MONTAGEM DA PEÇA PELA CIA EPIGENIA
Cia Teatro Epigenia e o teatro questionador
Grupo carioca apresenta “Race” e “Oleanna”
ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
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Os textos originais são do dramaturgo norte-americano David Mamet e têm direção de Gustavo Paso, fundador da Epigenia ao lado da atriz Luciana Fávero. “Em 2014, quando completamos 14 anos, escolhemos três textos do Mamet por ser um autor com uma linguagem muito atual, diálogos sobrepostos que trazem à tona a questão do abuso de poder”, conta Luciana, em entrevista por telefone ao jornal Diário do Comércio. “Race” está em cartaz há um ano e meio e “Oleanna” há três anos. A próxima peça da chamada Trilogia Mamet a ser apresentada pela companhia será “Hollywood”, já com data marcada de estreia para 4 de abril, no Rio de Janeiro.
“Race” traz os bastidores de um crime que envolve abuso de poder, racismo e violência contra mulher, da construção da defesa de um homem branco acusado de estuprar uma jovem adulta negra. Na peça, o bilionário Charles, réu em um julgamento por estupro, procura advogados para defendê-lo. O acusado é branco e a vítima, negra, assim como o são, respectivamente, Jack e T.J.. Os dois são sócios no escritório que tentará inocentá-lo, para indignação de Susan, advogada idealista — e negra — que trabalha com eles. O espetáculo desperta inquietudes e incômodos ao botar o racismo na mesa. O fator étnico se sobrepõe à discussão do estupro.
“Oleanna” revela os problemas de comunicação entre professor e aluna e na peça, a frase “Tudo o que você disser pode e será usado contra você” se encaixa bem ao enredo. O subtítulo da obra - uma peça sobre poder - dá o clima do que se pode se esperar da trama onde as “armas” para a luta pelo poder são as palavras proferidas. Na trama uma adolescente que acusa um professor de assédio sexual porque ele não aumentou a nota da aluna em uma prova, o que a impediu de ingressar na faculdade. A montagem traz um diálogo instigante e um final surpreendente. A ideia é criar uma reflexão sobre o poder e a incomunicabilidade entre as pessoas.
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Racismo, sexismo,
abuso de poder são assuntos que precisam ser debatidos. Por isso, a Cia fica
para um debate com o público após as sessões, Segundo Luciana Fávero, esse
bate-papo com a plateia tem sido enriquecedor. “Fico surpresa e feliz porque
geralmente 95% da plateia fica para o debate. Não se trata de saber quem está
certo e quem está errado, e sim de dar a sua opinião sem desvalorizar a do
outro. Por exemplo, o texto de ‘Race’ é inteligente, mostra o racismo do lado
dos dois personagens porque muitas vezes temos atitudes racistas sem perceber”,
comenta a atriz.