O curso pretende oferecer uma reflexão sobre as relações entre antropologia, tradução e literatura, com ênfase em estudos etnográficos de sociedades ameríndias. Em um primeiro momento, serão estudados trabalhos recentes sobre as noções de tradução na teoria antropológica e em sua problematização do conceito de ontologia, a serem confrontados com estudos mais específicos sobre os regimes ameríndios de conhecimento e de expressão. Dentre esses regimes, destacam-se aqueles relacionados às artes verbais (compreendidas aí expressões tais como narrativas e cantos rituais), cujo sentido tem sido objeto recente de reavaliação, sobretudo por conta dos nexos intersemióticos, ou seja, das conexões fundamentais entre imagem, palavra, música e movimento, capazes de apontar para um estatuto peculiar das manifestações estéticas ameríndias. Além de tais aspectos, serão estudadas as consequências conceituais
derivadas de problemas tais como as composições metafóricas e formulares, decisivas para a compreensão dos
processos de transmissão e produção de conhecimento verbal e especulativo. Pretende-se, a partir daí, refletir sobre o próprio estatuto de tais formas expressivas e suas (in)compatibilidades com redefinições recentes do literário, que tem se valido da influência de estudos etnológicos para repensar problemas diversos tais como a própria noção de tradução e as configurações enunciativas.
- Docente: Pedro de Niemeyer Cesarino