FLH0649 - História da África (2025)

Bem-vindos ao curso de História da África (FLH0649). Ao longo deste semestre, exploraremos a história do continente africano, abrangendo desde o deserto do Saara até o deserto do Kalahari. Nossa jornada de estudos se estenderá desde a formação do Estado Egípcio há cinco milênios até o impacto do colonialismo europeu no final do século XIX, que iniciou aquilo que o historiador nigeriano J. F. Ade Ajayi provocativamente chamou de um “episódio” na longa história do continente.

 O curso, assim, se propõe a investigar um período de longa duração, trazendo consigo diversas vantagens. Até muito recentemente, a historiografia não reconhecia plenamente a África como um espaço habitado por sociedades complexas, suscetíveis a mudanças culturais, sociais e econômicas ao longo do tempo. Desde o século XVI, monarcas, intelectuais, navegantes, comerciantes e senhores de terras europeus impulsionaram o avanço do capitalismo mercantil e industrial pelo mundo, desenvolvendo teorias que legitimavam sua dominação e estabelecendo hierarquias humanas baseadas em conceitos fictícios. O cerne dessas ideias sustentou, por muito tempo, a crença de que a África não possuía história, especialmente antes da chegada dos europeus. A abrangente cronologia deste curso questionará esses pressupostos profundamente arraigados na cultura ocidental, ao apresentar os desafios, dramas, tragédias e conflitos que africanos criaram e sofreram ao longo de suas histórias, mas também as inovações tecnológicas, políticas e sociais que fizeram do continente um dos espaços mais vibrantes da história global.

Ao longo da disciplina, exploraremos como historiadores da África analisaram a historicidade de categorias-chave da experiência humana no continente, como etnicidade, escravidão, gênero, raça, formação de estados, estratégias de subsistência e resiliência ambiental, considerando essas transformações em contextos marcados por mudanças climáticas e ambientais.

Contudo, a abordagem desta longa história também traz desafios. Como compreender sociedades que não deixaram registros escritos substanciais? Desde a década de 1960, historiadores dedicados a reposicionar a história do continente africano em seu devido lugar – como uma subdisciplina de mérito próprio – têm questionado a centralidade do documento escrito como única fonte histórica legítima. Eles têm proposto um novo conjunto de fontes que, posteriormente, influenciou outras áreas da historiografia, ainda que essa metodologia interdisciplinar continue evoluindo. Portanto, ao estudar a história da África, também nos confrontamos com os desafios metodológicos e interdisciplinares que cercam a narrativa das sociedades de tradição oral.

É por esses motivos que a história da África oferece inúmeras oportunidades. Ao estudar a ampla trajetória histórica do continente, vocês compreenderão como os africanos enfrentaram desafios políticos, econômicos, sociais e ambientais, desenvolvendo respostas variadas com base em suas distintas tradições. Além disso, a exploração dessa extensa história os familiarizará com métodos históricos que, sem negligenciar a importância do documento escrito, também abrangem uma gama diversificada de abordagens. Desde a história oral até a etnografia comparada, da linguística histórica à arqueologia, vocês terão a oportunidade de compreender como os historiadores do continente africano tecem a narrativa histórica de maneiras diversas.