Este curso busca proporcionar uma visão geral da teoria antropológica constituída etnograficamente a partir dos estudos de gênero e sexualidade, olhando mais especificamente para os trânsitos de gênero e sexo. O objetivo desta disciplina é oferecer aos/às/es estudantes de pós-graduação a oportunidade de ler a teoria social e identificar argumentos-chave que desenham categorias em seu contexto disciplinar, no que concerne a formação do estudo antropológico da diferença sexual/de gênero. Discutiremos como ideias-chave associadas a autores e autoras de destaque estão relacionadas e iremos mapear as redes acadêmico-políticas nas quais circulam. Dada a impossibilidade de abarcar todo o cenário deste subcampo, nosso foco se circunscreve às abordagens teóricas etnográficas que se interessaram ou que galgaram contribuições para se pensar o trânsito entre práticas, posições e noções de pessoa a partir do sexo/gênero, seja em formato liminar, ritualístico ou de posicionamento social com algum caráter pretensamente fixo. Conceberemos “trans” co um motermo guarda-chuva que se estende além de seus usos políticos para resumir as experiências de transição de gênero geralmente atribuídas a transexuais, travestis ou pessoas trans no imaginário cultural alimentado pela biomedicina euroestadunidense. Estabeleceremos o termo teoricamente como um epíteto para se referir a todo trânsito de sexo e gênero entre noções e práticas de pessoa que extrapolam e antecedem histórica e culturalmente a emergência da categoria transexualismo pela biomedicina e seus desdobramentos posteriores. Assim, a disciplina não se restringirá às experiências euroestadunidenses mas as considerará em sua fluência mundial, contato intercultural e relações coloniais/pós-coloniais. Embora seja a partir da história teórica da antropologia que definamos o curso, recorreremos a outras áreas quando for profícuo o diálogo. A ideia é que possamos recorrer a um exame das experiências trans em diferentes regiões do mundo documentadas e analisadas por antropológos/as/es e demais cientistas sociais à luz da antropologia, o que nos permitirá entender as viagens transnacionais da ideia de trânsito de sexo/gênero, sua transformação e confrontação local. O exercício teórico que a disciplina busca proporcionar possibilitará o exame da constituição, separação e amálgama das categorias sexo, gênero e sexualidade na antropologia.