Conceitos científicos alternativos


Alternativas aos conceitos tradicionais de vida


Algumas definições de vida encontradas na literatura científica podem ser consideradas como uma alternativa ao externalismo e ao essencialismo observados entre estudantes por Coutinho, Mortimer e El-Hani (texto sobre o perfil conceitual de vida analisado na Aula 1 desta disciplina). Discutiremos aqui duas delas: vida como seleção natural de replicadores e vida como autopoiese.


Vida como seleção natural de replicadores


Nesta concepção, a vida pode ser definida como a seleção natural de entidades que fazem cópias de si mesmas. A vida seria uma propriedade de populações dessas entidades que conseguem se reproduzir, herdam características de seus predecessores, apresentam variações decorrentes de mutações e têm suas chances de deixar descendentes determinadas pelo sucesso de suas propriedades em seu ambiente.

Você pode perguntar: mas esta também não é uma lista de características? Para Emmeche e El-Hani, há uma diferença fundamental. Em qualquer tentativa de definir “vida”, haverá atributos definidores desse fenômeno. Entretanto, agora não se buscam propriedades essenciais, substâncias ou forças especiais que caracterizem a vida, tampouco uma lista de propriedades necessárias para que se considere um sistema como vivo, mas trata-se de identificar propriedades que deem significado ao conceito de vida em uma rede de outros conceitos. Para os autores, essa definição está inserida em um paradigma vigente da biologia moderna: a biologia evolutiva neodarwinista.

Um pesquisador bastante conhecido (em parte, graças ao seu talento para a divulgação científica), que defende essa definição de vida, é Richard Dawkins (Figura 2.2). Para ele, as células e os organismos multicelulares são apenas veículos para a sobrevivência das informações contidas nos genes, chamados por Dawkins de replicadores. A vida é definida, nesse sentido, pela seleção natural de genes (replicadores) cada vez mais eficientes.

Figura 2.2
Figura 2.2: Richard Dawkins.
Fonte: CEPA.

Em uma abordagem mais abrangente, David Hull (Figura 2.3) destaca não somente o papel dos replicadores (por exemplo, genes) como também dos interagentes (por exemplo, organismos) e das linhagens. Nesse caso, o sucesso adaptativo do interagente determina a chance de os replicadores passarem suas cópias para a próxima geração.

Figura 2.3
Figura 2.3: David Hull.
Fonte: CEPA.

No contexto da educação básica, o uso desse conceito traz algumas considerações. A primeira é a de que a proposta de Dawkins de “genes egoístas” reduz a ideia de vida à informação: os replicadores são sistemas informacionais que se autopropagam. A vida seria considerada, então, a realização de conjuntos de informação abstratos, podendo ocorrer tanto em uma tela de computador quanto na mata atlântica. Isso levaria a uma discussão mais ampla sobre vida artificial. A segunda é a de que a visão de Hull dá outra dimensão para o aspecto informacional da vida, relacionando-o com os processos evolutivos não somente no nível genético, mas também do organismo e suas linhagens. Assim, a vida não precisa ser definida como uma lista de propriedades como se vê nos livros didáticos, mas nos força a trazer o pensamento evolutivo para as nossas atividades de ensino-aprendizagem.