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Imitar, por Michael Scheneider

por Talita Carvalho da Mota e Silva - terça-feira, 25 jun. 2013, 16:48
 

Imitar não é pilhar, é se formar, admirar e manifestar sua admiração, de modo algo adolescente, às vezes (e há adolescências prolongadas); mas fazer a confissão de sua dívida. É também prolongar a vida de um livro anterior (e essa segunda vida é talvez mais verdadeira, mais durável que a primeira).
É que é preciso estabelecer, aqui, uma distinção essencial. A influência percebida, reivindicada, cultivada, não é a angústia de ser influenciado. A primeira resulta de mecanismos conscientes, a segunda mobiliza uma culpabilidade e uma inveja inconscientes que acarretam a inibição de criar.
A questão da transmissão ou da aquisição de um estilo envolve categorias familiares ao analista e que talvez permitam dissolver a falsa aporia segundo a qual tudo é plágio e, nada, verdadeiramente plagiado: são as de incorporação, de introjeção e de identificação. Foi a propósito do luto e da melancolia que a teoria analítica conseguiu distinguir melhor esses conceitos.
Segundo um exemplo conhecido, é o filho que imita seu pai, sentase em sua poltrona, põe seus óculos e lê o jornal... de cabeça para baixo. Aquele que se identifica com seu pai aprende a ler. A identificação pressupõe um desvio, ela se constrói a partir de introjeções, as quais permanecem ligadas à oralidade originária.

Fonte: Q – Quem escreve? – Autor: Michel Schneider

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