzira Maria Baptista Lewgoy e Marina Patrício de Arruda. Revista Virtual Textos & Contextos, nº 2, dez. 2003.

 

TC

Imitar, por Michael Scheneider

por Talita Carvalho da Mota e Silva - terça-feira, 25 jun. 2013, 16:48
 

Imitar não é pilhar, é se formar, admirar e manifestar sua admiração, de modo algo adolescente, às vezes (e há adolescências prolongadas); mas fazer a confissão de sua dívida. É também prolongar a vida de um livro anterior (e essa segunda vida é talvez mais verdadeira, mais durável que a primeira).
É que é preciso estabelecer, aqui, uma distinção essencial. A influência percebida, reivindicada, cultivada, não é a angústia de ser influenciado. A primeira resulta de mecanismos conscientes, a segunda mobiliza uma culpabilidade e uma inveja inconscientes que acarretam a inibição de criar.
A questão da transmissão ou da aquisição de um estilo envolve categorias familiares ao analista e que talvez permitam dissolver a falsa aporia segundo a qual tudo é plágio e, nada, verdadeiramente plagiado: são as de incorporação, de introjeção e de identificação. Foi a propósito do luto e da melancolia que a teoria analítica conseguiu distinguir melhor esses conceitos.
Segundo um exemplo conhecido, é o filho que imita seu pai, sentase em sua poltrona, põe seus óculos e lê o jornal... de cabeça para baixo. Aquele que se identifica com seu pai aprende a ler. A identificação pressupõe um desvio, ela se constrói a partir de introjeções, as quais permanecem ligadas à oralidade originária.

Fonte: Q – Quem escreve? – Autor: Michel Schneider

 

TC

Palavras emprestadas, por Mary Goss

por Talita Carvalho da Mota e Silva - terça-feira, 25 jun. 2013, 16:51
 

Palavras emprestadas são palavras que pertencem a um outro. Elas são as palavras de um outro, um texto, através do qual aquele que cita busca estabelecer uma relação com uma terceira pessoa que é percebida como tendo um direito àquele texto de alguma maneira. São palavras que precisam atravessar uma forma de tradução antes de poderem se tornar de Freud. Como tais, elas são um tipo de lingua estrangeira.
A pessoa é mais suscetível, como diz Freud, para cometer deslizes ao usar uma lingua estrangeira que ao empregar sua própria língua. Mas às vezes falta de comunicação em uma língua estrangeira é preferível a qualquer forma de comunicação na própria língua. Às vezes uma língua estrangeira é a única apropriada. Isto é particularmente correto em questões de desejo: a língua estrangeira é a língua de um outro em minha boca.
Utilizar palavras emprestada é tanto assumir a autoridade do outro como evitar, até certo ponto, responsabilidade pelo que se está dizendo: eu posso ter dito isto, mas eu o disse nas palavras de outra pessoa.
Ao usar as palavras de um outro, um escritor pode projetar seus desejos inaceitáveis sobre e através de outro corpo de discurso. Este outro discurso, encarnado em uma língua estrangeira, pode se tornar um repositório para o desejo inoportuno que opera entre duas ou mais pessoas.

 

Fonte: Deslizes freudianos, Mary Gossy In: Mulher, a escrita, a língua estrangeira. Michigan UP, Ann Arbor, 1995. (Fragmentos em tradução livre de Artur Matuck).

 

TC

Deslizes

por Talita Carvalho da Mota e Silva - terça-feira, 25 jun. 2013, 16:52
 

O deslize, para Freud, é prova inexorável da existência do inconsciente e de suas operações cotidianas, em todos. É um modo de legitimar as reivindicações dele para o inconsciente em um nível universal. O deslize perturba o texto autorizado em seus níveis mais elementares, esses da palavra e da letra. Pode mostrar como um texto se aproxima, se afasta, circula ao redor, de outros. O deslize pode evidenciar as estruturas da escrita que explicitamente se constitui como analítica e critica da escrita de outros, das palavras citadas, emprestadas.
Qualquer um que tenha tido o infortúnio de proferir um deslize durante um argumento, perdendo assim uma posição de superioridade retórica, ou de ter escrito um deslize que de alguma maneira comprometeu sua autoridade ou credibilidade, sabe que uma teoria do inconsciente não é requerida para se apreciar a erupção de sentido que um deslize implica: apenas um leitor ou ouvinte que interpretem o deslize em seu valor literal já é o suficiente.
Um deslize não apenas significa alguma outra coisa; muito mais do que isso; o deslize adquire sentido no contexto em que aparece. O poder de um deslize Freudiano para perturbar a linguagem e as relações sociais vem do fato que é mais do que um pensamento; sempre é o resultado de uma ação incorporada. Um deslize insiste em reprise, inevitavelmente na presença, atual ou iminente, de outra pessoa. Não pode ser ocultado. O deslize significa que seu autor não é uma autoridade, porque até mesmo seu próprio discurso é descontrolado.
Ao escrevermos sobre deslizes arriscamos cometer deslizes, sermos infectados por eles. O deslize representa território perigoso para a pessoa cuja identidade, ainda que teoricamente bem informada, depende de interpretações convincentes. Ele pode funcionar como um convite inconsciente à ego-revelação, desmantelando, em um movimento, o mito da autoridade unitária. O deslize implica a possibilidade de discursos múltiplos e de verdades sobrepostas.
Se for usado como uma ocasião para envergonhar o autor, então o sentido do deslize pode ser revelado como um modo de manter poder sobre este autor. Mas, se é visto, ao invés disso, como uma manifestação de conhecimento previamente ignorado, e uma função de espontaneidade psíquica e intelectual, então pode ser contagiamente instrutivo.

 

Fonte: Deslizes freudianos, Mary Gossy In: Mulher, a escrita, a língua estrangeira. Michigan UP, Ann Arbor, 1995. (Fragmentos em tradução livre de Artur Matuck).

 

TC

Discurso, por Foucault

por Talita Carvalho da Mota e Silva - terça-feira, 25 jun. 2013, 17:00
 

O discurso, em nossa cultura (e, sem dúvida, em muitas outras), não era originalmente um produto, uma coisa, um bem; era essencialmente um ato - um ato que estava colocado no campo bipolar do sagrado e do profano, do lícito e do ilícito, do religioso e do blasfemo. Ele foi historicamente um gesto carregado de riscos antes de ser um bem extraído de um circuito de propriedades.
Quando se instaurou um regime de propriedade para os textos, quando se editoram regras estritas sobre os direitos do autor, sobre as relações autores-editores, sobre os direitos de reprodução etc. - ou seja, no fim do século XVIII e no inicio do século XIX -, é nesse momento em que a possibilidade de transgressão que pertencia ao ato de escrever adquiriu cada vez mais o aspecto de um imperativo próprio da literatura.
Como se o autor, a partir do momento em que foi colocado no sistema de propriedade que caracteriza nossa sociedade, compensasse o status que ele recebia, reencontrando assim o velho campo bipolar do discurso, praticando sistematicamente a transgressão, restaurando o perigo de uma escrita na qual, por outro lado, garantir-se-iam os benefícios da propriedade.
Os textos, os livros, os discursos começaram a ter realmente autores (diferentes dos personagens míticos, diferentes das grandes figuras sacralizadas e sacralizantes) na medida em que o autor podia ser punido, ou seja, na medida em que os discursos podiam ser transgressores.

 

FONTE:FOUCAULT, Michel. O que é um Autor? Lisboa: Vega, 1992.

 


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