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“Ser afetado”, de Jeanne Favret-Saada

Ser Afetado é um texto que recupera uma postura ética e um compromisso no campo e nas aproximações com os sujeitos envolvidos na pesquisa. O texto faz uma crítica a postura tradicional de pesquisadores que operam a "observação participante" e ora se comportam de forma que interrogam e observam os sujeitos e ora optam por participar o mínimo possível para observar ao máximo. Em ambos os comportamentos, a postura distanciada e a pretensão de verdade inequívoca que do conhecimento que pesquisador produziria com sua pesquisa opera uma cisão entre pesquisador e sujeitos participantes do estudo, atribuindo valorações diferentes as falas, memórias e enunciações do pesquisador e dos outros sujeitos envolvidos. A proposição da Jeanne é de retomar uma "velha sensibilidade", advogando que observar os fenômenos e participar dos fenômenos deixando-se ser afetado são circunstâncias muito distintas. Diz-nos que "quando se está em um tal lugar, é-se bombardeado por intensidades específicas (chamemo-las de afetos), que geralmente não são significáveis. Esse lugar e as intensidades que lhe são ligadas têm então que ser experimentados: é a única maneira de aproximá-los." Acho o texto fundamental pela crítica profunda a postura do pesquisador no campo de estudo e trabalho. 


A

A ilusão biográfica - Pierre Bourdieu

TEXTO 1

COMENTÁRIOS 


Originalmente é um dos treze capítulos que compõem as edições 62/63 da Revista Actes, da qual  Pierre Bourdieu era diretor e que contam com outras reflexões interessantes os depoimentos/ biografias nas ciências humanas. Ambas as edições contam com o título de “A ilusão biográfica”, o mesmo deste breve artigo escrito por Bourdieu. 

Em tom provocativo, o texto discorre os perigos do uso de material biográfico como fonte de pesquisa, especialmente na história e nas ciências sociais, talvez o que tenha me levado a indicá-lo: embora ácido, contém reflexões valiosas sobre o caráter e a forma de construção destas narrativas individuais, que muitas vezes incorrem em ilusão retrospectiva, ingenuamente finalista e linear, e atribuem causalidades que nem sempre correspondem às trajetórias reais dos agentes sociais.

Embora ácido, acredito ser uma crítica importante a ser levada em consideração nos trabalhos com depoimentos e biografias, especialmente na hora de cruzá-los com outras informações coletadas no campo, nas fontes e na bibliografia, mas também por dialogar com alguns conceitos importantes da sociologia bourdieusiana que valem a pena serem relidos em quem atua neste campo, como a noção de habitus e capital simbólico.


REFERÊNCIA:


BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaina; PORTELLI, Alessandro. Usos & abusos da história oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Ed. da FGV, 2006. p. 183-191.


Por: Caio Reina Lotufo

A não história da dança ou a historiografia dos restos

Este trecho do livro da professora e dançarina Andreia Nhur - pertencente ao programa de Pós Graduação da ECA-USP, aborda uma pespectiva diferente e descentralizada em que contrapõe uma história da dança brasileira, baseada em um tradicional e hegemônico modelo europeu, baseada na história da Arte, com a história da não dança. Ou seja, como método utilizada os "restos", conforme Benjamin trata as reminiscências. Para além de recobrar um percurso historiográfico da dança que contemple os silenciados, ela trabalha com a ideia de arquivo como um lugar de poder, ressignificando-o, principalmente do ponto de vista da memória. Introduz a história oral como recurso de transformação desse panorama e prioriza a noção de testemunho.


A oralidade como fonte para a escrita das Histórias Indígenas (vários)

TEXTO 2 


COMENTÁRIOS:


A indicação deste texto vem de encontro com meu objeto de pesquisa no mestrado em História Social (Jogos dos Povos Indígenas) , mas achei importante indicá-lo pensando na diversidade de temáticas que os demais colegas postaram aqui no moodle.

O artigo, publicado na revista Tellus, constrói uma breve reflexão sobre caminhos teóricos e metodológicos para a escrita das Histórias Indígenas, especialmente no que tange à utilização da tradição oral como fonte de pesquisa histórica, demonstrando a necessidade de aproximar a história oral da etnografia no que diz respeito aos trabalhos de campo do historiador com populações indígenas (como é o meu caso). Aqui destacamos como a História Oral, de encontros aos procedimentos consagrados pela historiografia, torna-se instrumento para acessar as histórias indígenas e também possibilita escrevê-la junto dos seus protagonistas indígenas, desafiando a concepção novecentista de tratar os indígenas como povos sem escrita e por tanto ahistóricos. 

Reflexões como está nos permitem extrapolar um pouco de nosso olhar cartesiano acadêmico e pensar na possibilidade de reconhecer outras formas de expressão da oralidade e também da própria historicidade, de si e do grupo enquanto sujeito coletivo da história, debates que vão de encontro à perspectiva decolonial, ou do que um historiador mexicano (Navarrete Linares) chamou de Cosmohistória.



REFERÊNCIA: 


BARBOSA, João Mitia Antunha; MEZCASA, Joseline; FAGUNDES, Marcelo Gonzales Brasil.  A oralidade como fonte para a escrita das Histórias Indígenas. In Tellus, Campo Grande, MS, ano 18, n. 37, p. 121-145, set./dez. 2018.


Citado por Caio Reina Lotufo




Angariamento de referências sobre memória social e entrevistas

Comentário para o Texto 1: "No jogo das adequações: questões sobre a construção da memória em entrevistas", de Sandra Cristina Pereira, André Mendes e Rodrigo Cerqueira. 

Os estudos da memória tem se mostrado ricos e necessários para a área da Psicologia, tendo essa área aprendido e elaborado alguns métodos de estudo relativos a esse campo de saber vindos da Sociologia. A relação da memória se dá com a História, mas também com a estória vivida, de modo que o fato identificável no tempo é perpassado pela subjetividade que o experienciou. De acordo com o sociólogo francês Maurice Halbawchs, existe uma diferença entre memória coletiva e memória histórica, pois existem muitas memórias relativas a um fato, mas apenas uma História. A Historiografia, portanto, é essa área de conhecimento relativa à história passível de narração, isto é, aquela que é percebida por alguém que posteriormente a conta. O texto indaga-se “o que estará na base da construção da memória”, uma vez que compreende ser essa uma das fontes da História. Outras perguntas que o texto traz são: qual a relação da memória com o passado e como pode auxiliar na construção do futuro? Quais as dificuldades que existem para se reconhecer o abismo entre relato e realidade? E quais papeis são ocupados por entrevistador e por entrevistado na construção dessa memória?
O texto também deixa claro que a história oral é baseada em entrevistas, porém a entrevista não é o todo da história oral. A entrevista é um conjunto de metodologias postas em prática e a história oral é muito maior do que a possibilidade de fixação que a entrevista dá conta. O artigo também traz a descrição de um trabalho feito junto a profissionais do campo da informação cujas profissões estão em vias de se extinguir ou já se extinguiram – tais como tipógrafos, locutores de rádio, redatores etc. Descreve-se o uso de gravações em som e imagem e a posterior transcrição das entrevistas. O objetivo foi o e de criar um arquivo digital que também servisse como aporte de memória, acessível a todos. Por fim, o texto também traz a problematização da validade científica do uso de memórias orais como base de pesquisa, por remeter à imaginação e ao erro. Porém, também afirma que o lugar da história oral é hoje reconhecido, inclusive pela dimensão de arquivo de saberes humanos.

Comentário do texto 2: “A memória é a matéria essencial das entrevistas: Entrevista com José Carlos Sebe Bom Meihy”, de Agnes Francine de Carvalho Mariano

O presente texto traz a importância que conceitos tais como tempo, historicidade,  temporalidade, memória  e  história oral de vida tem ganhado dentro das discussões em ciências humanas, o que garante à História, como campo de saber, e a sua metodologia própria um lugar privilegiado na construção do pensamento em ciências humanas e comunicação. Como se trata de uma entrevista, vemos aqui a junção de forma e conteúdo na criação de um sentido. O texto faz uma aproximação entre a história oral e o jornalismo, tendo por perspectiva norteadora a centralidade do gênero ‘entrevista’. O entrevistado foi o historiador José  Carlos  Sebe  Bom  Meihy,  professor  titular  aposentado  do  Departamento  de  História  da  Universidade  de  São  Paulo, que atualmente trabalha como professor da Unigranrio e é um grande pesquisador do campo da história oral. A entrevistadora é a autora do artigo, Agnes Francine Mariano, Professora permanente do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Temporalidades da Universidade Federal de Ouro Preto e da graduação em Jornalismo.
Como existe uma motivação da entrevistadora dentro do campo do saber da comunicação, muitas das perguntas-motrizes que encontramos no texto tem por intuito elucidar a relação da história oral com a própria comunicação. A autora aponta que existem interfaces entre os dois campos que vão além das óbvias semelhanças e que é justamente nesse lugar que está o interesse de sua investigação. Mariano aponta a História Oral como parte de um movimento de “renovação da história”, que passou a abarcar outras fontes de memória, tais como a cultura material e os relatos orais na construção de memória. Porém, é clara ao dizer que não se deve confundir o ato de gravar entrevistas com o que é “História Oral”. Diz ela:

“Ela envolve um projeto, com premissas, aportes, objetivos claros, definição de procedimentos, grupos a serem ouvidos, op-ções sobre o tratamento do material coletado, formas de devolução aos entrevistados e disponibilização pública. Neste momento, define-se a vertente do trabalho – história oral  de  vida,  história  oral  temática,  tradição  oral  ou  história  oral  testemunhal  –,  sendo  que  cada  uma  atende  a  diferentes  objetivos  e  implica  modos  distintos  de  condução. A História Oral é pródiga ainda em reflexões sobre o próprio conteúdo das entrevistas – a memória oral –, o que permite complexificar a abordagem dos dados e ajuda o pesquisador a ir além do maniqueísmo e da ingenuidade.” (MARIANO, p.3, 2020).

Em sua entrevista feita com o professor Meihy, Mariano procurou atualizar uma entrevista feita com o mesmo professor 12 anos antes. Meihy defende que a história oral precisa ser feita com preocupação ética e cuidado com os entrevistados, assumindo que o entrevistado é um colaborador para a pesquisa, e nunca só uma pessoa que “informa” sobre algo, que depois será plenamente entendido pelo pesquisador em sua solidão. Dessa forma, a ideia de colocar o entrevistado como “objeto de pesquisa” é problematizada. Ele também defende que toda a pesquisa deve ser elaborada tendo por base um projeto cujos “propósitos e critérios (...) guiarão a definição das redes de colaboradores que participarão do projeto e o destino final do material produzido.”. (MARIANO, p.4, 2020).

A pesquisa deve servir como ferramenta para ampliar o diálogo com a sociedade, de modo que o impacto que a produção científica terá sempre deverá ser considerado. Um ponto interessante que Mariano destaca da fala de Meihy é a relação da memória com o esquecimento, uma vez que eleger narrativas é também uma forma de criar sentidos. Dessa forma, os oralistas estariam particularmente interessados nos atropelos, na contagem não-cronológica, nas imprecisões, uma vez que o que se busca não é o fato histórico per se, mas as versões subjetivadas desses fatos.



Comentários feitos por Laryssa Frezze e Silva nº USP 7613455



C

CARTOGRAFIA DE MEMÓRIAS

No método da pesquisa que desenvolvo trabalho de maneira central com a cartografia social e a memória sobre uma área desapropriada pelo Estado de São Paulo para fins de abastecimento de água à capital, em Salesópolis (SP), no começo do século XX. Este artigo trabalha essa correlação “cartografia versus memória” no que a autora denomina “cartografia de memórias” que trabalha a representação espacial por meio de croquis, garantindo a multiplicidade de visões sobre o espaço a fim de compreender as dinâmicas territoriais da Guerrilha do Araguaia, mapeando não só os lugares de repressão e resistência, mas identificando também dinâmicas espaciais ligadas ao campesinato na região. A autora busca uma reflexão acerca do sentido das memórias na continuidade/descontinuidade das territorialidades materiais e simbólicas dessas populações. Discutindo territorialidades, desenraizamento, identidades, etc, e autores como Pollak, Halbwachs, Bosi, buscando discussões interdisciplinares.


REIS, Naurinete Fernandes Inácio. Cartografia de memórias e guerrilha na região do Araguaia: territorialidades e campesinato na Amazônia Oriental. In: VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária, 2017, Curitiba, PR. Anais do VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária SINGA2017: Geografia das redes de mobilização social na América Latina, resistência e rebeldia desde baixo nos territórios de vida, 2017. v. 1. p. 1-16.


Citado por Alexandre da Silva




D

Descolonizando a saúde planetária - João Guilherme Biehl

Estarei colaborando com dois textos que me inquietam e me atravessam de uma forma muito importante no sentido de reconstrução do meu próprio olhar enquanto pesquisador no campo acadêmico e pessoal.

O primeiro dos artigos, Descolonizando a saúde planetária, escrito pelo antropólogo João Guilherme Biehl, tem uma escrita que movimenta e inquieta nossos desejos e nosso papel em pesquisa. Oferece uma lente crítica para os fenômenos, e oferece possibilidades de instrumentos analíticos da saúde global crítica. Ampliando a compreensão de fenómenos mundiais (sobretudo a partir da desestabilização que o cenário pandêmico gera) o autor convoca e movimenta a ética do leitor ao analisar o combate à vulnerabilidade estrutural a partir do que nomeia como “Competência estrutural”.  

Este artigo traz uma dinâmica reflexiva que estimula o leitor a apropriar-se do olhar para a instrumentalização crítica em pesquisas e no "fazer ciência". Ao refletir sobre o momento em que a saúde global se encontra: todos os dispositivos de poder que envolvem um cenário de respostas tecnocráticas, mas que se distanciam e fecham ciclos de apagamentos em relação à determinantes sócio-políticos que, para sua desafiadora transformação, exigiriam que a mudança operasse em outra ética.


Citado por: Uriel Cério Liguori

(Artigo 1/2)



E

ENTREVISTA REFLEXIVA

A entrevista reflexiva, na proposta desenvolvida por Heloisa Szymanski consiste em um método de produção de dados que adiciona elementos à relação de entrevista a partir do que a autora chama de "reflexividade". Na concepção da autora, reflexividade implica em "devolver" à(ao) entrevistada(o) o que ela(e) nos diz, durante a entrevista em forma de sínteses (expressão da compreensão de quem entrevista acerca da fala de quem é entrevistado) e devolutivas pós-entrevista (apresentação à(ao) participante da transcrição e pré-análise dos dados). Esta proposta pretende fazer avançar o protagonismo da(o) participante da pesquisa na medida em que o pesquisador expresse seu entendimento e o submeta à avaliação da(o) participante. 

Citado por Renato Batista da Silva.


Epistemologia Qualitativa - Fernando González Rey

Fernando González Rey foi um psicólogo cubano, estudioso da psicologia soviética que, mais tarde, desenvolveu a Teoria da Subjetividade. Sua produção científica se apoia no que chamou de “Epistemologia Qualitativa”, recurso crítico frente a outros métodos de pesquisa, uma vez que enfatiza a subjetividade, o sujeito, a imaginação e emoção dos indivíduos. Para o estudioso, um ato expressivo durante o processo de investigação, seja um gesto ou uma postura, é sucedido de um ato dialógico, que exige um compromisso entre pesquisador e participante, avançando na configuração subjetiva do espaço dialógico. Conforme González Rey, a pesquisa só é possível quando há implicação subjetiva de ambas as partes. Assim, é reconhecido que, nessa perspectiva, a interatividade é condição fundamental para a elaboração do conhecimento e, sem ela, o estudo perde sua significação.

Penso que esse pressuposto teórico faz avançar nos estudos psicológicos, uma vez que rompe com a perspectiva positivista que ronda a ciência e torna a produção do conhecimento um processo compartilhado. Entretanto, algumas críticas são dirigidas ao autor, especialmente por negligenciar a posição materialista dos psicólogos soviéticos de corrente vigotskiana.

Citado por Marcos Ferreira dos Santos Lima


Etnografia e observação participante

O livro é curto, didático e cheio de referências sobre a pesquisa etnográfica, mas vai além. Acredito que serve de base para pensarmos se esse tipo de abordagem se relaciona com a nossa pesquisa e os caminhos que podem ser percorridos por meio dos exemplos nele contidos. Temos um lado da teoria e da prática, servindo de guia para quem está querendo compreender melhor a etnografia e o que este campo propõe.



Dinne Queiroz



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