Exercício: Estilo Coreano de Administração da LG
Quando as companhias japonesas começaram a fabricar nos Estados Unidos, muitas pessoas riram de algumas de suas esquisitices empresariais, como os exercícios antes do trabalho, mas os analistas ficaram também abalados com a eficiência do estilo japonês de administração. Depois chegaram os coreanos, instalando suas próprias fábricas e trazendo sua versão de “harmonia” administrativa.
O Grupo Lucky-Goldstar (LG) abriu em 1983 uma fábrica de aparelhos de televisão a cores em Hunstville, no Alabama. Em 1985, o Grupo Samsung também começou a produzir TVs a cores, numa fábrica em Roxbury Township, em New Jersey. Apostando na possibilidade de fabricar com lucros nos Estados Unidos, exatamente quando os industriais americanos reclamam amargamente e até mesmo vão para outros países por causa da competição estrangeira, os coreanos contam com a capacidade de fundir aos métodos americanos seu estilo tradicional de administração.
O estilo coreano é semelhante ao já bem mais conhecido estilo japonês, apesar de especialistas dizerem que os coreanos dispõem-se mais a casar suas técnicas com os métodos americanos. A administração coreana estimula uma atmosfera familiar, onde os empregados interagem livremente com os executivos e compartilham um forte comprometimento com o sucesso da empresa.
Agindo mais como um patriarca gentil do que como o presidente da fábrica da LG, P. W. Suh assumiu a tarefa delicada de enxertar em Dixie os princípios de administração coreanos. O Sr. Suh admite ter havido momentos constrangedores – como a relutância de alguns trabalhadores americanos em usar uniformes, mas empregados e administradores geralmente apreciam o resultado.
“Você não acreditaria no que a LG faz por nós”, diz Rachei Cothren, fazendo uma pausa em seu trabalho na linha de montagem. “Meu marido estava no hospital, para uma grande cirurgia, e alguns membros da administração vieram me apoiar o tempo todo. O Sr. Suh veio e ficou comigo na UTI, e trouxe livros e revistas”. Essa imagem, cuidadosamente cultivada, de uma empresa imbuída de consideração que lembra uma família feliz, é característica do estilo coreano de administrar. Mas essa consideração não é gratuita. Ela se destina a manter os sindicatos à distância e a estimular na força de trabalho o tipo de lealdade e de entusiasmo que irá gerar mais televisores por hora do que são conseguidos pelo estilo americano de administrar. Uma medida desse sucesso é a média de 1 % na taxa diária de absenteísmo na LG, comparada com os 5% das empresas americanas.
A principal arma no arsenal coreano é sua filosofia de administração, o que os coreanos chamam de inhwa, ou harmonia. Na Coréia do Sul, a LG é um exemplo dessa teoria. “Se estivermos com pressa, podemos pedir aos empregados que tenham a consideração especial de fazer as coisas de modo diferente”, diz D. H. Koo, presidente das operações internacionais para o Grupo LG, explicando a abordagem coreana. “E eles vão atender. Mas nos Estados Unidos, talvez eles não liguem se houver pressa”.
O Sr. Koo e seus colegas nas salas de diretoria da LG desejam que os empregados da fábrica de Huntsville sejam solidários com a empresa e para isso estão tentando transplantar a inhwa. “Espero dedicação e lealdade no futuro, se ajudarmos a nossa família”, disse o Sr. Suh, usando o termo “família” para se referir à sua força de trabalho.
Falar aos empregados sobre os objetivos da empresa e até mesmo pedir ajuda são princípios básicos da LG. “Reuniões de família” são feitas mensalmente com todo o pessoal, e as discussões sobre qualidade são programadas a cada duas semanas. Além disso, são usadas bonificações para aumentar o entusiasmo. Cerca de três dias por semana os trabalhadores recebem um bônus (no valor de uma hora extra de trabalho), caso suas linhas de montagem tenham aumentado a produção, mantendo os níveis de qualidade.
Os empregados também recebem 50 dólares em dinheiro caso não faltem a um único dia de trabalho durante três meses. Métodos semelhantes de administração são usados na fábrica da Samsung em Roxbury Township. Ali também os empregados são chamados de família, e é enfatizada a interação entre trabalhadores e executivos.
Um dos motivos para os coreanos terem começado a fabricar nos Estados Unidos é seu medo de que regras protecionistas mantenham seus produtos fora dos mercados americanos. Em várias ocasiões, a LG viu-se diante de tribunais dos EUA, acusada de dumping (ou seja, de oferecer produtos por menos do que o seu valor real). Em um dos casos, a LG foi um dos principais acusados num processo que alegava que equipamentos telefônicos para pequenas empresas no valor de 275 milhões de dólares tinham sido sub-apreciados, o que viola a lei americana.
A despeito de seus esforços, a LG está achando particularmente difícil penetrar no mercado americano, porque a empresa não tem um produto de marca conhecida e os clientes já criaram lealdade por produtos americanos e japoneses. Além disso, as mudanças políticas na Coréia do Sul estão ameaçando a filosofia e a viabilidade econômica da LG e de outras chaebol (palavra coreana para grandes empresas de propriedade e direção familiar). As chaebol já foram o orgulho do país, e podiam contar com um governo autoritário para pagar suas contas, colocar os sindicatos fora da lei, manter os salários baixos e barrar a competição estrangeira. Hoje em dia, entretanto, a Coréia do Sul está ficando mais democrática e igualitária, de modo que as chaebol perderam os favores.
As greves de trabalhadores ajudaram os salários coreanos a subir em 60%, solapando uma das vantagens básicas que os produtores coreanos tinham sobre os competidores. As autoridades do governo esperam que empresas menores e mais ágeis liderem no futuro a economia coreana e por isso cortaram a ajuda às chaebol.
Essas mudanças ameaçam a sobrevivência das chaebol. A estratégia comum a elas tem sido a de deixar firmas americanas e japonesas desenvolverem novos produtos, que elas então copiam e fabricam com a barata mão-de-obra coreana, obtendo uma vantagem competitiva nos preços. Entretanto, dada a velocidade das mudanças tecnológicas hoje em dia, as empresas enfrentam enormes pressões para estar na linha de frente da pesquisa, para especializar seus produtos e para reagir rapidamente às mudanças. Como a LG tem um comprometimento com a inhwa, e uma abordagem democrática à administração e à tomada de decisão, ela pode estar mais bem equipada para enfrentar esses desafios do que as chaebol mais hierárquicas, que ainda refletem os interesses familiares. Contudo, o resultado final bom ou não da reação dessas empresas vai depender principalmente de como vai se comportar a combativa economia coreana.
Todas essas forças irão testar o vigor da capacidade gerencial e da filosofia empresarial da LG. Ao fabricar nos Estados Unidos, ela obteve importantes vantagens de mercado e um acesso mais seguro ao insaciável mercado americano de produtos de alta tecnologia. Mesmo assim, é a habilidade da LG de desenvolver o espírito de inhwa na sua sede que poderá determinar a sobrevivência da empresa.
Fonte: STONER, James A F., FREEMAN, R. Edward, Administração. Rio de Janeiro: PHB, 1995.
Questões
1) Quais similaridades podem ser observadas entre o estilo gerencial coreano visto no caso e as conclusões do experimento de Hawthorne?
2) Como o comportamento de empregados de empresas coreanas nos Estados Unidos se compara à Teoria X e à Teoria Y de Douglas McGregor?
3) Apresente uma reflexão sobre quais necessidades humanas (segundo Maslow) dos empregados são supridas pela administração da LG, por meio da filosofia inhwa.
4) Como você avalia o clima organizacional da LG, com base no que foi descrito no caso?