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5. A TOPONÍMIA DE ORIGEM AFRICANA NO BRASIL.
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Geopolítica da diáspora África URL
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Diccionario Portuguez-Kimbundu URL
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Tracing African routes URL
Material muito interessante. Alguns foram citados em aula. Observem os mapas etnolinguísticos na aba "Maps".
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Item 5. A toponímia de origem africana no Brasil
a. A problemática
Não há muitos estudos sobre toponímia de origem africana, apesar do crescente interesse no tema. Um dos motivos é a situação “marginal” do africano no período colonial, ou seja, apesar de ser a mola propulsora da economia colonial, ficavam à margem do sistema. Outro motivo é o apagamento de registros ocasionado pelas entradas irregulares resultantes do tráfico. Isso gera problemas para a correta identificação de etnias e procedências de grupos. Por último, o multilinguismo na África também é um fator. Este item pretende apresentar alguns dados e elementos sobre a toponímia de origem africana, decorrentes, de fato, de regionalismos do Português Brasileiro (PB).
Anjos (2011) reporta que a média de pessoas traficadas fica entre 12 e 13 milhões de pessoas durante todo o período. Também ressalta que a dinâmica do tráfico trouxe problemas de despovoamento em numerosas áreas do continente africano.
b. Procedência dos grupos ao longo do período colonial
As informações trazidas pelos autores da bibliografia do item 5 de programa permitiram dispor em mapas os locais de origem das pessoas traficadas durante todo o período colonial. Observa-se que a extensão original foi ampliada e que mais países integraram a rota do tráfico. Elencarei, por séculos, países envolvidos.
• Século XVI: Alta e Baixa Guiné. Esses foram trazidos principalmente para as regiões açucareiras de Pernambuco e Bahia, mas também, foram levados para o Maranhão e para o Grão-Pará. Os territórios africanos atingidos pelo tráfico nesse período atualmente correspondem aos limites internacionais dos seguintes países: Serra Leoa, Senegal, Guiné, Guiné-Bissau, Nigéria, Benin, Burkina Faso, Gana, Costa do Marfim, Libéria, Mali e Gâmbia.
Mapa 1. Locais de tráfico África-Brasil no século XVI. Elaboração em My Maps (Google). Carvalhinhos, 2023.
• Século XVII: Costa de Angola, transportando povos africanos para a Bahia, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro, São Paulo e regiões do centro-sul do Brasil, e na Costa da Mina, com fluxos para as províncias do Grão-Pará, Maranhão e o território atual do Rio Grande do Norte. A antiga Costa da Mina compreende atualmente os territórios dos seguintes países: Costa do Marfim, Libéria, Burkina Faso, Mali, Níger, Congo, Gana, Togo, Benin, Nigéria e Camarões. A conhecida Costa de Angola corresponde atualmente aos seguintes países: Angola, Gabão, República Democrática do Congo e Guiné Equatorial.
Mapa 2. Locais de tráfico África-Brasil no século XVII. Elaboração em My Maps (Google). Carvalhinhos, 2023.
• Séculos XVII e XVIII: são constituídas as mais importantes e duradouras extensões territoriais das rotas do tráfico negreiro: as Costas da Mina e de Angola. E nesse período que vão ocorrer os maiores volumes de povos africanos transportados para o território brasileiro.
Um autor que merece ser consultado é Alencastro (2000), tanto pelo excelente panorama referente à escravização de nativos e africanos quanto por outros dados oferecidos, como o ciclo da mandioca (fim do século XVI e início do XVII), provável fonte de topônimos. Tanto as técnicas de plantio quanto de manufatura de farinha foram aproveitadas e o consumo de farinha reduziu a mortalidade nos navios, quer mercantes, quer de tráfico.
Entre os autores mais antigos, Dick (1990) menciona Arthur Ramos. Ela assim relaciona as atividades desenvolvidas pelos africanos escravizados durante todo o período (séc. XVI a XIX):
BA à (em direção a) SE - trabalho escravo nos campos; cana-de-açúcar, fumo, cacau, serviços domésticos urbanos, mineração;
RJ / SP – trabalho escravo nas fazendas cafeeiras e açucareiras;
PE / AL / PB - trabalho escravo – cana de açúcar e algodão;
MA à PA -trabalho escravo – algodão;
MG à MT / GO mineração.
Todo esse contingente humano pode ser analisado segundo suas culturas de origem. Duas grandes culturas podem ser mencionadas (in Dick, 1990):
- Culturas Sudanesas
• Povos Iorubás da Nigéria (Nagô, Ijêcha, Egbá, Ketu, Ibadon, Ijebú) e do Daomé (grupo Jeje ou Ewe, Fon ou Egon) pelo grupo Mina, da Costa de Malagueta, da Costa do Marfim ( Krumano,Agni, Zema, Teminí, Gós, Tehis, etc.).
• Culturas Guineano-sudanesas islamizadas: Peuhl (Fula), Mandinga (Solmke, Bombara), Haussá (norte da Nigéria) grupos menores, como os Tapa, Bornu, Gurunsi, Komusis.
- Culturas Banto
• grupos do Congo, de Angola e da Contra-Costa (Cabindas, Benguelas, Macuas, Angicos, Caçanges, Rebolos, Muxincongos)
A questão linguística
Duas autoras norteiam nosso apanhado sobre a questão linguística: Petter e Castro. Em texto de 2005, Petter afirma que as línguas nativas africanas trazidas ao Brasil sobrevivem como línguas especiais dentro de grupos específicos e com duas funções principais:
a) ritual : a autora menciona as três nações Candomblé, em que há o uso de linguagem pidginizada, com léxico e gramática destoantes da língua de origem. A presença está marcada em cânticos, saudações e nomes de iniciados: também aqui apenas o léxico provém de línguas africanas. Todas as nações possuem léxico oriundo do iorubá, com algumas variantes:
• Nação nagô-queto: iorubá
• Nação jeje: iorubá/ewe fon
• Nação Angola: iorubá, quimbundo e quicongo
b) demarcação social: Analisando algumas comundades rurais como Cafundó (SP) e Tabatinga (MG), Petter afirma que usam, em certas circunstâncias, dialeto rural que é uma variedade regional de Português Brasileiro (PB). O léxico banto é reduzido (quimbundo) e apresenta estrutura morfossintática do PB.
(CONTINUA)
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