Roteiro da Semana 3
O índio e o tamanduá
O índio e o tamanduá
Figura 3.2: Representação do "Índio e o tamanduá"
Fonte: CEPA
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Os primeiros índios Kaingang saíram do solo; por isso, têm cor de terra. Numa serra, não sei bem onde, no sudeste do estado do Paraná, dizem eles que ainda hoje podem ser vistos os buracos pelos quais subiram. Uma parte deles permaneceu subterrânea; essa parte se conserva lá até hoje e a ela se vão reunir as almas dos que morrem aqui em cima. Eles saíram em dois grupos chefiados por dois irmãos, Kanyeru e Kamé, sendo que Kanyeru saiu primeiro. Cada um já trouxe consigo um grupo de gente. Dizem que Kanyeru e toda a sua gente tinham corpo delgado, pés pequenos, eram ligeiros tanto nos seus movimentos quanto nas suas resoluções, cheios de iniciativa, mas de pouca persistência. Kamé e seus companheiros, ao contrário, eram de corpo grosso, pés grandes e vagarosos nos seus movimentos e resoluções.
Como esses dois irmãos com a sua gente foram os criadores das plantas e dos animais, e povoaram a Terra com os seus descendentes, tudo neste mundo pertence ou à metade Kanyeru ou à metade Kamé, conhecendo-se a sua descendência seja pelos traços físicos, pelo temperamento ou pela pintura: tudo o que pertence a Kanyeru é manchado, o que pertence a Kamé é riscado. Essas pinturas, o índio vê tanto na pele dos animais como nas cascas, nas folhas ou nas flores das plantas; e, para objetivos mágicos e religiosos, cada metade emprega material tirado de preferência de animais e vegetais da mesma pintura.
Kanyeru fez cobras, Kamé, onças. Este fez primeiro uma onça e a pintou, depois Kanyeru fez um veado. Kamé disse à onça: "Come o veado, mas não nos coma!" Depois ele fez uma anta, ordenando-lhe que comesse gente e bichos. A anta, porém, não compreendeu a ordem. Kamé repetiu-lhe ainda duas vezes em vão; depois lhe disse, zangado: "Vai comer folhas de urtiga! Não prestas para nada!" Kanyeru fez cobras e mandou que elas mordessem homens e animais. Queimou um espinho chamado sodn e esfregou a cinza nos dentes da cobra a fim de torná-los venenosos. Kamé quis então fazer um animal muito feroz, e começou a fazer o tamanduá. Eles estavam trabalhando durante a noite e, quando o dia começou a romper, o tamanduá ainda não estava pronto: já tinha unhas enormes, mas a boca ainda estava por fazer. Então Kamé arrancou um cipó e meteu-o como língua na boca do estranho animal, que ficou mal acabado.