8. A célula caliciforme e o enterócito

Vamos, agora, nos deter em alguns tipos celulares encontrados no homem (e em outros mamíferos) e estudar suas principais características. A célula caliciforme do intestino é um exemplo de uma célula epitelial especializada na síntese e exportação de proteínas para o meio extracelular (Figs. 11, 12, 13). Este tipo celular está localizado, principalmente, no intestino delgado, entre um outro tipo de célula especializada em absorção de nutrientes, que é o enterócito, e do qual falaremos mais adiante.

A célula caliciforme é responsável pela produção e secreção do muco que reveste e protege o epitélio intestinal, constituído por glicoproteínas e proteoglicanas (proteínas ligadas carboidratos complexos). É uma célula alongada, com núcleo basal, e, como esperado, muito rica em organelas relacionadas à rota secretora ou de exportação. Assim, verifica-se a presença de um retículo endoplasmático granular abundante, um complexo de Golgi bem desenvolvido que dá origem a inúmeras vesículas secretoras. Estas vesículas dirigem-se à membrana plasmática apical, com a qual se fundem (por exocitose), descarregando seu conteúdo (o muco) na luz do intestino.

Um outro tipo celular encontrado no epitélio intestinal é o enterócito (Figs. 12, 13, 14). Trata-se de uma célula caracterizada pela presença de uma membrana plasmática apical modificada em microvilosidades que exibe um glicocálix muito desenvolvido. O citoplasma é rico em organelas, com a presença de muitas mitocôndrias (acumuladas, principalmente, no citoplasma apical e basal), retículo endoplasmático granular desenvolvido, complexo de Golgi evidente, vários ribossomos livres e alguns lisossomos.

Este tipo celular tem todas as característica de uma célula absortiva. Estas células têm a capacidade de absorver metabolitos ativamente por uma das superfícies e transportá-los para a superfície oposta. Para isso, observa-se um aumento notável da superfície apical, devido à presença de microvilosidades. Calcula-se que cada enterócito possua, em média, 3000 microvilosidades, e que 1 mm2 de epitélio contenha cerca de 200 milhões dessas estruturas!

A presença de microvilosidades acarreta um aumento de superfície em torno de 20 vezes. Juntamente com o dobramento do próprio epitélio (na forma de vilosidades e pregas) verifica-se um aumento total de superfície intestinal de cerca de 600 vezes! Este incrível incremento de superfície leva a um aumento proporcional na capacidade absortiva do intestino. Assim, moléculas poliméricas de nutrientes, como proteínas e carboidratos, são quebradas por enzimas digestivas existentes na luz deste órgão até pequenas moléculas. A digestão destas moléculas continua junto ao epitélio intestinal, por enzimas digestivas presas ao glicocálix ou integradas na membrana das microvilosidades dos enterócitos, gerando dímeros ou monômeros (de aminoácidos ou de monossacarídios, por exemplo), que são transportados para dentro das células por proteínas, transportadoras também integradas na membrana das microvilosidades.

Esquema tridimensional de uma célula caliciforme do intestino

Figura 11: Esquema tridimensional de uma célula caliciforme do intestino (à esquerda) e de um corte da mesma célula (à direita). Trata-se de um tipo celular especializado na secreção de muco que reveste o epitélio do órgão.

Fonte: NEUTRA, M.; LEBLOND, C.P. The Golgi apparatus. Scientific American, February 1969.

Micrografia eletrônica do epitélio intestinal exibindo uma célula caliciforme inserida entre duas células absortivas (enterócitos)

Figura 12: Micrografia eletrônica do epitélio intestinal exibindo uma célula caliciforme inserida entre duas células absortivas (enterócitos), ricas em microvilosidades. G - complexo de Golgi da célula caliciforme; M - microvilosidades; N - núcleo; R - retículo endoplasmático rugoso; VS - vesículas de secreção.Fonte: Original

Imagem histológica do epitélio intestinal

Figura 13: Imagem histológica do epitélio intestinal, mostrando os dois tipos celulares principais: as células colunares absortivas (enterócitos) e as células caliciformes.

Fonte: JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 10ª Ed. Guanabara Koogan S.A. 2004.

Micrografia eletrônica de um enterócito

Figura 14: Micrografia eletrônica de um enterócito. Note, no detalhe acima à direita, um corte transversal das microvilosidades, onde é possível observar os feixes internos de microfilamentos e o glicocálix.

Fonte: JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 10ª Ed. Guanabara Koogan S.A. 2004.