A disciplina tem como objetivo geral acompanhar e refletir sobre o campo dos estudos de gênero e trabalho no Brasil e na França, suas especificidades e interconexões. O programa visa explorar uma hipótese interpretativa, qual seja, a de que a trajetória de constituição do campo varia tanto de acordo a configurações que se estruturam e se diferenciam no curso do tempo, como de acordo a características próprias aos contextos sociais que deixam as suas marcas na dinâmica da produção intelectual. Assim, para propiciar uma discussão crítica e aprofundada, o programa de leituras e debates irá acompanhar as reconfigurações (i) da pauta temática, (ii) das construções conceituais e (iii) dos estilos metodológicos de trabalho tal como se deram, no curso do tempo, no Brasil e na França.

Para melhor organizar as comparações, as leituras se organizarão segundo três grandes eixos de debates; cada um deles será contemplado em uma das partes do programa. O primeiro abordará as relações entre gênero e trabalho a partir do enlace entre as categorias de exploração do trabalho, dominação e opressão das mulheres. O segundo estará assentado no argumento da transversalidade do gênero enquanto dimensão relevante para o entendimento das diferentes instâncias e dimensões do trabalho e das relações sociais que nelas se tecem. O terceiro estará sustentado na perspectiva que defende o valor heurístico da noção de interseccionalidade das relações sociais, como forma de bem apreender-se o enlace entre as relações sociais de sexo e outras formas de relações sociais; o domínio de estudos do trabalho do cuidado será tomado como exemplo do valor heurístico dessa perspectiva. Desse modo, as categorias exploração/dominação/opressão, transversalidade e interseccionalidade funcionarão como as noções-chave para organizar as reconfigurações que serão acompanhadas ao longo da disciplina.