FK

Identidade autoral

por Fabio Kuniyoshi - sábado, 6 jul. 2013, 11:40
 

De forma subjetiva, pode representar num primeiro momento, a identidade daquele que escreve, mas também pode ser o produto da reflexão a que se leva o conteúdo das páginas do livro, que por vezes, passa a ser uma representação mais consistente da identidade do próprio escritor.

Porém, o texto não precisa ter, obrigatoriamente, um autor. Ter um signatário ou redator, não significa que o autor desempenha um papel fundamental para o texto. Por vezes, o conteúdo ou a finalidade sobrescrevem a importância daquele que escreve.

...o nome do autor funciona para caracterizar um certo modo de ser do discurso: para um discurso, o fato de haver um nome de autor, o fato de que se possa dizer "isso foi escrito por tal pessoa", ou "tal pessoa é o autor disso", indica que esse discurso não é uma palavra cotidiana, indiferente, uma palavra que se afasta, que flutua e passa, uma palavra imediatamente consumível, mas que se trata de uma palavra que deve ser recebida de uma certa maneira e que deve, em uma dada cultura, receber um certo status.

Consequentemente, poder-se-ia dizer que há, em uma civilização como a nossa, um certo número de discursos que são providas da função "autor", enquanto outros são dela desprovidos. Uma carta particular pode ter um signatário, ela não tem autor; um contrato pode ter um fiador, ele não tem autor. Um texto anônimo que se lê na rua em uma parede terá um redator, não terá um autor. A função-autor é, portanto, característica do modo de existência, de circulação e de funcionamento de certos discursos no interior de uma sociedade.

 

Entretanto, sempre há um sujeito implícito com maior ou menor grau por trás daquilo que se escreve, e por vezes, a grandiosidade do escritor se faz pela capacidade em fazer com que seu livro, seus personagens e suas palavras falem por si mesmos, ao mesmo tempo em que o livro passa a representar esse autor.

(...)Mas aquele que escreve tem uma identidade mais fraca e, ao mesmo tempo, mais forte que os outros. Mais fraca porque, se há alguém que não poderia responder à pergunta: quem é você?, é ele mesmo. Os maiores dos escritores esperam que suas personagens falem por eles. Os mais frívolos esperam que seus leitores respondam a sua pergunta e digam quem eles são. Mas o verdadeiro escritor espera sua identidade de seu livro. O livro responde por ele. Escreve‑se porque não se sabe quem é e porque se pensa que se saberá um pouco melhor, depois de algumas páginas enegrecidas, rasuradas, retomadas.(...)

» Banco de Conceitos