Esta disciplina surge de um primeiro esforço em reunir textos de autoras (e autores) latino-americanas e africanas que desafiam a categoria de gênero, apontando-a como parte integrante do aparato colonizador de territórios, corpos e epistemologias. Autoras como María Lugonnes, Gloria Anzaldúa, Lélia Gonzalez, Filomina Chioma, Achola Pala, Sylvia Tamale, Ifi Amadiume, Oyèrónké Oyěwùmí, dentre tantas outras, não apenas inquirem e afrontam o estabelecido campo dos estudos de gênero, mas vêm promovendo, desde alguns anos, transformações estruturais na área. Esta produção, que é plural e heterogênea, critica teorias consolidadas e seus modos de pensar a categoria gênero. Para além de apresentarem saberes e teorias complementares ou alternativos, estas intelectuais constroem pensamentos diversos daqueles desenvolvidos no Western. Diferente de apenas produzirem a crítica e indicarem saídas, estas autoras elaboraram teorias latino-americanas e africanas sobre gênero, colocando a anterioridade da senioridade em relação à sororidade no que diz respeito ao mundo das mulheres africanas, reafirmando que a formatação dos papéis de gênero é algo imposto pelo colonizador. Além disso, fazem frente ao feminismo branco civilizatório com o legado do matriarcado e a expressão do motherism (e tantos outros feminismos). Aposta-se na conversa e complementaridade dos pensamentos latinoamericanos e africanos sobre gênero, suas contestações ao “Feminismo” e enfrentamento ao constructo Mulher enquanto termo de caráter universal. Por fim, esta disciplina busca se debruçar sobre a grande virada de pensamento e produção de pesquisa empreendida por estas autoras, que seja, a mudança epistemológica. A partir delas, o foco deixou de ser a África e a América Latina (e mesmo a Ásia) como objetos de estudo, passando a ter atenção a forma ocidental de se estudar gênero, até então, algo naturalizado e tido como um dado. Em consequência destas reflexões, ocorre um turning point como muito bem apontado pela socióloga africana Oyèrónké Oyěwùmí, que sugere a necessidade da construção de “um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero”. Ou seja, há uma virada de pensamento empreendida por este grupo de pensadoras, que buscam dar sentido não aos fazeres e saberes de seus grupos e comunidades, ao contrário, formulam reflexões a partir de África e da América Latina para compreender a colonialidade do poder imposta pelo Western colonizador, sendo a categoria gênero e seu emprego um dos braços perversos deste sistema. Critérios de avaliação: Como o nome da disciplina indica: interrogar e inquirir a bibliografia será o nosso principal objetivo. De acordo com isso, a habilidade de questionar os artigos será incentivada e avaliada. Em cada aula, o aluno escolherá um dos artigos e proporá uma pergunta a ele. A estratégia de avaliação é estimular e promover uma leitura atenta e crítica de teorias e categorias como muito bem fizeram as autoras africanas e latina-americanas a serem estudadas na presente disciplina. Teremos também seminários preparados pelos alunos (em grupos) para debater as categorias encontradas nos textos. Esta atividade é inspirada na obra monumental organizada por Tim Ingold: “Key Debates in Anthropology” (1996). Por fim, os alunos escolherão duas unidades para discutir em formato de textos (Classe 8 / Classe 15) – Atividade Individual. -Trazer perguntas para interrogar a Bibliografia - 40% da Avaliação - Dois artigos (Classe 8 / Classe 15) - 40% da avaliação - Seminários (“Key Debates”) - 20% de avaliação