Além dos fósseis



Uma linha de evidência para se estudar a evolução humana independe de fósseis. Atualmente é possível a comparação de macromoléculas de organismos atuais e chegar a conclusões sobre alguns processos que foram importantes na evolução que deu origem a nós. Um resultado bastante importante foi obtido quando, em 2005, foi obtida a sequência completa do genoma dos chimpanzés. Estimativas feitas bem antes, desde a década de 1980, de que os genomas de humanos e de chimpanzés eram semelhantes em mais de 95% foram completamente confirmadas com o sequenciamento completo. Além disso, outras características importantes relacionadas com nossa evolução puderam ser melhor compreendidas. Por exemplo, um gene sabidamente ligados à fala, chamado de FoxP2 (cujas deficiências provocam problemas relacionados à fala) apresentaram uma taxa de evolução bem mais alta nas linhagens que deram origem aos humanos do que nas linhagens que originaram os outros hominídeos recentes.

Outra linha de pesquisa une aquela feita com fósseis com aquela relacionada a comparação de moléculas. Essa linha de pesquisa se baseia no fato de que é possível, em certas situações, isolar-se DNA preservado internamente em ossos que não foram mineralizados. Recentemente, em 2010, foi possível se obter uma grande parte da sequência do genoma de exemplares do Homo neanderthalensis. Essa espécie viveu na Europa e no Oriente médio até uns 50 mil anos atrás e foi então extinta. Acredita-se que uma das causa dessa extinção tenha sido por causa da competição por recursos quando o Homo sapiens atingiu o continente europeu. Essa extinção, no entanto, não foi abrupta. Os fósseis mais recentes de H. neanderthalensis datam de somente 25.000 anos atrás, sendo que estes estão concentrados em poucas regiões da Europa, ao contrário daqueles mais antigos, que eram distribuídos em regiões geográficas mais amplamente distribuídas. O resultado mais interessante obtido com o sequenciamento do genoma do Homem de Neandertal foi, na verdade, obtido com o sequenciamento de indivíduos da nossa espécie. Os genomas de humanos obtidos na África não apresentam qualquer gene dos neandertais, mas esses são encontrados em populações de fora da África. O significado desse achado é bastante claro. Quando a nossa espécie, Homo sapiens deixou a África, não somente provocou a extinção dos neandertais, mas também intercruzou, em pequena escala, com eles. Assim, populações humans de fora da África possuem cerca de 1 a 4% do genoma neandertal.

Além do Homem de neandertal, foram também obtidas as sequências de DNA de outra espécie do gênero Homo, obtida através da extração de DNA de fragmentos de falanges de uma espécie que não havia sido descrita anteriormente. Esses fragmentos foram encontrados em uma caverna na Sibéria e datados de cerca de 40.000 anos atrás. Sequências genômicas de populações atuais de povos da Melanésia mostram que cerca de 4 a 6% do genoma delas provêm dessa espécie ainda não descrita morfologicamente, devido a intercruzamentos que ocorreram no passado. Tais dados permitem concluir que a evolução humana mais recente não foi permeada apenas por guerras, mas também por interlúdios amorosos!