A atitude de se pensar a música incide diretamente no pensar “sonoramente” (imagem auditiva) e no pensar “sobre” música.Considerando a análise musical como um processo interpretativo essencial ao trânsito de informações entre a prática e a teoria, propomos um curso de análise musical de obras compostas nos séculos XX e XXI que envolve a inter-relação de elementos musicais formativos de obras musicais, e que requer tanto uma expansão da percepção auditiva do aluno como uma assimilação de conceitos terminológicos apropriados.

O curso inicia-se pela ideia de motivo, por considerar que obras musicais ocidentais organizadas a partir de coleções referenciais tendem a ser motívicas. Propõe que o contraste entre a concepção de variações em desenvolvimento como realizadoras das implicações do motivo inicial (Grundgestalt), de Schoenberg, e a de elemento estruturante que recorre em momentos de articulação de uma peça, de Schenker, seja ampliado pela moldagem recíproca de forma e conteúdo proposta por Schmalfeldt (2011). Na sequência, o curso trata da teoria transformacional (COHN, 1998, 2000; STRAUS, 2005), que amplia o raciocínio da progressão harmônica por quintas através de um foco na transformação de acordes por terças.

Os processos composicionais envolvidos no conceito de centricidade estarão implicados em questões relacionadas a espaços de afinidades (MARTINS, 2006, 2011, 2015), coleções referenciais e simultaneidade espacial multicêntrica (STRAUS, 2005, 2014; ARAÚJO, 2017), importantes contributos para uma compreensão mais orgânica do que tem sido considerado descontínuo nas práticas harmônicas de Stravinsky e que influenciaram vertentes composicionais posteriores.

Desenvolvida desde meados dos anos 1950, a prática da análise da música eletroacústica, em que o som é tanto o material composicional como o elemento estrutural, pode se valer dos recursos disponibilizados pela espectromorfologia (SMALLEY, 1986, 1997, 2007). Tais conceitos podem se estender a obras que fazem uso de instrumentos acústicos (MOREIRA, 2019). Nas últimas décadas, a utilização de suportes tecnológicos na área de Análise Musical foi intensificada especialmente através do estabelecimento de novas plataformas e campos de interação.

Em tal contexto, diversos aplicativos e softwares oferecem mecanismos auxiliares ao interesse analítico. Sendo assim, a convergência entre segmentos do corpus teórico-analítico com estímulos provenientes de suportes tecnológicos será estimulada. As últimas aulas do curso serão voltadas à apresentação de comunicações orais dos alunos e à entrega de um artigo.