Caderneta do sociolinguista
Nesta caderneta serão anotados dados resultantes de pesquisa sobre a variação linguística a respeito do português falado no Brasil, segundo as seguintes regras:
1. Todos os dados devem resultar de dados orais colhidos pelo pesquisador, que é o próprio estudante.
2. Cada dado deve ser anotado tal como ouvido em uma nova entrada do glossário.
3. O dado anotado deve ser identificado, isto é, deve trazer a "fonte" citada devidamente. Por exemplo, "Diálogo ocorrido entre estudantes de Letras, no dia xx/xx/2017, no ponto do ônibus".
4. Caso seja possível, acrescentem informações sociolinguísticas sobre os falantes que produziram os dados colhidos (por exemplo, "homem, de 25 anos, estudante de Letras" etc.) e sobre o contexto (por exemplo, conversa espontânea entre falantes de grau de intimidade alto, colhido em um ponto de ônibus da Cidade Universitária).
5. Cada dado colhido deve ser classificado pelo nível de análise linguística correspondente (fonético / fonológico, morfossintático) ou ao nível léxico-semântico.
6. Os dados postos na caderneta devem ser comentados. Nesse caso, deve-se justificar por que o dado foi tomado como um exemplo de "variação linguística", o que levará o autor do verbete a analisar a forma sob o ponto de vista da tradição (do passado autorizado da forma) e sobre a situação atual de uso da forma.
7. Se possível, exemplos de outros usos da forma podem ser acrescentados.
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Rd | sarais | ||
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Morfossintaxe: “to querendo mudar pra letras, eu gosto de poesia, curto colar nuns sarais” [sentenças proferidas por um rapaz de 19 anos, aluno do curso de Geociências da USP, enquanto discutíamos, dentro do quarto, a respeito dos cursos da universidade; ocorreu na primeira semana de aula e foi nossa primeira conversa] Não é de hoje que o plural de palavras terminadas graficamente em –al, –au geram construções díspares na língua. É comum ver colegas recorrerem aos dicionários ou aos professores/estudantes de letras para sanar a “dúvida”. No caso acima, temos a palavra “sarau”, que, de acordo com os dicionários, deveria ser pronunciada/grafada como “saraus”; o mesmo ocorre com “degrau” e “mingau”. Acontece que, no português brasileiro, as palavras terminadas graficamente em –al são pronunciadas com a semivogal [w] final, e algumas palavras como “sal” e “sexual”, têm seus plurais formados em –[ajs]. O falante conta, então, com sua intuição puramente linguística e produz vocábulos como “sarais”, uma vez que parece ser regra que palavras pronunciadas em [aw] na posição final do vocábulo tenham seu plural em [ajs]. | |||
Rd | se eu fazer | ||
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Morfossintaxe: “se eu fazer uma crítica sem conhecer a teologia protestante...” [sentença proferida por um rapaz de aproximadamente 30 anos, estudante de teologia de um seminário da cidade de Aparecida/SP; o diálogo ocorreu na semana santa, durante o café da tarde na casa de minha avó, e foi nosso primeiro contato] Na ocorrência acima, notamos que o falante aplica a regra dos verbos regulares para formação do subjuntivo, como em verbos de 1ª conj. (se eu falar, se eu cantar), de 2ª conj. (se eu correr) e de 3ª (se eu sorrir) a um irregular de 2ª de conjugação – fazer. Isto parece decorrer de um raciocínio lógico por parte do falante, que percebe maior recorrência de verbos regulares, isto é, que neste caso permanecem da mesma forma tanto no infinitivo quanto no subjuntivo: a forma mais recorrente torna-se regra, portanto, permitindo que ele conjugue de tal modo. Naturalmente, o falante não vê problema neste emprego (na verdade não há), diferentemente daqueles que, por viés da norma tradicional, recomendariam, inclusive na fala, o uso – se eu fizer.
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