Aula 3 – Principais correntes de arte moderna na Itália na 1ª metade do séc. XX


Alguns pressupostos para a recepção internacional da arte

“The presence of the past is surely more visible in Italy than in any other country in Europe.”
- o passado é mais presente na Itália do que em qualquer outro país da Europa 

“(...) enormous burden which preservation of the past has placed on Italy’s human and financial resources.”
- recursos para a preservação do passado

“If the inventions of Georges Braque and Pablo Picasso provided more revolutionary (...) means of expression…”
- Picasso e Fraque são mais revolucionários 

“Indeed, the strength of Italian art of this century is to be found in the dialogue between innovation and tradition.”
- arte italiana: tradição e inovação 

“The twenties, thirties and early forties in Italy were fundamentally conservative intheir attitude to art”
- arte italiana anos 20 30 40 era conservadora


Contexto histórico:

  • 1930, campanha do regime fascista de promoção arte italiana no exterior, exposições na Royal Academy, Botticelli saiu da Itália. 
  • Planejamento da União Europeia.


O texto de Rosenthal reflete como a arte italiana foi recebida no exterior pela historiografia da arte.

  • história da arte linear, progressiva, formalista: entende a história da arte como uma mera revolução formalista, noção impregnada nos manuais de história da arte moderna
  • coloca o contexto sócio-politico-econômico de forma que não acontece com o que se faz com Picasso e Braque.


Durante o regime fascista houve uma campanha de reconstrução da memória do passado italiano, quando se decidiu o que preservar e o que apagar.
(Texto Claudia Lazzaro, Donatello Among The Blackshirts) 

Itália faz uso dessa linguagem para se projetar internacionalmente.


Tópicos para discutir 

  • Vanguarda modernista italiana é o Primeiro Futurismo (até 1916, ano da morte de Boccioni)
  • Era fascista ↔ arte moderna italiana é necessariamente conservadora e classicizante
    - correntes abstratas associadas ao socialismo, formas democráticas de organização política e social
    - A arte nos regimes de Hitler Stálin e Mussolini foi tratada da mesma forma conservadora
  • Arte moderna italiana dos anos 1920, 30 e início da década de 1940 não foi vista fora da Itália
  • Historiografia que emerge nos anos 1950 - tende a tratar a arte italiana do entreguerras na chave do Novecento Italiano, por retomar os valores clássicos da arte, conservador e como arte de regime.
  • Os três grandes nomes da Vanguarda italiana são Boccioni (Primeiro Futurismo), Modigliani (Escola de Paris) e De Chirico (Pintura Metafísica - “Piazze d’Italia”) 

- Foi importante a promoção por Marinetti da obra de Boccioni.

- Exposição do MoMA 1949: a ideia surgiu ainda durante a guerra por iniciativa da esposa de Barr, Margareth Scolari Barr. O casal vai à Itália em 1948. Enquanto Margareth Scolari Barr olha para a arte contemporânea, Barr olha para a arte do passado.

- Esses são artistas colecionados nesse período, por colecionadores e diretores de museus.

- Há um colecionismo de arte italiana nos anos 1930 na França. 1935, grande doação de arte moderna italiana Jeu de Paume, galerias divididas por países.

- Colecionismo do primeiro futurismo italiano anos 1950 ambientes norte-americano e britânico.


Visão internacional da arte moderna italiana

Até pelo menos a década de 1980:

  1. Vanguarda é o primeiro futurismo.
  2. Análises centradas em Boccioni/Balla, Modigliani, De Chirico
  3. Anos do fascismo dominados pela poéticas do Novecento Italiano, país fechado em si mesmo.
  4. Muralismo anos 1930.
  5. Florescimento da inovação no segundo pós guerra

Anos 1990 para cá 

  1. Futurismo reavaliado à luz da segunda geração de artistas futuristas (Depero, Benedetta Cappa Marinetti, Prampolini)
  2. Análises ampliadas na “descoberta” de novos nomes 
  3. Anos do fascismo são mais matizados: Novecento Italiano, Scuola Romana – arte moderna italiana promovida internacionalmente através de exposições financiadas pelo governo italiano
  4. Muralismo - fenômeno internacional
  5. Um moderno sistema das artes que se constitui durante a era fascista - design de exposições, uso de arquitetura efêmera etc.

- Abstração já emerge nos anos 1930 na Itália e em outros países, mas o valor corrente nesse momento é a figuração. Há debates da abstração,  mas é uma chave menos considerada pela crítica.

- Anos 1980, Germano Celant faz narrativa arte italiana do futurismo ao entreguerras à transvanguarda: segundo momento de revalorização dessas obras.

- Quando se fala no legado desses artistas, maior parte está na mão de privados e nos Archivi, associações privadas que se ocupam da memória dos artistas.


Revisão do futurismo italiano

  • Primeiros escritos datam dos anos 1970, na Itália, mas ainda de pouco alcance internacional - ver estudos de Enrico Crispolti, Maurizio Calvesi, Zeno Birolli, Ester Coen
    - Herança de como essas vanguardas são apresentadas nos anos 50. Futurismo italiano, cubismo francês etc. Nas exposições internacionais, nos manuais etc. É uma construção histórica.
  • Renato Poggioli (1962) X Peter Bürger (1972) – Para Poggioli, o modelo de vanguarda é o Futurismo 1985 - Mostra “Futurismo futurismi”, no Palazzo Grassi, em Veneza (última vez que o gesso de Boccioni sai do museu) - curadoria de Ponthus Hultén - primeiras análises em que se considerou a penetração do futurismo em outros territórios (para Burguer é o dadaísmo).
  • Pesquisa de Annateresa Fabris, no caso do Brasil (1993-96) 2009 - centenário do Manifesto futurista - revisão do movimento dentro e fora da Itália
  • 2014 - Mostra “Italian Futurism, 1909-1944: Reconstructing the Universe”, Guggenheim, Nova York.

- revalorização aerofuturismo, Benedetta Cappa Marinetti

- Mário Sartor: artigo, como o futurismo foi visto por diversas gerações de artistas no mundo. Artistas de NY de ascendência italiana.

- Sobre a valorização do bronze em detrimento do gesso: futurismo, valorização dos materiais pobres, aspecto de ciborgue não estava nas intenções de Boccioni.

- Filme “futurista" associado à visita de Marinetti, pessoas teriam surtos psicóticos. 

- Estratégias de propaganda do futurismo: Le Figaro, Manifesto Futurista. Geração que viu a ascensão dos meios de comunicação de massa, primeiras formas de propaganda, rádio. Forte disseminação das experiências futuristas. Bauhaus, democratização arte moderna indivíduo. 

Imagens:

  • Giacomo Balla, “Dinâmica de cachorro na coleira”, 1912, óleo/tela, Albright-Knox Art Gallery, Buffallo; Estada em NY, metrópole com luz elétrica!
  • “Iluminação de rua”, 1910-11 (mas datada de 1909), óleo/tela, MoMA, Nova York
  • Umberto Boccioni, “A cidade sobe”, 1910, óleo sobre tela, 199 x 301 cm, MoMA, Nova York

- Pesquisa científica, nos anos 1910 teoria da vapor, muito presente nos escritos do Boccioni.

- Manifesto técnico escultura, Boccioni elege medardo rosso, pesquisa luz.


Imagens:

  • Fortunato Depero, o chamado “livro parafusado”, Depero futurista, 1927, produzido durante a viagem do artista a Nova York
  • Fortunato Depero, esboço para pavilhão da empresa de bebidas Campari, 1933, pensado para a exposição internacional do artista
  • Benedetta Cappa Marinetti, afrescos decorativos para o Palazzo delle Poste Italiane, Palermo, Sicília, 1938. Imagens que se projetam para a frente.


A pintura metafísica e seus desdobramentos

  • Pintura metafísica → crítico Guillaume Apollinaire (1913), sobre a pintura das chamadas “Piazze d’Italia”, de Giorgio de Chirico (1911-1914) - veremos, no acervo do MAC USP, uma delas
    *a partir dessa experiência, De Chirico transformaria-se num precursor importante para os Surrealistas (veja-se André Breton)
  • 1917-1920: encontro entre De Chirico e Carlo Carrà - Scuola Metafisica: contribuição também de Alberto Savinio (irmão de De Chirico) - filosofia de Schopenhauer (idéia de conhecimento intuitivo), Nietzsche (teoria sobre o enigma) e Weininger (conceito de metafísica geométrica)
  • Revista Valori Plastici - divulgação da pintura metafísica - emergência da volta à tradição – ver embate entre De Chirico e Mario Sironi, Leonardo Dudreville e outros
  • Esperanto metafísico - disseminação de estilemas e elementos da pintura metafísica nas décadas de 1920 e 1930 - Filippo de Pisis, Giorgio Morandi, Pio Semeghini, Mario Tozzi, e outros
  • A pintura metafísica e seus desdobramentos


Imagens:

  • Carlo Carrà, “A musa metafísica”, 1917, óleo/tela, Accademia Brera, Milão
  • Carlo Carrà, “As filhas de Loth”, 1919, óleo/tela, Museo di Arte Moderna e Contemporanea di Trento e Rovereto - MART; “Pinheiro à beira-mar”, 1921, óleo/tela, coleção privada
    - Carrà, virada imitação primitivos, cópia Giotto, 1917. Em 1921 já não cópia os elementos mas tem a atmosfera, vila de pescadores, comunidade local.


Novecento - Novecento Italiano

  • 1922: exposição de obras de Mario Sironi, Achille Funi, Leonardo Dudreville, Anselmo Bucci, Piero Marussig, Gian Emilio Malerba e Ubaldo Oppi na Galeria Pesaro
  • Defesa e liderança da crítica de arte Margherita Sarfatti: por uma pintura italiana de retorno à síntese, à composição arquitetônica, e à revalorização de elementos da tradição clássica, MAS INOVADORA
    *ação que se dá depois da publicação do manifesto “Contro tutto il ritorno al mestiere in pittura” (1921) - crítica às cópias rafaelescas de De Chirico
  • 1924: Sala especial de apresentação do Novecento Italiano na Bienal de Veneza
  • 1926: I Mostra del Novecento Italiano, Palazzo della Permanente, Milão – Sarfatti transforma o grupo em um movimento e este passa a englobar uma centena de artistas
  • 1927-1930: Promoção desses artistas, por Sarfatti através de uma série de exposiçõesno exterior - Ver Mostra do Novecento Italiano em Buenos Aires (1930)


Imagens:

  • Mario Sironi, “O arquiteto”, 1922-23, óleo sobre tela, 87 x 75 cm, coleção privada; “A aluna”, 1923-24, óleo sobre tela, 97 x 75 cm, coleção privada
  • Felice Casorati, “Meriggio”, têmpera sobre tela; “Retrato de Silvana Cenni”, 1922, têmpera sobre tela, 205 x 105 cm, Archivio Casorati, Turim


Última atualização: segunda-feira, 1 abr. 2019, 22:34