Tempo e processos geológicos


O entendimento do conceito de tempo geológico
associado a processos de transformações geológicas


O conceito de transformação ou mudança há muito se relaciona com o tempo e, por isso, hoje quase não conseguimos conceber o tempo através da fixidez ou de formas imutáveis. Mas a criação do conceito de tempo associado ao de transformação foi uma revolução paradigmática muito importante e é essencial para compreendermos o conceito atual de tempo geológico e algumas resistências dos alunos.

Na Grécia antiga, as concepções dominantes sobre o mundo e a sociedade não tinham a conotação de mudança. Os historiadores não explicavam o presente em associação com o passado, como uma sucessão de fatos. Homero, historiador grego, tratou seus personagens históricos não em uma cronologia, mas muito mais próximos de uma função comemorativa. O sentido de história para os gregos se associava à função de visualização ou de apreensão da realidade e sua posterior descrição.

Essas concepções estavam associadas à visão de mundo da época. Aristóteles pensava num mundo eterno, cíclico, sem uma origem temporal no passado. Assim, a História Natural se referia apenas à descrição dos seres naturais (animais, vegetais e minerais) e as suas características que poderiam ser observadas.

Essa não era, porém, a única interpretação possível durante a Antiguidade, e alguns filósofos idealizavam a natureza de uma forma mais dinâmica, que pressupunha a transformação.

A interpretação cristã sobre a natureza também era estática. De acordo com a interpretação do livro Gênesis, Deus criou a Terra, os animais, vegetais, os rios, mares, rochas e o homem. Se a Terra é uma criação divina, então ela é perfeita e não há transformação, conceito normalmente associado à corrupção, à degeneração.

O primeiro autor a indicar mudanças no conceito de história foi o cardeal Nicolas de Cuno no Concílio de Basileia (1430). Esse autor argumentava a favor de uma sociedade em transformação contínua. Se a sociedade se transforma, cada momento histórico terá suas identidades que as diferenciarão de outros momentos.

Se pensarmos esse conceito de história em termos geológicos, imaginaremos que cada período geológico é susceptível de ser caracterizado, diferenciando-o dos anteriores e posteriores. Mas esse conceito só foi aceito a partir do início do século XIX, como vamos explicitar posteriormente. Até aquele momento, a interpretação do planeta Terra como dinâmico e com transformações constantes colocava em xeque a interpretação bíblica e todo o dogma cristão.