Arranjos de vozes em textos jornalísticos: quem discute educação na cobertura sobre avaliações externas?
Autora: Adriana Santos Batista
Resumo
Nesta pesquisa teve-se como objetivo analisar os arranjos de vozes estabelecidos em textos jornalísticos sobre avaliações externas. De modo mais específico, a proposta foi observar em textos publicados pela Folha de S.Paulo sobre o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) os seguintes aspectos: a caracterização dos locutores presentes nos textos, tanto como autores, entrevistados ou fontes jornalísticas; a heterogeneidade enunciativa e formas de inserção do discurso relatado; os modos por meio dos quais as diferentes vozes presentes nos textos são articuladas a fim de sustentar determinadas posições do jornal; e as relações interdiscursivas e dialógicas estabelecidas entre os textos e os elementos materializados no jornal. Para a constituição do corpus, foram selecionados vinte e quatro textos sobre o Ideb 2009 e dezessete sobre o Pisa do mesmo ano, todos publicados pela Folha de S.Paulo em 2010, logo após a divulgação dos resultados. Optou-se pelo uso da versão impressa, disponível no acervo digital do jornal, para que fosse possível examinar, além do conteúdo escrito, a disposição do texto e das imagens no material publicado. Como referencial teórico para as análises, foram mobilizados estudos pertencentes, principalmente, à Análise do Discurso e a diferentes correntes acerca da enunciação. Os conceitos basilares foram dialogismo (BAKHTIN, 1997, 2010), heterogeneidade enunciativa e discurso relatado (AUTHIER-REVUZ, 1990, 1999, 2004), interdiscurso (PÊCHEUX, 1993) e locutor (DUCROT, 1987). Da esfera jornalística, foram abordados também os conceitos de fontes e gêneros jornalísticos com base, sobretudo em Melo (1985) e Lage (2008). Por meio das análises realizadas, concluiu-se que, com relação aos locutores, nos textos publicados pelo jornal, predominam enunciados provenientes da esfera governamental e de think tanks, sendo que a esses últimos é atribuído o papel de fontes expert, aquelas que detêm o conhecimento teórico capaz de debater os resultados divulgados e apresentar propostas de ação. Ao saber acadêmico é relegado papel secundário, tanto quantitativamente quanto pelas maneiras como os enunciados associados a representantes de universidades são dispostos nos textos. No que diz respeito ao conteúdo, há predominantemente uma tendência à polarização entre ensino público e privado, com valorização das práticas do segundo em relação ao primeiro; consideração dos dados obtidos pelas avaliações como rankings e propagação do discurso da competitividade.