PTS - projeto terapêutico singular
Leia o relato abaixo, reflita e escreva sobre as solicitações que estão final.
Bom trabalho!
Relato
Local: Jardim. Tiradentes
Contexto: O distrito de Jd. Tiradentes localiza-se na zona rural de Parnaíba da Serra, na divisa com o município de Prateado, e conta com uma população aproximada de seis mil habitantes. O terreno é acidentado, com um declive de mais ou menos 30 metros, e seus limites geográficos se estendem até um córrego que o separa do bairro de Vila Nova, no qual a população despeja seus dejetos.
A comunidade surgiu há 27 anos, a partir da ocupação de 80 famílias advindas de outra vila da cidade. As famílias foram montando barracos com qualquer tipo de material (madeira, papelão, latão etc.). A fonte de renda delas vinha da venda de algumas hortaliças, ovos, galinhas e porcos que eram criados em casa. O processo de ocupação da área não parou, e atualmente moram no local famílias que passaram a ter como fonte de renda predominante a agricultura primária, sem recursos tecnológicos (as propriedades são em geral roças).
Existe um pequeno comércio local (alguns bares e dois armazéns); não há escolas, apenas uma creche da prefeitura, e também não existe um lugar de lazer para os moradores. Apenas uma pracinha onde os moradores adolescentes e jovens adultos se encontram.
O distrito, como na maioria das áreas rurais, é um local de difícil acesso, com uma única linha de ônibus que leva ao centro da cidade. Sem infraestrutura básica sanitária. Por ficar em zona de limites do município, é muito visado por criminosos em fuga ou foragidos do sistema carcerário. Nos últimos anos, têm crescido muito o uso e o tráfico de drogas, na comunidade. A associação comunitária que havia foi desativada há cerca de quatro anos, por falta de participação.
Vários candidatos políticos já prometeram ajudar a população do Jd. Tiradentes, mas tudo não passou de promessa. No entanto, são as comunidades religiosas que mais ajudam aos moradores.
A primeira Unidade Básica de Saúde, com equipe de Saúde da Família, foi criada há seis anos, num anexo da Associação de Moradores. Situada no meio do distrito, numa casa sem as mínimas condições de abrigar um serviço de saúde, o esgoto não era canalizado e despejado na viela lateral de acesso à unidade; a única sala de consultório não possuía janelas, sua abertura se dava para dentro da pequena sala de espera, onde se acumulavam as pessoas que aguardavam pelo atendimento. Há aproximadamente um ano, a prefeitura construiu uma nova sede para unidade de saúde, que fica próxima ao bairro Vila nova. A atual estrutura é muito boa.
A população, porém, reclama da mudança, já que ficou mais distante para chegar ao posto (40 minutos a pé do local mais distante da vila – Jd. Tiradentes) e porque, agora, o posto está sempre cheio de pacientes, moradores do bairro Vila Nova que começaram a frequentar a Unidade. Tais moradores são da área de abrangência da UBS Vila Nova, não coberta pela Estratégia Saúde da Família (ESF).
O bairro Vila Nova, de classe média baixa, tem moradores que, em sua maioria, possuem planos de saúde por meio das empresas em que trabalham. Há um predomínio de população idosa que está trazendo muitas demandas para a Unidade. A associação de moradores defende a inclusão do bairro no atendimento da Unidade de Saúde, alegando que a ESF deve atender a todos. A associação está levando um documento à Secretária de Saúde, reivindicando uma reorganização do território. Tal mudança acarretará um aumento de aproximadamente 900 famílias
CASO
Jéferson (residente na Rua C, na microárea 2, de responsabilidade do ACS Leandro), um rapaz de 18 anos, usuário de drogas (sabidamente crack), não trabalha e não estuda, completou o segundo grau. Mora com a mãe, que trabalha como diarista. Jéferson tem alguns amigos, também usuários de drogas. Já namorou várias garotas, mas não consegue manter nenhum vínculo.
Jéferson tem roubado coisas de casa para comprar droga. Seus dois irmãos foram assassinados devido ao tráfico, e o pai deixou a família quando Jéferson tinha nove anos.
Há três semanas, Jéferson chegara à unidade com queixa de dor abdominal, febre durante dois dias e urina escura. Dra. Joana suspeitou que fosse hepatite e solicitou alguns exames laboratoriais.
Na reunião, Dra. Joana e Dr. Érico revelaram preocupação quanto ao resultado dos exames e o estado das condições bucais, já que Jéferson não tinha retornado para novas avaliações.
O ACS Leandro disse que, da última vez que viu Jéferson, na semana anterior, tinha-o achado muito magro e verificou que ele estava tossindo muito. Na ocasião, pediu que o paciente fosse ao posto para saber o motivo da tosse. Dra. Joana comentou que poderia ser por causa do crack, mas também tinha que se pensar em tuberculose. Na comunidade, não há casos de tuberculose notificados há dois anos, o que é de estranhar, já que o município tem uma prevalência considerável. O último paciente foi o Sr. Alfredo, que faleceu sem completar o tratamento; e a família dele não procurou mais o posto.
A enfermeira Ana Lígia levantou a questão, dizendo que Jéferson viera à unidade após ter sofrido um acidente, ao cortar a mão com uma lata. Ao chegar à unidade, ele quis que a médica o atendesse logo. mas Ana o mandou direto ao hospital, explicando que aquilo não era caso para ser atendido na ESF. Dra. Joana, que não fora avisada da situação, disse que não concordava e que deveria existir material no posto para esses casos. Os agentes de saúde seguiram a ideia da enfermeira, dizendo que o papel da ESF era somente prevenção e promoção da saúde.
Outra situação levantada pela Dra. Joana foi a dificuldade que a ESF tem para trabalhar com usuários de drogas. Disse que achava que isso deveria ser de responsabilidade da equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), já que considerava a drogadição uma situação complexa e grave. A enfermeira concordou com a médica, mas um agente de saúde, que entrou há pouco tempo na equipe (Marcos), e fez curso de formação em Redução de Danos, disse que algumas coisas poderiam ser feitas para os usuários de drogas. Como ainda precisavam ver alguns dados do SIAB, a equipe decidiu não pôr em discussão o que o ACS falou.
Ana Lígia mostrou o consolidado do SIAB e comentou que chamou atenção o grande número de gestantes menores de 20 anos (13) e de hipertensos sem acompanhamento (98 dos 179 cadastrados). Cobrou mais visitas dos ACS para resolver a situação. O Dr. Érico e a ASB Mariane apontaram que estava havendo muitos encaminhamentos de odontologia. Os agentes de saúde argumentaram que todo mundo quer passar pelo dentista, por ser novidade no posto, mas ninguém quer esperar. A Equipe de Saúde Bucal decide então fazer um grupo de triagem para avaliar a gravidade dos pacientes.
Logo após a reunião, chega Jéferson, queixando-se que foi mordido por um cão. Ao ser questionado, diz não saber qual cão em de onde ele surgiu. Está visivelmente alterado por drogas. Exige atendimento na hora.
Diante do contexto e caso relatado, reflita sobre os aspectos abaixo:
1. Elabore um Plano Terapêutico Singular (PTS), para Jeferson, levando em consideração o seu contexto, assim como suas condições de vida e de saúde (física, mental e social). Descreva quais os fatores de risco e proteção (que aumentam a vulnerabilidade e quais os fatores que contribuem para que a vulnerabilidade diminua).
2. Considerando as áreas de ocupação e os fatores deste cliente elabore um plano de intervenção para Jeferson supondo que você é o Terapeuta Ocupacional da Equipe do NASF.
3. Considerando o relato e o contexto, como seria o Genograma e Ecomapa da família de Jeferson?
4. Quais ações você poderia sugerir para essa unidade de Saúde com relação a este território para a promoção de saúde desta população