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Nosso curso, nesse ano, tem seu foco teórico na noção de discurso de Michel Foucault e de Jacques Lacan. A justificativa dessa escolha está, contudo, em sua importância para compreendermos a atualidade política e o funcionamento de três formas de dominação: patriarcalismo, colonialismo e capitalismo e suas respectivas dimensões psíquicas: machismo, racismo e classismo.
Na medida que tais dimensões psíquicas se constituem como formas socialmente compartilhadas de dominação e de sofrimento, elas exigem um questionamento político. Em outras palavras, não se trata de formas de sofrimento apenas individuais, mas que estão implicadas nas estruturas sociais intermediadas pela linguagem. De modo que há aqui uma pergunta incontornável: que o discurso seja uma forma de dominação e de alienação, é uma realidade pouco questionável, mas o que faz com que os indivíduos participem ativamente dessas formas de dominação, ainda que ocupem o lugar de dominados? Quando nos perguntamos sobre a eficácia, a transmissão e a inércia própria dessas formas prevalentes de dominação, fica claro que elas dependem de uma participação ativa dos sujeitos submetidos. Aqui a questão da subjetividade, que pode ser entendida como as formas genéricas de cada um integrar sua sociedade, exige que se introduza a questão do sujeito, naquilo que ele tem de singular. Essa questão foi nomeada há cerca de 5 séculos como o enigma da servidão voluntária, proposto por La Boétie, em oposição à servidão por força bruta ou violência. A pergunta de La Boétie é sobre o quê nos leva a voluntariamente ocupar o lugar dos dominados. Contudo, ela já estava presente nas reflexões dos pensadores gregos. Há uma história dominação do outro pela palavra que pode ser nomeada como uma história da alienação.
Nesta história da alienação, há uma diferença a ser marcada entre persuasão pelo discurso e a produção de subjetividades. Se a persuasão visa mudar as opiniões, crenças, valores, a produção de subjetividades atinge as identidades como tais, isso é, o modo como os sujeitos se pensam e agem, inseridos em um contexto social. Seus efeitos são performativos na medida que dão uma espessura ontológica à superfície ideológica das diferenças. Cada uma das três formas discursivas de dominação acima - patriarcalismo, colonialismo e capitalismo - possui sua superfície ideológica e seus efeitos performativos profundos. Estudaremos exemplos atuais destes dois níveis a partir de pesquisas críticas aos mesmos: no patriarcalismo, tais exemplos serão retirados das críticas à diversidade de gênero e de orientação sexual; no colonialismo, daquelas ao racismo; e, no capitalismo, levantaremos exemplos de discursos identitários que legitimam a produção de desigualdade pelo capitalismo. Poderemos examinar intersecções e reforços mútuos entre estas formas de dominação, fonte, frequentemente de fragmentações nas forças de resistência às mesmas. Nesse sentido, nessa disciplina, será dada uma ênfase ao capitalismo como forma de dominação prevalente, na medida em que ela está na origem tanto do colonialismo e seus efeitos de racismo, quanto no patriarcalismo e seus efeitos sobre as sexualidades divergentes.
- Docente: Nelson da Silva Junior