4. Exemplos de análises críticas

4.1. Módulo Estrutura de Populações

Maior nota (8,8)

  • Conclusão: Alguns atributos das espécies, como a abundância, podem ser usados para prever padrões espaciais de espécies.
  • cadeia argumentativa: As diferenças na abundancia de espécies diferente podem surgir devido às diferenças de fecundidade e mortalidade associada à dependência de densidade, seleção de habitat e interações interespecíficas . Os mecanismos subjacentes que contribuem à diferença de abundância entre as espécies talvez também possam refletir na formação de padrões espaciais.
  • avaliação da cadeia: Concordo parcialmente
  • cadeia e argumentos: Os autores explicam o que pode gerar diferenças de abundâncias e, basicamente, dizem que esses mesmos mecanismos podem contribuir aos padrões espaciais. Penso que, de fato, tais mecanismos possam contribuir, por isso concordo, no entanto, parcialmente, pois faltou os autores explicarem como esses mecanismos atuariam para gerar determinado padrão observado, ou seja, faltou detalhar mais e aprofundar na discussão. Por exemplo, relacionando com a seleção de habitat, poderiam ter dito que, em alguns casos, espécies abundantes podem ser mais generalistas tendo um padrão espacial menos agregado. Outro processo mais detalhado que eles poderiam ter citado é o limite de dispersão, o qual pode ser menor em espécies abundantes, uma vez que, em geral, conseguem dispersar propágulos em mais pontos de uma área do que espécies pouco abundantes, gerando um padrão espacial menos agregado.
Retornos dos Avaliadores

Corretor 1 

- A análise está bem estruturada, com justificativas e argumentos adequados.

- Um ponto questionado é se a conclusão escolhida se configura como uma das conclusões principais do artigo ou se é uma parte de uma conclusão maior e mais central (por exemplo, atributos importam, mas variam de um local para outro). Isso não invalida a resposta, nem a análise realizada, mas nas próximas análises procure focar nas principais conclusões.

Corretor 3

  • A sua cadeia argumentativa é uma transcrição de um trecho do artigo. Neste caso como é o único ponto do texto em que se argumenta por esta conclusão (que vem logo antes no texto), é cabível. Mas em geral reconstruir a cadeia argumentativa exige usar trechos e outros elementos que não estão necesariamente juntos. Mais importante, busque fazer isto reproduzindo com suas palavras como entendeu a cadeia.
  • Você foi muito feliz na escolha de uma conclusão com uma cadeia argumentativa breve e com uma falha séria: as relações propostas entre abundância e distribuição espacial não são claramente explicadas pelos autores. Sua crítica neste sentido está muito bem feita e clara. Também foi importante para entender sua crítica suas explicações de como a cadeia argumentativa poderia ficar mais clara. 

Segunda maior nota (8,5)

O processo não-homogêneo de Thomas é o que melhor explica a distribuição das espécies naquelas comunidades vegetais. Sugerindo portanto que há uma associação entre habitat e limitação de dispersão na agregação das espécies. Ainda mais, o processo homogêneo de Thomas é o segundo melhor, sugerindo uma participação maior da limitação de distribuição nos padrões observados.

Essa conclusão é fortemente embasada na Tabela 3 que compara os diferentes processos, nos diferentes locais. A tabela mostra que o processo não-homogêneo de Thomas é o que melhor explica a distribuição de varias especies em varias escalas. Estes processos foram fundamentos com regressões que as colocaram dentro de um intervalo de confiança de 95%. Continuando, o autor ainda cita outros trabalhos que tiveram resultados semelhantes, e diz que trabalhos que não analisaram os dois processos juntos tiveram conclusões incompletas. A partir desses argumentos o autor tenta explicar o processo pelo qual a limitação de distribuição e a teoria baseada em nicho explica as comunidades observadas.

Concordo parcialmente com a cadeia acima, começando pelos argumentos de sustentação.Primeiro, a “explicação” de como os dois processos moldaram a comunidade eu não concordo, pois precisaria de muitos outros estudos controlados para tal afirmação. O autor mesmo diz que “é difícil determinar processos a partir de padrões”. A citação de outros artigos, que demonstraram resultados parecidos ou não, formam um argumento, na minha opinião, não tão forte, mais como uma complementação do que o artigo deseja mostrar. A parte estatística eu concordo parcialmente, uma vez que estavam dentro do intervalo de confiança aceito e foram testadas praticamente todas possibilidades de processos. Porém o fato de em diferentes escalas os processos terem grande variação na sua taxa de explicação gera grandes discussões de “porque” isto está ocorrendo.

Retornos dos Avaliadores

Corretor 1 

- A estruturação da sua análise está muito boa!

- Poderia ter desenvolvido um pouco mais sua argumentação sobre os problemas de relacionar padrões com processos. Ficou um pouco superficial.

- Não entendi o argumento relacionado às diferenças observadas em diferentes escalas. Isso invalida os resultados gerais obtidos? De que forma? Se não invalida, estaria apenas agregando mais informações e isso é positivo ou negativo?

Corretor 3

A conclusão escolhida é de fato uma das centrais do artigo, e você identificou corretamente muitos dos argumentos que a sustenta.

Entendi que sua sua crítica a estes argumentos baseia-se em 3 pontos: (1) a limitação de se inferir processos a partir de padrões; (2) uso de resultados de outros artigos que são coerentes com as conclusões (ou, em caso contrário, como é fácil entender a discrepância); (3) os resultados variam entre escalas.

Sobre (1), é uma crítica válida bem conhecida e debatida em ecologia ( que já levantamos nas aulas, e que os pŕoprios autores admitem, como vc bem indicou). Então para sair da generalidade é preciso explicar melhor como ela se aplica especificamente ao caso. Seu texto indica um caminho promissor, que é a crítica de tomar o conceito de variação explicada de um modelo estatístico que descreve um padrão por uma explicação do processo subjacente. Outro ponto igualmente válido é indicar que experimentos poderiam elucidar causas e processos inferidos inicialmente a partir de padrões. Minha crítica aqui é que você poderia ter detalhado um pouco mais estes pontos, e demonstrado como poderiam ajudar no caso específico.

Sobre (2), concordo que a discrepância com outros trabalhos não é critério principal para avaliar a validade de um novo achado. Mas me parece que as autoras usaram este argumento com bastante cuidado, propondo explicações tanto para concordâncias como para as discordâncias. Então me parece que as autores usaram estes elementos de fato como complementação, o que você admite como válido.

Sobre (3), apesar da variação que você indicou, em apenas dois casos em que a distribuição da maioria das espécies não foi bem aproximada pelos modelo Thomas não-homogêneo (tabela 3, Kenting, escala 2m e na escala 20-40, por pouco). Então não ficou claro para mim como esta variação compromete a conclusão de que o modelo não-homogêneo de Thomas parece ser o melhor. Acho que faltou especificar melhor que elementos desta variação levaram você a esta crítica, já que em termos gerais os dados sustentam a conclusão.


Terceira maior nota (8,3)

1.A distribuição espacial das espécies de árvores ocorre predominantemente através da junção entre os processos de associação de habitats e limitação de dispersão.

2.Dados:Nos resultados, o processo não homogêneo de Thomas é o que melhor descreve a maioria das espécies e sugere que o habitat e a dispersão atuam conjuntamente. Este confirma que os estudos que não modelam a heterogeneidade do habitat e a limitação de dispersão em um único processo levam a conclusões inconsistentes (Dalling 2002, etc.). Apoio: No estudo de Gunatilleke 2006, a fraca limitação de dispersão é sugerida porque fortes associações de habitat são detectadas, o que demonstra ser uma afirmação inconsistente. Garantias:No estudo de Shen 2009, em uma floresta na China, destacou a importância dos efeitos conjuntos na curva de área-espécie. No estudo de Comita 2007, a operação interativa de processos baseados em nichos (heterogeneidade de habitat) e baseados na neutralidade (limitação de dispersão) operam conjuntamente na geração de padrões espaciais.

3.Concordo parcialmente. 

4.O resultado do estudo o qual o processo não homogêneo de Thomas é o que melhor descreve a distribuição espacial e sugere que os processos atuam conjuntamente é coerente com a conclusão principal, assim como contribui para refutar estudos os quais os processos são tratados de forma separada, o que trazem conclusões vagas. Os estudos que contribuem para a confirmação dessa hipótese são bem descritos na argumentação e  trazem a garantia da hipótese levantada, entretanto no estudo de Comita 2007, ao mencionar processos baseados em nichos relacionado a heterogeneidade de habitat e baseados na neutralidade relacionado a limitação de dispersão, os conceitos ficam incertos e pouco claros,  o que torna essa parte da argumentação de certa forma falha. Portanto, a falta clareza nesse ponto da argumentação torna a conclusão principal parcialmente consistente. 

Retornos dos Avaliadores

Corretor 1 

- Quando indica que o estudo ajuda a refutar estudos anteriores, é preciso tomar cuidado, pois os estudos anteriores analisaram de forma diferente, então, para saber se realmente refuta, teriam que aplicar os mesmos métodos desse artigo e ver se os resultados mudariam.
- Se um argumento não é central para a conclusão, a falta de clareza sobre ele nem sempre afeta a consistência da conclusão. Nesse caso, o estudo de Comita parece estar sendo tratado de forma periférica e não invalida a conclusão

Corretor 2

1. Identifica corretamente uma das principais conclusôes 

2. Apresenta a cadeia lógica  que baseia, em parte, a conclusão utilizando a estrutura argumentativa sugerida. Não ficou claro o apoio que o estudo de Gunatilleke dá à conclusão...

3. Me parece que a argumentação de falta de garantia do estudo de Comita não é pertinente, ou não foi devidamente explorada. Na curta frase colocada na discussão, o trabalho se acopla à conclusão sem nenhum restrição aparente.