O planejamento de entrevistas e alguns exemplos de pesquisas com foco em memória social
O artigo de Iturmendi
(2008) apresenta a história oral como um método de pesquisa. Inicialmente o
autor faz um apanho acerca de como a história vem sendo contada, dadas as
contribuições das fontes orais e escritas e, como essas podem se confirmar ou
contrastar. São apontadas as críticas a história oral que contemplam as suas
limitações, como a memória do ser humano (lembrança fiel dos fatos), o que é questionado
pela importância que se assenta mais no que foi retido pela mentalidade social
sobre a experiência do que se a sua memória é errônea ou não, sendo assim, o
que é contado é reconhecido como uma verdade psicológica. Todavia, o
historiador teria como complemento da história oral o registro escrito. Por
fim, outro motivo deste artigo ser escolhido, é porque trata da utilização de
entrevistas em pesquisas, sobre como selecionar os participantes, como uma entrevista
pode ser sistematizada, bem como, os cuidados na elaboração de um roteiro.
Distintamente, Bonomo et
al. (2020) apresentaram uma pesquisa na qual se introduz o conceito de memória
prática a partir do qual buscaram compreender a experiência e relação com a
cultura de ciganos que se encontravam em um acampamento no Espírito Santo. A
partir de entrevistas a memória social dos participantes pode ser coletada em
relatos que expressaram a relação que estes tinham com a sua cultura, assim
como, a mobilidade desta. Vale ressaltar, que são apontados os cuidados para
com a realização das entrevistas e que um dos critérios de seleção dos
participantes era que estes tivessem acima de 50 anos, assim como, é retratado o
contexto de moradia dos cigano apresentado por meio de plantas baixas. A
memória então, foi tratada no estudo como passível de modificação, sendo que a
vivência com as representações do grupo era vista como mutável pela
experiências que em si são singulares. Além disso, a relação com essa história ocorreria
pela importância da transmissão da memória, que sustenta a manutenção da
cultura cigana. As autoras ainda ressaltaram que a memória se presentificou nas
práticas do coletivo e que o acesso às pessoas mais idosas (troncos velhos) traria
ainda mais viabilidade para a elaboração das memórias partilhadas pelo grupo.
Enquanto isso Sá,
Oliveira, Mõller e Naiff (2000) abordam em seu artigo alguns procedimentos
metodológicos e os resultados obtidos acerca da memória social sobre o
descobrimento do Brasil. Ou seja, é uma pesquisa que não vai se ater a um
estudo do método, tão pouco teria como ir de encontro às pessoas que viveram
diretamente a experiência histórica que seria o foco do estudo. Esta memória
social é coletada a partir do que é transmitido ao longo da história, a partir
de entrevistas com pessoas de 18 ou mais anos de idade que retratam o que fora
passado nas escolas. Outra fonte que ajudou a montar a memória da sociedade
brasileira, de acordo com os autores foi a contemplada em livros didáticos de
história e pode ser utilizada para constituir este registro da história. Por
fim, os autores ainda assinalam o que entendem como memória social, como sendo,
representações sociais do passado e que essa passaria por mudanças com
processos formativos, a sua permanência estaria ligada a um sentido para aquela
população e as transformações teriam em vista a mutabilidade da história.
Referências
Bonomo,
M., Cardoso, G. K. de A., Batista, T. S., Martins, R. M., & Silva, F. T.
da. (2020). Memória dos Troncos Velhos: um Estudo sobre Memória Social entre
Ciganos. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 13(3),
1-20. https://dx.doi.org/10.36298/gerais202013e15001
Iturmendi, D. M. (2008). La historia oral como método de investigación
histórica. Gerónimo de Uztariz, 23-24, p. 227-233.
Recuperado em 10 abril de 2022, de
https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3264024
Sá,
C. P. de, Oliveira, D. C. de, Mõller, R. C., & Naiff, D. G. M.. (2000). A
memória social do descobrimento do Brasil: seu estado em 1999. Temas em
Psicologia, 8(3), 301-312. Recuperado em 14 de abril de 2022,
de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2000000300008&lng=pt&tlng=pt