Roteiro da Semana 10
Apresentação da aula
A vida e a Educação em Ciências
E não se diga que, se sou professor de biologia, não posso me alongar em considerações outras, que devo apenas ensinar biologia, como se o fenômeno vital pudesse ser compreendido fora da trama histórico-social, cultural e política. Como se a vida, a pura vida, pudesse ser vivida de maneira igual em todas as suas dimensões na favela, no cortiço ou numa zona feliz dos “Jardins” de São Paulo. Se sou professor de biologia, obviamente, devo ensinar biologia, mas, ao fazê-lo, não posso secioná-la daquela trama.
Paulo Freire
Pensar sobre a vida e suas manifestações, entender as relações entre os seres vivos e seu ambiente, perceber a importância da biodiversidade e as ameaças vindas de mudanças ambientais ou intervenções humanas e mesmo entender o próprio significado da vida são habilidades (propostas também pela Secretaria de Estado da Educação) a serem desenvolvidas nos jovens estudantes.
Ao longo desta disciplina, buscamos abordar alguns dos conceitos e habilidades relacionados ao eixo temático “Vida e Ambiente”, presentes no Currículo da Secretaria da Educação para o Ensino Fundamental – Ciclo II / Ciências da Natureza, contextualizando-os nas discussões atuais sobre o Ensino de Ciências. Nesta última aula, gostaríamos de avançar um pouco mais sobre a abordagem desses elementos curriculares em ações educativas e de divulgação científica que ocorrem dentro e fora da comunidade escolar.
Por limite de tempo e espaço, temos de fazer um recorte. Como, sem dúvida, um dos pontos mais polêmicos abordados nesta disciplina é o Ensino de Evolução, optamos por discutir melhor esse assunto, mas sempre tendo em vista o Ensino de Ciências em geral.
Sabemos que a inclusão do tema Evolução ou o uso de uma perspectiva evolutiva no Ensino Fundamental são ainda bastante incipientes. Como professores de Ciências, podemos apontar vários motivos para isso e alguns dos mais comuns são:
1) a ineficiência da formação inicial do professor para trabalhar essa temática;
2) as concepções prévias dos alunos, baseadas geralmente em informações obtidas fora do ambiente escolar;
3) a complexidade do assunto, que exigiria conhecimentos abordados somente no Ensino Médio;
4) a falta de material de apoio de qualidade.
A formação inicial de professores de forma inadequada é recorrente nas instituições de Ensino Superior. Muitas delas ainda descontextualizam o pensamento evolutivo, deixando-o fragmentado e restrito somente a alguns problemas científicos, como o estabelecimento de parentesco entre grupos ou o estudo das adaptações dos organismos ao seu ambiente. Outras não consideram a formação pedagógica do futuro professor, limitando-se a ensinar conceitos científicos e desconsiderando a práxis educativa. A reorganização dos currículos dessas instituições e também uma melhor articulação entre a formação inicial e a formação continuada dos professores tornam-se ações necessárias e urgentes.