Estudo de caso - Pesquisa


A pesquisa do Estudo de caso


O texto original dessa pesquisa está em espanhol, de modo que vamos colocar aqui somente os principais trechos relacionados com as respostas mais frequentes dos alunos e também os encaminhamentos que foram decididos a partir dessas respostas. Caso tenha curiosidade e você queira ler o artigo completo, ele se chama “Investigando el cuerpo humano” e foi publicado na revista Cadernos de Pedagógia, 225: 20–24. Os autores são Agapito Morante Blásquez e Sebastían Rodríguez Martín. O texto abaixo é uma tradução livre do original.


“Quando se trata de nomear as partes do corpo humano, encontramos uma alta incidência de termos normalmente utilizados no cotidiano como queixo, cotovelo, boca, barriga, teta, unha, pulso etc. Ademais, alguns alunos, induzidos pelo desenho de um boneco que acompanha o questionário, nomeiam peças do vestuário (saia, por exemplo) como sendo partes do corpo humano. Produziram-se também algumas situações onde o nome pernas foi trocado por patas, o que reflete a denominação dessa parte do corpo no entorno habitual do aluno. Assim, nomearam a vagina como ‘chichi’ (na Espanha, esse nome é de uso comum para esse órgão entre os mais novos. Corresponderia ao que chamamos de ‘perereca’), algo que não só corresponde ao uso comum dessa palavra em nosso contexto linguístico, como também a vestígios de uma concepção obscurantista do sexo.

Quando perguntamos o que existia dentro do corpo, as respostas foram as mais variadas (logicamente, por se tratar de uma pergunta muito aberta), mas ossos, sangue e coração foram as partes que apareceram com mais frequência.

Dos ossos, os mais nomeados foram o fêmur, seguramente pelo fato de ser o maior osso do corpo, e os pares de ossos (rádio e ulna, tíbia e fíbula), talvez porque, quando foram estudados, ficaram memorizados pela repetição sonora.

Na hora de explicar as diferenças entre os sexos, obtivemos uma maioria de respostas relacionadas ao comprimento do cabelo, à força e à roupa, ou seja, conceituações das diferenças sexuais ligadas à cultura, frequentemente impregnadas de valores sexistas.

Na pergunta sobre como respiramos e para que, pouquíssimos alunos se referem ao processo de inspiração e expiração, e a maioria somente nomeia nariz e boca como órgãos envolvidos nessa função. Além disso, obtivemos respostas como ‘dormindo’, ‘para cheirar’ e ‘com o oxigênio’. Nas respostas sobre a finalidade da respiração, frequentemente encontramos explicações finalistas: ‘Para viver’, ‘Para sobreviver’... Obtivemos o mesmo tipo de resposta quando lhes perguntamos para que servem o coração e o sangue.

Sobre como nascem as crianças, deparamo-nos com as seguintes respostas: ‘da barriga da mãe’, ‘pela bunda’, ‘pelas partes íntimas’, ‘pela vagina’, ‘se corta o cordão’, ‘com nossos pais’ e ‘com a mãe’. Isso denota, em geral, um conhecimento incompleto sobre esse tema e muitos erros devido à falta de informação.

O questionário permitiu-nos obter muita informação em pouco tempo e também que tivéssemos uma ideia aproximada das noções prévias dos meninos e meninas a respeito do tema da investigação.

Para as próximas ocasiões, deveremos modificar as perguntas que resultaram em respostas excessivamente ambíguas, e trabalhar as limitações lógicas de todo o questionário com a complementação de outras técnicas, onde alunos e alunas possam se expressar com mais detalhes. O diálogo, em suas múltiplas formas, talvez seja o método ideal para conseguirmos descrições de ideias e processos.

ESQUEMA DE CONCEITOS

Levando em conta as contribuições de nossos alunos e alunas e os conteúdos mais relevantes sobre o tema investigado, elaboramos um esquema dos conceitos mais importantes, com o objetivo de explicitar os conteúdos e as possíveis relações entre eles. Mais que uma organização linear e rígida dos conteúdos, propiciamos um enfoque global do tema, um espaço aberto onde as equipes de alunos construíam o conhecimento como uma sequência de suas progressivas indagações. Ao final do processo, a confecção de seus próprios mapas conceituais os ajudara a organizar e relacionar o fruto de suas descobertas e a detectar possíveis lacunas, conceituações errôneas ou hierarquização de ideias.

Foram formados nove grupos de cinco alunos cada um. Escrevemos na lousa as diferentes divisões em que subdividimos a investigação e as equipes elegem o tema que querem desenvolver, em função de suas preferências e das consequentes discussões com o resto da equipe. Foram distribuídas cadernetas individuais em forma de pasta, na qual os alunos organizam a informação.

Cada equipe dispõe de uma lista de palavras importantes (palavras-chave) relacionadas ao tema escolhido. O ponto de partida do trabalho consiste em buscar o significado dessas palavras-chave. Entregamos a cada equipe documentação escrita sobre os respectivos temas, grande quantidade de ilustrações, desenhos e esquemas. Utilizamos a biblioteca central, lousas magnéticas, murais com os diferentes órgãos e aparelhos e documentários em vídeo. Promovemos ainda um debate geral, moderado pelos próprios alunos, para comentar um vídeo sobre saúde. Isso foi feito para que a coleta de informações, por parte dos alunos, fosse um processo completo e baseado no uso de diversas fontes.

Com esses dados em mãos, as equipes redigiram uma exposição sobre o funcionamento dos sistemas corporais. Produziram esquemas e desenhos para integrar as informações e, finalmente, confeccionaram um mural que une tudo na forma de um grande jogo. Esta última fase de trabalho se mostrou muito enriquecedora: cada grupo explicou ao resto de seus companheiros os principais achados, utilizando distintos métodos e estimulando a participação de todos, mediante perguntas, discrepâncias e valorações.”