O curso propõe uma incursão pela literatura antropológica sobre povos indígenas das terras baixas sul-americanas tomando como ponto de partida o debate, instaurado na década de 1990, entre autores que sustentavam a centralidade de uma lógica da predação expressa sobretudo na vida ritual, e aqueles que enfatizavam a importância das práticas cotidianas de cuidado e produção de parentesco como eixos alternativos para a compreensão dos mundos ameríndios. Após retomar alguns dos trabalhos mais significativos desse período extremamente fecundo do americanismo tropical, partiremos para a leitura de trabalhos etnográficos mais recentes, buscando rastrear como os temas da predação e do cuidado vem sendo trabalhados na literatura etnológica contemporânea, o que inclui uma reconsideração sobre a própria oposição predação vs. cuidado, tal como se apresentava naquele debate. Veremos como esses temas se recolocam sobretudo para aqueles que vêm pensando os impactos da ininterrupta destruição dos territórios e modos de vida indígenas, e de suas estratégias de resistência diante da catástrofe, bem como questões de gênero na amazônia indígena.