Kursthemen
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Código da Disciplina: FLA0375 - Tópicos de Antropologia Rural
Período/Turma: 01/2023, 2as feiras, das 19h20 às 22h30
Docente: Prof. Dr. Guilherme Moura Fagundes (gmfagundes@usp.br – Sala 2107) - https://fflch.academia.edu/GuilhermeFagundes
Monitor (mestrado): Frederico Sabanay (frederico.sabanay@usp.br)
PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO NO ANTROPOCENO
Eland and Benko (2015) – Courtesy Hannelie Coetzee
Apresentação
O curso fornece um programa de pesquisa em antropologia ambiental acerca dos fenômenos da preservação, conservação e restauração no Antropoceno. A partir de três Unidades temáticas, nossa ênfase se concentra na interface entre áreas protegidas e formas de vida emergentes. Na Unidade I, interpelamos o preservacionismo enquanto sintoma do naturalismo ocidental, bem como seus limites frente ao socioambientalismo brasileiro e a dupla crítica (ambiental e colonial) da crise ecológica. A Unidade II é dedicada à conservação ambiental enquanto fenômeno tecnopolítico. Os acordos com populações tradicionais, as iniciativas de patrimonialização de sistemas agrícolas e promoção da (agro)biodiversidade, bem como as estratégias de compatibilização de mundos mais que humanos nos prestarão para demonstrar como que, para além de seu caráter normativo e administrativo, as áreas protegidas instituem ritmos, espacialidades e interações multiespécie. Por fim, a Unidade III trata da restauração ambiental enquanto terapêutica do Antropoceno. Situações de resselvageamento, feralização, reparação e reabilitação serão abordadas enquanto problemáticas da saúde e doença planetárias. Inserida na grade eletiva do Departamento de Antropologia da FFLCH/USP, a disciplina busca facilitar o treinamento metodológico e a ampliação do repertório temático para estudantes de ciências sociais e áreas afins, articulando dimensões teóricas com incidências na formulação de políticas públicas. O objetivo principal do curso é estimular o desenvolvimento de pesquisas etnográficas relativas à gestão ambiental no Antropoceno.
Metodologia: Para atingir aos objetivos propostos, o curso se baseia em aulas expositivas, leitura e discussão dos textos indicados, grupos de estudo dirigido, seminários introdutórios e projeção de documentários. É de inteira responsabilidade dos/as alunos/as, a leitura antecipada dos textos indicados no conteúdo programático. Serão disponibilizadas matrizes dos textos e referências complementares (inclusive audiovisuais) na plataforma Moodle.
Avaliação: a avaliação será composta por um estudo dirigido e seminários de apresentação, ambos realizados em grupos de até sete estudantes, além de trabalho final individual ou em grupos até três estudantes. A menção resultará da seguinte pontuação:
❖ Estudo dirigido em grupos de sete estudantes: 25%
❖ Seminários em grupos de até sete estudantes (no início de cada aula): 25%
❖ Trabalho final individual ou grupos de até três estudantes: 50 %
Conteúdo geral
UNIDADE 1 – Provincializar o preservacionismo
● Superar a dupla fratura ambiental e colonial
● Preservação como sintoma
● Do ambientalismo ao socioambientalismo
UNIDADE 2 – Tecnopolíticas da conservação
● Populações tradicionais e pactos conservacionistas
● Conservação como técnica
● Sistemas agrícolas e patrimonialização
● Conservação como política multiespécie
UNIDADE 3 – Terapêuticas da restauração
● Do Antropoceno ao Plantationceno
● Resselvageamento e feralização
● Reparar o planeta
● Reabilitar o fogo
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Leitura obrigatória:
FERDINAND, Malcom. 2022. “Prólogo”; “Parte I; “Parte II”.Uma ecologia decolonial: pensar a partir do mundo caribenho. São Paulo: UBU. (pp. 20-150)
Referência complementar:
FERDINAND, Malcom; FAGUNDES, Guilherme. Diálogos entre-mundos negros. Diálogos Socioambientais, [S. l.], v. 6, n. 17, p. 48–55, 2023. Disponível em: https://periodicos.ufabc.edu.br/index.php/dialogossocioambientais/article/view/935. Acesso em: 23 ago. 2023..
Fórum do livro Uma Ecologia Decolonial (CestA/LISA/USP):
Sessão 1:
Sessão 2:
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Leitura obrigatória:
DIEGUES, Antônio Carlos. 1996. 0 mito moderno da natureza intocada. São Paulo: HUCITEC.. (pp. 13-40)
LATOUR, Bruno. 2012. A ecologia política sem a natureza?. Projeto História : Revista Do Programa De Estudos Pós-Graduados De História, 23. Recuperado de https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/10667
Referência complementar:
LATOUR, Bruno. 2019. Políticas da natureza: como associar as ciências a democracia. Trad. Carlos Aurélio Mota de Souza. São Paulo: Editora UNESP.
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Leitura obrigatória:
SANTILLI, Juliana. 2005. “Capítulo 1 - Desenvolvimento histórico e contexto político e social do surgimento do movimento socioambientalista no Brasil”. In: Socioambientalismo e novos direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e cultural. São Paulo/Petrópolis: ISA/Instituto Internacional de Educação do Brasil.
LOBÃO, Ronaldo. 2010. “Capítulo 1 – Reservas Extrativistas: trajetórias de reprodução social ou de proteção ambiental?”. In: Cosmologias políticas do neocolonialismo: como uma política pública pode se transformar em uma política do ressentimento. Niterói: Editora da UFF, 2010
Referência complementar:
MERCADANTE, Mauricio. 2001. "Uma década de debate e negociação: a história da elaboração da Lei do SNUC". In: Direito Ambiental das Áreas Protegidas: o Regime Jurídico das Unidades de Conservação. Benjamin, Antônio Herman (org). Forense Universitária.
QUEIROZ, H. L.. 2005. A reserva de desenvolvimento sustentável Mamirauá. Estudos Avançados, 19(54), 183–203. https://doi.org/10.1590/S0103-4014200500020001
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Leitura obrigatória:
SANTOS, Antônio Bispo. 2023. “Colonialismo de submissão”. In: A terra dá, a terra quer. São Paulo: UBU.
ACSELRAD, Henri. 2010. “Ambientalização das lutas sociais: o caso do movimento de justiça ambiental”. Estudos Avançados (USP.Impresso), v. 24, p. 103-120, 2010
Referências fílmicas:
“Chico Mendes: Eu Quero Viver. Brasil” (Documentário. Dir. Adrian Cowell & Vicente Rios. 1989. 56min.)
Sessão: -
Leitura obrigatória:
CUNHA, Manuela Carneiro da; ALMEIDA, Mauro. Populações Indígenas, Povos Tradicionais e Conservação na Amazônia. In: CAPOBIANCO, J. P. et al. (Eds.) Biodiversidade na Amazônia Brasileira: avaliação e ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios. São Paulo: Instituto Socioambiental e Estação Liberdade, 2001. pp. 184-193.
BARRETO FILHO, Henyo. Populações tradicionais: introdução à crítica da ecologia política de uma noção. In: ADAMS, Cristina; MURRIETA, Rui & NEVES, Walter (Orgs.). Sociedades caboclas amazônicas: modernidade e invisibilidade. São Paulo: Annablume, 2006.
Referência complementar:
LITTLE, P. E. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma antropologia da territorialidade. Série Antropologia UnB, n. 322. Brasília, 2002.
ALMEIDA, A. W. B.. Terras de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livres”, “castanhais do povo”, faxinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas. Manaus: PPGSCA/UFAM, 2006.
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Leitura obrigatória:
BARRETTO FILHO, Henyo Trindade. 2010. “Áreas naturais, artefatos culturais: uma Perspectiva Antropológica sobre as Unidades de Conservação de Proteção Integral na Amazônia Brasileira”. In: A. W. B. de Almeida e E. de A. Farias Júnior (Org.). Mobilizações étnicas e transformações sociais no Rio Negro. Manaus: UEA Edições, pp. 148–212
SAUTHUKC, Carlos; FAGUNDES. Guilherme Moura. 2020. “Conservação como técnica: transformações na pesca amazônica e nos incêndios cerratense”s. In: Neves, Fabrício (org.) 2020. Tramas Epistêmicas e Ambientais: Contribuições dos Estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Rio de Janeiro: 7Letras: 63-82.
Referência complementar:
LATOUR, Bruno, 2001. “Referência circulante: Amostragem do solo na floresta Amazônica”. In: A esperança de Pandora. Bauru: Edusc, p. 39-96.
GUERRERO, Natalia Ribas. «Em termos alheios: Contradições da implementação de termos de compromisso em territórios tradicionalmente ocupados», Anuário Antropológico [Online], v.45 n.1 | 2020, posto online no dia 27 janeiro 2020, consultado o 07 agosto 2023. URL: http://journals.openedition.org/aa/4941; DOI: https://doi.org/10.4000/aa.4941
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Leitura obrigatória:
EMPERAIRE, Laure. 2005. A biodiversidade agrícola na Amazônia brasileira: recursos e patrimônio. In Carneiro da Cunha (org.) Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 32: 23-35.
Santos, Bethânia Gabrielle dos; Branquinho, Fátima Teresa Braga. 2020; «Humanos, sempre-vivas e outros-que-não-humanos: coletando e compondo o mundo comum no Espinhaço Meridional-MG», Anuário Antropológico [Online], v.45 n.3 | 2020, posto online no dia 16 setembro 2020, consultado o 10 agosto 2023. URL: http://journals.openedition.org/aa/6591; DOI: https://doi.org/10.4000/aa.6591
Referência complementar:
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 2005. “Introdução”. In: Patrimônio imaterial e biodiversidade. Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 32: 15-27.
MAZOYER, Marcel & Rooudart, Laurence. 2008. História das agriculturas no mundo: do neolítico à crise contemporânea. São Paulo: Ed. UNESP
MONTEIRO, F. T. et al. .2019. “Sistema Agrícola Tradicional da Serra do Espinhaço Meridional - Transumância, biodiversidade e cultura nas paisagens manejadas pelos(as) apanhadores(as) de flores sempre-vivas.. In: Jane Simoni Eidt; Consolacion Udry.. (Org.). Sistemas Agrícolas Tradicionais no Brasil (Coleção Povos e Comunidades Tradicionais).. 1a.ed.Brasília: EMBRAPA, 2019, v. 03, p. 93-139.
Referências fílmicas:
“Tempo da Roça, Tempo da Campina” (Documentário. Dir. Cláudio Tâmela. 2020. 25min.)
Sessão:
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Leitura obrigatória:
SUSSEKIND, Felipe. «A onça-pintada e o gado branco», Anuário Antropológico [Online], v.37 n.2 | 2012, posto online no dia 01 outubro 2013, consultado o 07 agosto 2023. URL: http://journals.openedition.org/aa/170; DOI: https://doi.org/10.4000/aa.170
DUPIN, L. V.; CINTRAO, R. . “Entre bactérias e lobos: o cerco biopolítico sobre a produção do queijo Canastra”. R@U : REVISTA DE ANTROPOLOGIA SOCIAL DOS ALUNOS DO PPGAS-UFSCAR, v. 18, p. 53-79, 2018.
Referência complementar:
Kirksey, S. E., Helmreich, S., Vander Velden, F. F., & Cardoso, T. M. (2020). A emergência da etnografia multiespécies. Revista De Antropologia Da UFSCar, 12(2), 273–307. https://doi.org/10.52426/rau.v12i2.359
Silveira, Pedro Castelo Branco, e Rafael Palermo Buti. 2020. “A Vida E a Morte Dos Guaiamuns: Antropologia Nos Limites Dos Manguezais”. Anuário Antropológico 45 (1):117-48. https://doi.org/10.4000/aa.4945
Referências fílmicas:
“Onceiros” (Documentário. Dir. Felipe Sussekind. 2012, 21min.)
Sessão:
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Leitura obrigatória:
HARAWAY, Donna. 2016. Antropoceno, Capitaloceno, Plantationceno, Chthuleceno: fazendo parentes. Tradução: Susana Dias, Mara Verônica e Ana Godoy. ClimaCom Cultura Científica, , ano 3, n. 5, abril, p. 139-146.
TSING, Anna L. 2019. “Sobre a não escalabilidade: o mundo vivo não é submisso a escalas de precisão aninhadas”. In: Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Tradução: Thiago Mota Cardoso et al. Brasília: IEB Mil Folhas.
Referência complementar:
HARAWAY, Donna; ISHIKAWA, Noboru; GILBERT, Scott F.; TSING, Anna; BUBANDT, Nils. Anthropologists are talking – about the Anthropocene. Ethnos, v. 81, n. 3, p. 535-564, 2016. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00141844.2015.1105838. Acesso em: 31 maio 2021.
MARRAS, S. (Org.) ; TADDEI, R. (Org.) . O Antropoceno: sobre modos de compor mundos. 1. ed. São Paulo: Fino Traço, 2022. v. 1. 306p
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Leitura obrigatória:
TSING, Anna. O Antropoceno mais que humano. Ilha, 23(1): 176-191, 2021
SORDI, Caetano. 2022. O javali, o capim-annoni e as paisagens ferais do Brasil Meridional. REVISTA DO CENTRO DE ESTUDOS RURAIS (RURIS), v. 13, p. 76-107.
Referência complementar:
FAUSTO, J. . LA PENSÉE FÉRALE. Das Questões, [S. l.], v. 8, n. 2, 2021. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/dasquestoes/article/view/37662. Acesso em: 8 ago. 2023.
TSING, Anna L et al. Atlas Feral. Site. https://feralatlas.org
_____ 2019. “O Cervo, o Touro e o sonho do veado: algumas pragas inesperadas do Antropoceno”. In: Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Tradução: Thiago Mota Cardoso et al. Brasília: IEB Mil Folhas.
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Leitura obrigatória:
Danowski, Débora; Viveiros de castro, Eduardo. 2014. "O fim do mundo como acontecimento fractal". In: Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins, Florianópolis, Desterro, Cultura e Barbárie e Instituto Socioambiental,, pp. 126-142
TADDEI, R..2022. “Alter geoengenharia”. In: Danowski, D.; Viveiros de Castro, E.; Saldanha, R.. (Org.). Os Mil Nomes de Gaia - Do Antropoceno à Idade da Terra. 1ed.Rio de Janeiro: Machado, v. 1, p. 218-238
Referência complementar:
Lorimer, Jamie. 2020. The Probiotic Planet: Using Life to Manage Life. Minneapolis, MN: University of Minnesota Press.
Gé Bartoli, David; Gosselin, Sophie. 2019. Le toucher du monde: Techniques du naturer Éditions Dehors.
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Leitura obrigatória:
PYNE, Stephen J. 2023. “Capítulo 5”. In: Piroceno: como a humanidade criou uma Idade do Fogo e o que virá a seguir. Ed. Zigurate
FAGUNDES, Guilherme Moura. “Fire normativities: environmental conservation and quilombola forms of life in the Brazilian savanna”. VIBRANT (FLORIANÓPOLIS), v. 16, p. 1-22, 2019.
Referência complementar:
NEALE, t. 2022 “What tradition affords: articulations of indigeneity in contemporary bushfire management”. Curr. Anthropol., 64 (1) 10.1086/722533
PETRYNA, Adriana. 2022. Horizon Work: At the Edges of Knowledge in an Age of Runaway Climate Change. Princeton Press
Referência fílmica:
FAGUNDES, Guilherme Moura. 2017. “Outro fogo” (filme etnográfico, 21 min.,Brasil, 2017)
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