4. Exemplos de análises críticas

4.2. Módulo de dinâmica de populações

Maior nota (9,3)

Conclusão:

O maior número de plântulas estabelecidas observado em relação ao número projetado e a consequente diferença entre os valores de λ observados e projetados podem ser explicados pela imigração de sementes de habitats próximos.

Cadeia:

A disparidade entre os valores de λ observados e projetados se dá por conta do aumento no número de plântulas estabelecidas observado em relação ao número de plântulas estabelecidas simulado. O modelo utilizado para estimar o valor de λ não considera a ingressão de recrutas por imigração, de forma que a única fonte de plântulas estabelecidas seriam as plantas que produziram flores nas parcelas observadas. Não é provável que as estimativas de estabelecimento de plântulas usadas nos cálculos de fecundidade estejam subestimando as taxas verdadeiras, já que somente incorporando taxas de estabelecimento de plântulas cerca de 3 à 6 vezes maiores que as obtidas em tratamentos experimentais (que ofereciam proteção artificial às sementes) os valores estimados de λ se aproximaram dos valores observados nos fragmentos. Desta forma, os resultados sugerem que há imigração considerável de sementes de H. culminata vindas de habitats próximos para todas as parcelas do estudo, o que também é suportado pela comparação das distribuições estáveis simuladas e das distribuições observadas.

 Avaliação:

Concordo parcialmente com a cadeia argumentativa apresentada e com sua conclusão. A discrepância entre os valores λ de fato parece se dar pela diferença entre os valores observados de plântulas estabelecidas com os valores estimados pelo modelo, e as taxas de estabelecimento não devem ter sido subestimadas, já que foram feitos experimentos anteriores para isso.

No entanto, a argumentação de que a imigração deve ser o fator que explica essa diferença no número de plântulas estabelecidas não leva em conta que cada parcela corresponde a somente uma porção de um fragmento de floresta ou área de floresta contínua (e que essa porção amostrada não tem a mesma proporção para todos os habitats, já que o tamanho da parcela é fixo e o habitats diferem em tamanho, o que pode trazer um viés), e portanto, desconsidera a influência que plantas extremamente próximas às parcelas (e pertencentes ao fragmento estudado) podem ter no número de plântulas estabelecidas. Talvez este não fosse um problema se o autor caracterizasse “imigração” como o estabelecimento de plântulas cuja origem é simplesmente alheia à parcela, mas isso não é o que acontece. Quando o autor argumenta a importância da imigração e posteriormente discute a implicação dessa conclusão, ele assume que as plântulas vêm de outros habitats próximos, e não do próprio habitat, sugerindo até que seus resultados sejam uma evidência para a hipótese de que a imigração pode amenizar os efeitos negativos da fragmentação (conceito importante para a conservação), o que talvez não seja o caso.

Retorno dos Avaliadores

Corretor 1

- Acho que sua análise está muito boa, mas senti falta da identificação dos outros argumentos que dariam apoio para a hipótese da dispersão e não de alterações nas outras taxas (p. ex. produção de sementes).

- Outro ponto que poderia ser discutido é que para florestas contínuas em 1998-1999, não existe diferença entre o número observado e estimado de plântulas.

- Gostei do uso da citação sobre conservação para justificar que o autor estava considerando apenas imigração vindo de fora do fragmento.

Corretor 2

Apresenta uma conclusão importante e  inesperada do trabalho. Apresenta muito bem a cadeia argumentativa e as evidências que levaram o autor a ela. A crítica é pertinente, confunde um pouco quando fala de tamanho de habitat ao se referir ao tamanho do fragmento, mas de fato não há como garantir que seja imigração de outros fragmentos.


Segunda maior nota (8,8)

Conclusão do artigo: existe uma imigração significativa de sementes de H. acuminata para dentro dos fragmentos de floresta estudados.

 Cadeia argumentativa que a sustenta:

-Os valores de lambda observados experimentalmente são maiores do que os projetados pelos modelos de matriz

 -Esses valores elevados são consequência de um maior número de plântulas do que foi estimado pelos modelos

 -Esse maior número de plântulas pode ser causado por um aumento na taxa de estabelecimento de plântulas, mas isso não é provável, pois as taxas de estabelecimento deveriam ser de 3 a 6 vezes maiores do que observadas em experimentos de proteção artificial de plântulas para gerarem o lambda observado

 -É mais provável que uma das suposições do modelo esteja errada, e haja dispersão de sementes vindas de fora dos fragmentos

 -Essa conclusão é apoiada pelo fato das proporções de plântulas nas populações estudadas ser maior do que o previsto nas distribuições estáveis de estágios

 Avaliação: Concordo parcialmente com a cadeia argumentativa.

 Cadeia argumentativa da avaliação:

-O autor descarta a possibilidade do maior número de plântulas em relação ao modelo ser causado por um aumento na taxa de estabelecimento dessas plântulas. Ele justifica isso dizendo que a taxa de estabelecimento precisaria ser pelo menos 3 vezes maior do que a taxa gerada a partir de um experimento de proteção artificial de plântulas. Contudo, isso não garante que o aumento do número de plântulas não pode ser resultado de uma combinação do aumento na taxa de estabelecimento e da imigração de sementes.

 -O autor também sustenta sua conclusão no fato de que as proporções de plântulas são maiores que nas distribuições estáveis de estágios (SSD) calculadas a partir das matrizes de transição. Ele não discute a possibilidade de que as populações estudadas não estão em um estágio de estabilidade, mas sim de transição.

-Essa possibilidade é sustentada pelo fato de que outras classes de desenvolvimento (stage classes) também mostram discrepância entre as proporções observadas e as distribuições estáveis calculadas, e pelo fato de que os lambdas calculados a partir das matrizes se alteram ao longo do tempo, mais significativamente nas regiões de floresta contínua.

Retorno dos avaliadores

Corretor 1

- Boa observação de que o maior número de plântulas poderia ser o resultado dos dois processos (maior estabelecimento e dispersão) em conjunto

- Também bacana a possibilidade das áreas não estarem estáveis.

- Senti falta da identificação dos outros argumentos que dariam apoio para a hipótese da dispersão e não de alterações nas outras taxas (p. ex. produção de sementes).

- Última frase ficou incompleta

Corretor 2

Apontou uma conclusão importante e inesperada junto a cadeia argumentativa que levou a ela. Há dois pontos criticados, o primeiro que o resultado pode ser uma interação entre maior imigração e maior estabelecimento, o que não inviabiliza a conclusão. O segundo precisaria ser melhor desenvolvido. Faltou utilizar evidências para suportar o "não equilibrio", por exemplo comparando o resultado dos fragmentos com a floresta contínua, já que essa última já estaria em equilbrio ou, ao menos mais próxima desse equilibrio na dinâmica populacional. De qualquer forma, acho que tem um inicio de argumentação.


Terceira maior nota (7,8)

1. As reduções no recrutamento associadas a fragmentação só levam a reduções nas taxas de crescimento populacional quando o recrutamento é muito limitado. 

2. 

a) O estabelecimento das plântulas é menor em fragmentos por condições ambientais e menor quantidade de indivíduos para reprodução;

b) O estabelecimento de plântulas entre 1 e 3% já suficiente para manter o crescimento populacional nos fragmentos de 10 ha e florestas contínuas. Em fragmentos de 1 ha esse valor é 5 e 15%. Assim, poucas plântulas precisam se estabelecer para manter o crescimento populacional;

c) Em geral, o número de plântulas observado em cada uma das áreas é maior do que o projetado. Assim, a quantidade de plântulas é ainda maior na realidade do que o esperado pelo modelo;

d) A contribuição das plântulas para a taxa de crescimento populacional, dada pela elasticidade é pequena (0,27 a 4,09%);

e) Se para manter o crescimento populacional é necessário o estabelecimento de poucas plântulas, o mundo real tem mais plântulas do que o previsto e a contribuição delas para o crescimento populacional é pequena, então o crescimento só vai ser afetado quando as alterações no estabelecimento das plântulas forem muito severas. 

3. Concordo parcialmente

4. Concordo com o argumento construído que relaciona a quantidade de plântulas necessárias para manter o crescimento, a diferença no número de plântulas observadas e projetadas pelo modelo e a estabilidade calculada. Porque: 

I) A permanência contribuiu mais para as taxas de crescimento, o que significa que a mortalidade dos indivíduos maiores é mais importante para o crescimento dessas populações do que o estabelecimento de plântulas;

II) Em geral, a realidade estabelece mais plântulas do que o necessário para manter o lambda. Além da contribuição das plântulas ser pequena para o lambda em geral, ainda existe uma margem de distúrbios no estabelecimento de plântulas que as populações aguentariam mantendo o crescimento positivo.  

Mas

III) As origens das diferenças entre o projetado e o real deveriam ser melhor investigadas. Se essa diferença é gerada apenas por uma diferença amostral, por exemplo, uma parte importante da cadeia argumentativa fica sem suporte.

Retorno dos avaliadores

Corretor 1

- Resposta muito bem estruturada.

- Não localizei no texto a informação sobre a menor quantidade de indivíduos reprodutivos.

- No item 4.I, o correto seria dizer que "A permanência contribuiu mais que as taxas crescimento" e não que "A permanência contribuiu mais para as taxas de crescimento".

- Pela figura 3, o argumento colocado no item 4.II não é totalmente correto, pois nos fragmentos de 1ha a germinação real (indicada por g* dentro de cada gráfico) está abaixo ou dentro do limite inferior.

- Teria sido melhor explicar o que quis dizer com "diferença amostral" no item 4.III

Corretor 3

A resposta está muito bem estruturada e muito clara. Identificou corretamente uma conclusão importante, e usa também muito corretamente vários elementos que sustentam a conclusão. 

Na sua avaliação da fundamentação do argumento (4), você mostra que sua concordância (ponto I) baseia-se em uma consequência lógica de um elemento apresentado pelo autor. O ponto II e III não consideram que o autor investigou e discutiu sim as diferenças entre os tamanhos populacionais projetados e reais.