Programação

  • FLS 6451 A CRISE CONTEMPORÂNEA: CAPITALISMO E DEMOCRACIA

    Professor responsável: André Singer

     

    Objetivos

    A disciplina visa examinar uma bibliografia, clássica e contemporânea, a respeito das crises combinadas do capitalismo e da democracia. A pergunta principal que orientará as leituras diz respeito às hipóteses explicativas para a ligação entre crise capitalista e ascensão autoritária. Dentre as diversas perspectivas teóricas, vai se privilegiar o diagnóstico do sociólogo Wolfgang Streeck, segundo o qual o crash financeiro de 2008 abriu um interregno semelhante ao identificado por Antonio Gramsci no final dos anos 1920. Segundo Streeck, no interregno, cadeias habituais de causa e efeito ficam suspensas, gerando acontecimentos inesperados e perigosos, como a atual ascensão da nova direita, cuja inclinação autoritária encontra-se bem documentada.

    A primeira parte do curso estará voltada para a revisão de análises anteriores à crise de 2008. Seguindo a pista suscitada por Streeck, começaremos com o próprio Gramsci. Na sequência, analisaremos, em ordem cronológica, algumas teses clássicas a respeito da dupla crise até desembocar na ideia de tempo comprado, cujo fim inauguraria o interregno. Na segunda parte do curso, colocaremos sob escrutínio trabalhos que procuram dar conta de diferentes desenvolvimentos recentes, os quais caracterizam a situação atual.

    Justificativa

    Em várias regiões do mundo, os regimes democráticos passam por um profundo teste de stress, questionados em seus alicerces por ondas de insatisfação popular. Países de longa tradição democrática – os Estados Unidos, assim como os da Europa Ocidental –, veem crescer alternativas autoritárias. Em alguns casos, porta-vozes de tais alternativas alcançaram o governo. Algo semelhante ocorre em regiões de experiência democrática mais recente, como é o caso do Brasil e da América Latina. O tema, candente, tem suscitado intenso debate público e acadêmico, cujo índice é a vasta bibliografia que o aborda. A disciplina pretende examinar os fatores que regem a crise institucional, partindo da suposição de que ela guarda estreita relação com a dinâmica do capitalismo e, especialmente, a “grande recessão” iniciada com o colapso financeiro global de 2008.

    Metodologia 

    Esta versão do programa ainda sofrerá ajustes até o início das aulas, na terça-feira, 05/04/2022, 14h. Pensado como curso híbrido, teremos que aguardar a evolução da Covid-19 para vermos o quadro de possibilidades mais perto do início das aulas. De toda maneira, na ocasião serão determinadas as leituras semanais, a dinâmica dos encontros e demais aspectos organizacionais.

    Avaliação

    Participação nos encontros e trabalho final a ser entregue no encerramento das aulas. 

  • Apresentação do Curso

  • Semana santa

     12 de abril de 2022 - Não Haverá Aula

  • Entre cesarismo e fordismo

    19 de abril de 2022

    Texto de referência: Antonio Gramsci. Cadernos do cárcere, Volumes 3 e 4. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2012.

    Leituras obrigatórias: Caderno 13 (1932-1934) Breves notas sobre a política de Maquiavel, do parágrafo 23 ao parágrafo 27 (inclusive) e Caderno 22 (1934) Americanismo e fordismo (Total: 60 páginas).



  • A destrutividade fascista

    26 de abril de 2022 
    Texto de referência: Leon Trotsky. Como esmagar o fascismo. São Paulo, Autonomia Literária, 2018.
    Leituras obrigatórias: “E agora?” (partes 6 e 7), “O único caminho” (Introdução e partes 1, 2, 3, 4 e 5) e “O que é o nazismo” (Total: 50 páginas).
    • Indicação específica da leitura 
      No texto "E agora?", trata-se das partes
       6: As lições da experiência russa; e 7: A experiência italiana.
      No texto "O único Caminho", trata-se das partes 
      1: Bonapartismo e fascismo
      2: Burguesia, pequena burguesia e proletariado
      3: Aliança ou luta entre a social-democracia e o fascismo?
      4: A luta de classes à luz do ciclo econômico
      5: O caminho para o poder
      Já o texto "O que é o nazismo" é para ser lido completo. 

    • Indicação específica da leitura 
      No texto "E agora?", trata-se das partes
       6: As lições da experiência russa; e 7: A experiência italiana.
      No texto "O único Caminho", trata-se das partes 
      1: Bonapartismo e fascismo
      2: Burguesia, pequena burguesia e proletariado
      3: Aliança ou luta entre a social-democracia e o fascismo?
      4: A luta de classes à luz do ciclo econômico
      5: O caminho para o poder
      Já o texto "O que é o nazismo" é para ser lido completo. 

  • A permanência da extrema-direita

    03 de maio de 2022

    Texto de referência: Theodor Adorno. Aspectos do novo extremismo de direita. São Paulo, Unesp, 2020.

    Leitura obrigatória: Texto integral da conferência (32 páginas).


  • A nova etapa capitalista

    10 de maio de 2022 

    Texto de referência: Robert Kurz. O colapso da modernização. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992.

    Leituras obrigatórias: Capítulo 8: “O fracasso da modernização” e Capítulo 9: “A crise do sistema mundial produtor de mercadorias” (Total: 52 páginas).


  • O crash de 2008 e a volta da indeterminação

    17 de maio de 2022

    Texto de referência: Wolfgang Streeck. Tempo Comprado: a crise adiada do capitalismo democrático. São Paulo, Boitempo, 2018.

    Leituras obrigatórias: Tempo comprado, Cap. 1: Da crise de legitimidade à crise fiscal.

    Wolfgang Streeck “O retorno dos reprimidos como início do fim do capitalismo neoliberal” In Heinrich Geiselberger (org.). A grande regressão. São Paulo, Estação Liberdade, 2019, Capítulo 13 (Total: 62 páginas).


  • Movimentos sociais pós-2008

    24 de maio de 2022 

    Texto de referência: Paolo Gerbaudo. The mask and the flag: populism, citizenism, and global protest. Oxford, Oxford University Press, 2017.

    Leitura obrigatórias: Introdução e Capítulo 1 Movements in the crisis of neoliberalism (Total: 57 páginas)


  • A economia no interregno

    31 de maio de 2022

    Texto de referência: David Harvey. A loucura da razão econômica. São Paulo, Boitempo, 2019.

    Leitura obrigatória: Capítulo 9 A loucura da razão econômica (46 páginas).

  • O fator chinês

    07 de junho de 2022 

    Texto de referência: Adam Tooze. Crashed: how a decade of financial crises changed the world. Nova York, Viking, 2018.

    Leituras obrigatórias: Crashed. Cap. 10: “The Wind from the East: China”.

    Victor Shih. “China’s credit conundrum”. New Left Review, 115, Jan.-Fev. 2019 (Total: 40 páginas).

    Leitura complementar: Isabella M. Weber. How China escaped shock therapy: the market reform debate. Nova York, Routledge, 2021.


  • O efeito pandêmico

    14 de junho de 2022 

    Texto de referência: Boaventura de Sousa Santos. O futuro começa agora: da pandemia à utopia. São Paulo, Boitempo, 2021.

    Leitura obrigatória: Cap. 5 “O Estado: exceção e democracia em tempos de pandemia” (39 páginas).

    Leitura complementar: Adam Tooze. Portas fechadas: como a covid abalou a economia mundial. São Paulo,Todavia, 2021.



  • A experiência Trump e a vitória de Biden

    21 de junho de 2022 

    Leituras obrigatórias: Perry Anderson. “Passing the baton”. New Left Review, 103, Jan.-Fev. 2017. 

    Dylan Riley. “What is Trump”, New Left Review, 114, Nov.-Dez. 2018;

    Dylan Riley. Faultlines, New Left Review, 126, Nov-Dez. 2020. (Total: 64 páginas)

    Leituras complementares:

    David Sirota. “The democrats are truing to loose”. Jacobin. 20/11/2021. https://jacobinmag.com/2021/12/the-democrats-are-trying-to-lose

     

    Branko Marcetic. “Joe Biden promised change. He hasn’t delivered”. Jacobin. 22/01/2022. https://www.jacobinmag.com/2022/01/president-joe-biden-one-year-review-promises-trump-policy


  • A volta da guerra

    28/06/2022 

    Leitura obrigatória: Wolfgang Streeck. “Fog of war”. Sidecar, 01/03/2022. https://newleftreview.org/sidecar/posts/fog-of-war

    Leitura complementar: Robin Niblett. “Liberalism in Retreat: the Demise of a Dream”, Foreign Affairs, 2017.


  • Bibliografia complementar

    ADORNO, Theodor. Ensaios sobre Psicologia Social e Psicanálise. São Paulo: Ed. Unesp, 2015. Cap. 3 “Antissemitismo e Propaganda Fascista” e Cap. 4 “Teoria Freudiana e o padrão da propaganda fascista”.

    BROMWICH, David. American Breakdown: the Trump years and how they befell us. Londres: Verso, 2019.

    BROWN, Wendy. Nas ruínas do Neoliberalismo. São Paulo: Politeia, 2019.

    DARDOT, Pierre; Laval, Christian. Never ending nightmare. Londres: Verso, 2019.

    FRASER, Nancy. Crise de legitimação? Sobre as contradições políticas do capitalismo financeirizado. In: Cadernos de Filosofia Alemã. Vol 23, 2018.

    __________. Por que dois “Karls” é melhor do que um? Integrando Polanyi e Marx numa teoria crítica da crise atual.” Working Paper apresentado na Universidade de Jena, 2017.

    (Link: https://eleuterioprado.files.wordpress.com/2019/02/por-que-dois-karls-c3a9- melhor-do-que-um-1.pdf)

    __________. The old is dying and the new cannot be born. Londres: Verso, 2019.

    HABERMAS, Jürgen. A crise de legitimação no capitalismo tardio. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1980.

    HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. São Paulo, SP: Boitempo, 2011. 224p

    MILANOVIC, Branko. Capitalismo sem rivais. São Paulo: Todavia, 2020.

    NEIWERT, David. Alt-America: The Rise of the Radical Right in the Age of Trump. Londres: Verso, 2017.

    PRZEWORSKI, Adam. Crises da democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

    RUGITSKY, Fernando. “O declínio do neoliberalismo: uma peça em três atos”.  In: Revista de Economia Política. 2020, vol.40, n.4, pp.587-603.

    SANTOS, Boaventura de Sousa. Esquerdas do mundo, uni-vos. São Paulo: Boitempo, 2018.

    WISTRICH, Robert. “Leon Trotsky's Theory of Fascism”. In: Journal of Contemporary History. Vol. 11, No. 4, Special Issue: Theories of Fascism (1976), pp. 157-184.