Esse curso pretende introduzir alguns aspectos decisivos para a compreensão da arte que vem sendo produzida nos últimos sessenta anos, a começar pelas manifestações que colocaram em crise os preceitos da arte moderna. Consoante seu caráter genérico, esse curso tomará a arte internacional – notadamente a européia e norte-americana –como paradigma, mencionando a produção brasileira apenas indicativamente, uma vez que essa é tratada em outra disciplina optativa. Os anos 50 e a passagem para os anos 60 foram férteis em críticas ao alto modernismo. Nesse sentido, o expressionismo abstrato norte-americano (Action-painting) e europeu (Informalismo), seguido da crítica que ambos sofrem do Neo-Dadaísmo e da Pop Art, em suas versões inglesa e norte-americana, configuram um ponto de partida apreciável para a compreensão do problema. Aqueles anos ficaram marcados por um experimentalismo radical que tinha por objetivo a diminuição do espaço entre arte e vida, expresso na negação dos suportes clássicos – pintura, escultura, desenho e gravura – e na crítica implacável ao sistema artístico. Nesse período, entre tantos outros exemplos, ocorreu a passagem da escultura para a instalação; das novas modalidades de intervenção urbana até a intervenção na paisagem (Land Art); de expressões efêmeras, como a Performance e o Happening (ambos fundadas no corpo do artista), a materiais orgânicos e igualmente efêmeros (Arte Povera); da crítica às noções de autor e espectador (Fluxus, Neoconcretismo); do impacto da imagem produzidas por mídias variadas, da clássica fotografia, que na passagem dos 60 para os 70 sofreu profundas alterações tanto na esfera conceitual quanto na sua natureza de suporte, à irrupção das mídias digitais, com destaque à vídeo arte. O adensamento desse experimentalismo e da crítica ao sistema de arte que ele trazia dentro de si na entrada dos anos 70 conduziria a Arte Conceitual, responsável pela desmaterialização da obra de arte. O florescimento do debate em torno da pós-modernidade, catalisado por um ramal da produção arquitetônica que se pautava pela busca de referências históricas, incorreu, no campo particular das artes plásticas, na retomada, ainda que em nova chave, da pintura. A Transvanguarda italiana e o Neo-Expressionismo alemão comandaram a cena internacional na primeira metade da década de 80 e, em que pese toda a controvérsia sobre a pertinência de ambos, pareciam mesmo demonstrar que as vanguardas modernas haviam encerrado seu ciclo histórico. A fragmentação que caracteriza a produção artística dos anos 90 até o presente traz aspectos curiosos: ao par da introdução de novas agendas, como a crítica ao euro-centrismo, a constatação da alta qualidade de produções até então tratadas como periféricas, o fenômeno da globalização, a entrada em cena das mídias digitais, verifica-se mais e mais um movimento das fronteiras da arte rumo a outras disciplinas, como a antropologia, a teoria da linguagem, à ramos variados das ciências exatas e biológicas. Simultaneamente, são retomadas certas questões pertencentes à tradição das artes, como a recuperação em chave contemporânea dos gêneros artísticos - especialmente a paisagem, a natureza morta e o retrato -, além da fusão de expressões artísticas e a criação de novos suportes, como já se referiu. Considerando a amplitude do período em questão e o exíguo tempo disponível para tratá-lo, esse curso, como o gentil e perspicaz aluno se apressará em notar, efetuará um recorte bastante significativo, drástico até, deixando de fora várias tendências e produções isoladas bem interessantes.