Geologia e Geociências

Conceitos sobre Geologia e Geociências


Para simplificar, vamos tratar a Geologia como uma disciplina que está contida no conceito de Geociências e, por isso, o conceito geocientífico assume características de princípios geológicos. De forma mais aprofundada, o termo Geociências abrange as diversas Ciências da Terra, englobando os estudos sobre as quatro esferas (hidrosfera, litosfera, atmosfera e biosfera) e suas inter-relações. Mais recentemente, foi incluída nesse rol a noosfera (ou antroposfera), definida como a interferência do homem nas demais esferas (Vernadsky, 1936; in Patapova, 1968 – citado em BACCI, 2009). A mesma autora diz que podemos citar a Geografia, a Pedologia, a Oceanografia, a Hidrologia, a Paleontologia, a Geofísica, entre outras, como ciências da Terra. No entanto, como afirma POTAPOVA (1968), a Geologia é a ciência que sintetiza os conhecimentos sobre as diversas formas de movimento da matéria, que tomam parte na evolução do sistema natural integrado, que é o planeta Terra.

A simples pergunta “O que é Geologia?” poderia ser respondida conforme consta em alguns materiais didáticos ou em sítios da internet – nesse caso, um exemplo retirado da Wikipédia: “Geologia, do grego γη- (geo-, “a terra”) e λογος (logos, “palavra”, “razão”), é a ciência que estuda a Terra, sua composição, estrutura, propriedades físicas, história e os processos que lhe dão forma. É uma das ciências da Terra”. De fato, esse conceito não está errado, mas é bastante simplificado e necessita de uma complementação e maior reflexão1 . E é isso que vamos tentar fazer agora.

POTAPOVA (1968) nos ensina que:

“A Geologia investiga todos os processos naturais em suas inter-relações históricas. Processos contemporâneos não são mais do que um elemento no infinitamente longo processo de evolução...” (p. 3).

A frase é breve, mas traz em si uma enorme complexidade. Potapova vincula a construção de conhecimento de cada uma das esferas terrestres à questão temporal. Formulam-se modelos explicativos para o passado a partir de características e conhecimentos atuais – ao que denominamos “atualismo” – e a base de tais conhecimentos permite a produção de prognósticos acerca do planeta2.

A questão histórica, nessa citação, remete-nos à própria característica histórica dessa Ciência. Para PASCHOALE (1989, p. 22 e 23), o caráter histórico é o fato mais marcante da Geologia. Sua natureza histórica advém da inclusão do fator tempo,

“[...] implicada pelo reconhecimento do vestígio, ou seja, objeto identificado na superfície terrestre como documento, nas explicações que esta ciência produz.” (apud SILVA, 2002, p. 49)

Não se parte da causa para explicar o efeito, mas o contrário é o que vale. Isso é simples de exemplificar: imaginemos um geólogo caminhando numa determinada área da superfície terrestre. O encontro com determinados tipos de rocha lhe dirá muito a respeito da história do local, uma vez que ele deve inferir as condições de formação daquela rocha, a idade relativa daquele material, o que havia no entorno daquela região... E tudo isso a partir das características de determinadas rochas encontradas!!!

Ao longo do curso, entraremos especificamente no aspecto temporal das Geociências. Contudo, para esse início, é importante ter em mente que a Geologia representa uma entre outras ciências históricas da natureza. Seu objeto de investigação é o processo histórico geológico, pensado e investigado através das “formas fixadas” que se preservam na crosta terrestre.

Ao definir o objeto de investigação das Geociências, não devemos confundir o objeto desta ciência com seu objeto de investigação. No caso das Geociências, o objeto é a Terra como um todo, em que se deve construir o processo histórico-geológico. No entanto, a observação se restringe a fenômenos ocorridos na crosta terrestre, sendo esta, portanto, o objeto de investigação das Geociências. A Geologia constitui-se como uma ciência histórica da natureza, e o papel do geólogo se baseia no estudo das Formas Fixadas, ou seja, todas as impressões ou vestígios dos processos físicos, químicos e biológicos presentes na crosta. As formas fixadas podem ser consideradas como documentos históricos dos processos geológicos, materializados em forma de fósseis, rochas, minerais, montanhas, falhas etc., que vão servir ao geólogo para reconstruir a história geológica da Terra (POTAPOVA, 1968).


1 Retirado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Geologia, em 14 de julho de 2010.

2 É inevitável que se pense na questão do aquecimento global. De caráter eminentemente geobiológico, esse tema integra não só as condições atmosféricas planetárias, mas também a intensa participação humana na evolução do quadro climático. Para alguns, o homem é vilão; para outros, esse seria um “ciclo” terrestre ao qual o homem se expôs. Diferentemente, não se pode negligenciar o aumento absurdo de gases poluentes pós-revolução industrial, mas é também inegável o papel dos ciclos terrestres na evolução do planeta. Ambas as considerações se articulam, podendo melhorar uma compreensão parcial.