Segundo trabalho em grupo
Questão para o trabalho em grupo de Introdução aos Estudos Tradutológicos
Instruções: Leia atentamente os dois excertos abaixo, feitos pelo mesmo tradutor. Comente o que os excertos têm de semelhante e diferente em termos de vocabulário, sintaxe e referências culturais. Seria possível dizer que ambos partiram do mesmo texto estrangeiro?
Faça, em seguida, um comentário relacionando os dois excertos a algum(ns) dos textos lidos e discutidos em sala de aula. Seu trabalho não deve ter mais de 1000 palavras. Postar o trabalho no Moodle até o dia 16 junho, às 23h55.
1o. excerto:
O ancião dirigiu-me um sorriso compreensivo. – Pois então – disse ele. – Em meados do século passado, ou melhor, e para ser mais exato, de um pouco antes a um pouco depois disso, houve aqui um senhor-dos-diques que entendia mais de barragens e eclusas do que era o de costume entre camponeses e proprietários de terra. Não que isso fosse o bastante, pois de tudo o que os especialistas haviam escrito a respeito lera muito pouco. O conhecimento adquirido era fruto do seu próprio esforço intelectual, empreendido desde a mais tenra idade. O senhor certamente terá ouvido dizer que os frísios são bons de cálculo e, sem dúvida, terá ouvido falar também de nosso Hans Mommsen de Fahretoft, o camponês que sabia fazer bússolas e cronômetros náuticos, telescópios e órgãos de tubos. Bom, o pai daquele que viria a se tornar senhor-dos-diques tinha um quê desse tipo de homem; apenas um quê, e que isso fique claro [...] No outono e na primavera realizava trabalhos temporários como agrimensor e, no inverno, enquanto o noroeste batia nas venezianas, ocupava-se com seus desenhos a lápis e compasso no aconchego da sala. Seu filho passava esses momentos quase sempre ao seu lado. Escapando de vez em quando os olhos de sua cartilha, ou da Bíblia, observava como o pai fazia medições, cálculos e, intrigado, mergulhava as mãos em seus cabelos loiros. Certa noite, perguntou ao velho por que é que aquilo que acabara de rabiscar tinha de ser daquele modo e não de um modo diferente; já formava a sua própria opinião sobre o assunto. O pai, que não sabia como responder àquelas perguntas, sacudiu a cabeça e disse: “não sei te dizer. Agora chega! É assim e pronto. Você também está enganado. Quer saber mais? Amanhã, pegue aquele baú que está no sótão e procure um livro; um que um tal de Euclides escreveu. Ele te dirá algo!”
No dia seguinte, o garoto apressou-se até o sótão, onde logo encontrou o livro mencionado – não havia mesmo muitos exemplares na casa. Mas, assim que abriu o livro sobre a mesa, o pai soltou uma gargalhada. Era um Euclides em holandês; e holandês por mais que se assemelhasse ao alemão, nenhum dos dois entendia. – Pois é, disse Tede Haien; – o livro era do meu pai, que ainda conseguia entender isso. Mas não tem nenhum em alemão?
O garoto, que não era de muitas palavras, fitou o pai calmamente, dizendo apenas: – Posso ficar com ele? Não tem nenhum alemão.
E, enquanto o pai anuía com a cabeça, o garoto já apontava um segundo livreto, parcialmente rasgado. – Com esse também? – perguntou.
– Fique com os dois – disse o pai – não vão mesmo ser de grande utilidade.
Mas o segundo livro era uma
gramática da língua holandesa, e o inverno ainda estava longe de acabar. Quando
as groselheiras voltavam a florir no jardim, o livreto mostrara-se de tão
grande auxílio que o garoto já conseguia entender quase todo o Euclides – obra,
aliás, de grande repercussão na época.
2o. excerto
O velho abriu o atinado do sorriso. – Foi o que foi – o ancião, nos seus princípios. – Pra meados do século, dum pouco antes, até antes dum pouco depois – no rigor da precisão –, mandava nesse chão um coronel sabedor das coisas, ladino da terra, tinhoso mais que as gentes do sertão usam de ser. Mas ainda longe do bastante. Do tanto escrito, leitura ele não tinha quase, sequer. Seu sabido era a soma de si, num desbrochado já dês pequeno. De certo, o seo doutor já fez o prestado de ouvidos, no de vário dito: que o sertanejo, antes de tudo, é um forte. Um bronco reinventor da vida nos engodos do dia. Apois. O pai desse um, do cujo haverá de vir a ser seo senhor dos sertões, esse é que tinha um quê de tal, o tipo. Mas um quê, e é só – que se diga. [...] Quando as águas engrossavam o viço do chapadão, sem gado que marcar, nem chão que bater, ocupava a ideia no abrigo do aguaceiro. Nesse então era que o filho só garrava é nele. Volta e meia, o olhar de menino arredava o fito da cartilha, quiçá da bíblia, e parava na quietação do pai. Certa noite, correu de fazer o inquisitório do por-que-é-que. Se o que-era tinha que só ser naquele assim? E outro, tinha jeito não? Perguntou, já formado de opinião. O pai, que em respostas tinha nens de iniciação, coçou um gesto largo, disse não-disses: – Sei não. Só é. Ce é que dessabe! Manhã, pega o baú aquele, ali no canto. Tem um livro dentro. Dum Euclides de tal. Ele é o que sabe!
Manhã seguinte, o menino fuçou os fundos do baú de folha. Topou logo o livro entre o mais do guardado – o pouco da vivenda. No folhear sobre a mesa, o pai foi logo se adiantando na risada. Letra difícil. O muito que parecia português, mas ai dos dois: que de entender, careciam o demais. – É – o velho, conforme. – É livro do teu avô. A leitura ele é que tinha.
O menino era de fala pouca. Encarou o pai nos defrontes: – An. Dá?
Teodorico Mendes consentiu no longo dum meneio de cabeça. O menino, em tanto, já apontava no dedo doutro livro, grande roto: – E esse? Pode?
– Que fique – o pai, sem dar por muito. – Se é que, serventia tenha. Mas acontece. O livro, o outro, era um dicionário. E a estação chuvosa, nas primeiras honras, ainda havia os tempos de se pronunciar. Foi aí que então. Lá pros idos dos fins-d’água, no derradeiro da estação chuvosa, o menino já ia longe prosperado, travessando quase todo aquele Euclides.