3. Finalizando

Você já deve ter percebido a importância dos estudos sobre a classificação (e não só dos animais!). Extrapolando um cladograma, fazendo inferências filogenéticas, podemos “retrover” acontecimentos que devem ter ocorrido há milhões de anos; mas, partindo de supostas relações de parentesco, podemos também “prever” algumas características de determinados táxons. Quando você olha para um cladograma e localiza o ancestral comum mais recente entre as vespas-caboclas e as abelhas-de-mel, pode arriscar que um descendente qualquer desse ancestral, escolhido ao acaso, deve ter também ferrão como as abelhas-de-mel e as vespas-caboclas.

A sistemática filogenética é a escola mais bem aceita, atualmente, na comunidade científica, mas não é unanimidade: como você deve ter percebido, dificilmente nossas observações sobre as características de um grupo de espécies são todas coincidentes; quando há conflito, optamos pela maioria das ditas “evidências” (chamadas observações ou caracteres): esse é, de forma rasa, o princípio da parcimônia, corriqueiro na prática científica. Quando uma característica se mostra presente em grupos não monofiléticos não pode ser considerada uma sinapomorfia, uma homologia: trata-se, então, de uma homoplasia (que pode ser uma convergência ou uma reversão a uma condição ancestral).

Mas nada nos garante que a evolução seja parcimoniosa, que ela opte pelos caminhos mais curtos e diretos; e esse é um dos principais ataques contra a sistemática filogenética, usados pelos proponentes de outras escolas (como a “probabilística”), que insistem que nem sempre o mais óbvio é o mais provável. Essa discussão é inflamada no meio acadêmico, e deve haver mais de um exemplo no qual determinadas pessoas, que em outras ocasiões seriam bons colegas, acabam se vendo como inimigos ferrenhos.

Para obtenção desses cladogramas podem ser usadas as mais variáveis fontes de dados: morfologia, fisiologia, bioquímica, citologia, genética, biologia molecular, histologia, comportamento... Certamente “não vale qualquer coisa”, mas muita coisa vale!

Como última nota — e que sirva de consolo para você que suou na montagem do cladograma desta semana! —, a resolução dessas matrizes de táxons e observações torna-se rapidamente algo insolúvel para uma mente humana, o que faz com que supercomputadores e programas eficientes se tornem imprescindíveis (e mesmo assim, para encontrar resultados aproximados).

Só a título de comparação: com quatro táxons, temos um número de árvores possíveis igual a 15. Caso fossem cerca de 70 táxons, o número seria de míseros... (tente falá-lo)... 10120! Tente imaginar, então, o número de cladogramas possíveis para todas as quase dois milhões de espécies conhecidas... Bem, eu desisto, vou dormir. Se você por acaso chegar à resposta correta, avise à NASA para que jogue todos seus computadores no lixo e o contrate!