Morfossintaxe: “to
querendo mudar pra letras, eu gosto de poesia, curto colar nuns sarais”
[sentenças
proferidas por um rapaz de 19 anos, aluno do curso de Geociências da USP,
enquanto discutíamos, dentro do quarto, a respeito dos cursos da universidade;
ocorreu na primeira semana de aula e foi nossa primeira conversa]
Não é de hoje que o plural de palavras terminadas graficamente
em –al, –au geram construções díspares na língua. É comum ver colegas
recorrerem aos dicionários ou aos professores/estudantes de letras para sanar a
“dúvida”. No caso acima, temos a palavra “sarau”, que, de acordo com os
dicionários, deveria ser pronunciada/grafada como “saraus”; o mesmo ocorre com
“degrau” e “mingau”. Acontece que, no português brasileiro, as palavras
terminadas graficamente em –al são pronunciadas com a semivogal [w] final, e
algumas palavras como “sal” e “sexual”, têm seus plurais formados em –[ajs]. O falante conta, então, com sua
intuição puramente linguística e produz vocábulos como “sarais”, uma vez que
parece ser regra que palavras pronunciadas em [aw] na posição final do vocábulo tenham seu plural em [ajs].