- Docente: Jonathan Peter Phillips
- Docente: Marta Teresa da Silva Arretche
FLP0403 - Sistemas partidários e sistemas eleitorais: o governo representativo brasileiro em perspectiva comparada (1889-1937)
Professores responsáveis:
Paolo Ricci
Ementa
Este curso aborda o funcionamento do governo representativo no Brasil republicano (1889-1930) e na Era Vargas (1930-1937). Por governo representativo entende-se o conjunto dos mecanismos eleitorais adotados para a seleção dos representantes. Para estuda-lo, três aspectos serão enfatizados: 1) o papel dos partidos; 2) o papel do eleitor; 3) a inovação institucional (as reformas eleitorais). O escopo do curso é ir além dos estereótipos comuns acerca do mau funcionamento do governo representativo – basicamente centrados na ideia de fraude eleitoral, ausência de competição política, violação do direito ao voto – para entender como de fato as eleições se estruturavam na época. O período de tempo analisado (de 1889 até 1937) permitirá compreender como as elites da época se adaptaram às mudanças de regime e situar o caso brasileiro dentro de uma perspectiva comparativa.
Avaliação
Semanais, as aulas desta disciplina serão expositivas e, para efeitos de avaliação, as leituras obrigatórias farão parte da matéria das provas. A nota final será composta a partir de uma atividade de pesquisa programada e de uma prova escrita, no meio do semestre (com 70% de peso na média final). A atividade de pesquisa dirá respeito à revisão bibliográfica de um tópico tratado entre as aulas IX e XIII utilizando-se a pesquisa do tema em jornais de época acessíveis no site da hemeroteca da Biblioteca Nacional. Instruções para a atividade programada serão detalhadas no andamento do curso e a sua realização garantirá 30% da média final do curso. Já a prova será individual e sem consulta, quer a livros, quer a anotações. Em caso de impossibilidade de realização da prova, o aluno deverá apresentar requerimento à secretaria do DCP, com pedido de realização de prova substitutiva e justificativa de sua ausência. O prazo máximo de apresentação deste requerimento é 17 de outubro no caso da primeira prova. Caso seja deferido pelo professor, o estudante poderá realizar prova substitutiva no dia 24 de outubro. Não haverá outra prova substitutiva ao longo do semestre. A não entrega de uma das duas atividades previstas ou de ambas (prova e atividade de pesquisa) acarretará REPROVAÇÃO do aluno.
A nota da recuperação será calculada com base na média da nota da prova aplicada para esta finalidade e a nota final obtida na disciplina. Para ser aprovado, o aluno precisa atingir uma média final na disciplina mínima de 5,0. Só terão direito à prova de recuperação os alunos que obtiverem média final entre 3,0 e 4,9.
Programa do curso
[15/08] Aula I – Introdução
[22/08] Aula II - Eleições antes da democracia: o Brasil e as visões pessimistas
Tema: percepções comuns (e quase consensuais) sobre o governo representativo brasileiro
Bibliografia obrigatória
LYNCH, Christian Edward Cyril. Da monarquia à oligarquia: história institucional e pensamento político brasileiro (1822-1930). São Paulo: Alameda (2014). Ler a Introdução e Cap 1, Cap 4, Cap 5, Cap 7.
CARVALHO, José Murilo. Os três povos da República. Revista USP, vol. 59, pp. 96-115, 2003.
FAORO, Raimundo. Os donos do Poder-Formação do patronato político brasileiro, Porto Alegre: Editora Globo, 1958. Ler Cap X, parte 3 (representação do povo: as eleições); Cap XIII, parte 3 (A transição para o federalismo hegemônico: a política dos Governadores); Cap XIV.
LESSA, Renato. A invenção republicana. Cadernos da Escola do Legislativo. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, v. 5, n. 10, p. 10-37. jan./jul. 2000.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2012. Ler Cap 1.
Leituras complementares:
PORTO, Walter Costa. A mentirosa urna. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
CARVALHO, José Murilo. Progresso e religião: a república no Brasil e em Portugal 1889-1910. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2007
[29/08] Aula III – A invenção do mecanismo eleitoral
Tema: a democracia representativa desde o século XIX e sua metamorfose
Bibliografia obrigatória
MANIN, Bernard. The principles of representative government. Cambridge University Press, 1997. (existe uma versão em espanhol: LOS PRINCIPIOS DEL GOBIERNO REPRESENTATIVO)
URBINATI, Nadia. O que torna a representação democrática. Lua Nova 67.7 (2006): 191-228.
URBINATI, Nadia. Crisis and metamorphoses of democracy. Revista Brasileira de Ciências Sociais 28.82 (2013): 05-16.
URBINATI, Nadia, and Mark E. Warren. The concept of representation in contemporary democratic theory. Annu. Rev. Polit. Sci. 11 (2008): 387-412.
Leituras complementares
URBINATI, Nadia. Representative democracy: principles and genealogy. Chicago: University of Chicago Press, 2006.
[12/09] Aula IV - Eleições antes da democracia: abordagens comparativas
Tema: As eleições antes da democracia (século xix e inicio do século XX): aspectos teóricos
Bibliografia obrigatória
SABATO, Hilda. On political citizenship in nineteenth-century Latin America. The American historical review 106.4 (2001): 1290-1315.
POSADA-CARBÓ, Eduardo. Electoral juggling: A comparative history of the corruption of suffrage in Latin America, 1830–1930. Journal of Latin American Studies 32.3 (2000): 611-644.
MORELLI, Federica. Entre el antiguo y el nuevo régimen. La historia política hispanoamericana del siglo XIX. Historia Crítica 33 (2007).
Leituras complementares
LEHOUCQ, Fabrice. ¿ Qué es el fraude electoral? Su naturaleza, sus causas y consecuencias. Revista mexicana de sociología 69.1 (2007): 1-38.
[19/09] Aula V – O Brasil na Primeira República: o papel da fraude
Tema: As eleições no Brasil Republicano
Bibliografia obrigatória
RICCI, Paolo, and Jaqueline Porto Zulini. Quem ganhou as eleições?. Revista de Sociologia e Política 21.45 (2013): 91.
RICCI, Paolo, and Jaqueline Porto Zulini. Partidos, competição política e fraude eleitoral: a tônica das eleições na Primeira República. Dados-Revista de Ciências Sociais 57.2 (2014).
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. O teatro das oligarquias: uma revisão da “política do café com leite”. C/Arte, 2001. (cap 1)
VISCARDI, Cláudia Maria R. O Federalismo como experiência: Campos Sales e as tentativas de estabilização da República. Dados-Revista de Ciências Sociais 59.4 (2016): 1169-1206.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. Editora Companhia das Letras, 2012. Capítulos VI
Leituras complementares
DOLHNIKOFF, Miriam. Governo representativo e legislação eleitoral no Brasil do Século XIX." Journal of Iberian and Latin American Research 20.1 (2014): 66-82.
DOLHNIKOFF, Miriam. Representação na monarquia brasileira. Almanack Braziliense 9 (2009): 41-53.
FERREIRA, Marieta de Moraes, and Surama Conde Sá Pinto. A Crise dos anos 20 e a Revolução de Trinta. Rio de Janeiro: CPDOC, 2006. 26f.
[26/09] Aula VI - prova
[03/10] Aula VII – O Brasil da Era Vargas (1930-1937) e o Código Eleitoral
Tema: as eleições entre 1930 e 1937
Bibliografia obrigatória
DOMINGOS, Velasco. Direito Eleitoral, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1935. Capítulos a indicar.
GOMES, Angela Maria de Castro. Regionalismo e centralização política: partidos e constituinte nos anos 30. Rio de Janeiro: Nova Fronteira (1980). Ler: Introdução
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. Editora Companhia das Letras, 2012. Capítulos III, IV, V, VI e VII
PANDOLFI, Dulce Chaves, and Mario Grynszpan. Da Revolução de 30 ao Golpe de 37: a depuração das elites. Revista de Sociologia e Política 09 (1997): 7-23.
Leituras complementares
CABRAL, João C. Código Eleitoral da República dos Estados Unidos do Brasil. 3a ed. Rio de Janeiro: Livraria Editora Freitas Bastos, 1934.
[10/10] Aula VIII – Os partidos em contextos não democráticos
Tema: partidos e eleições (abordagens teóricas)
Bibliografia obrigatória
Aldrich, John H. Why parties?: The origin and transformation of political parties in America. Chicago: University of Chicago Press, 1995 (pp. 3-49)
Rokkan, Stein. State formation, nation-building, and mass politics in Europe: the theory of Stein Rokkan: based on his collected works. Clarendon Press, 1999. pp. 33-53; 275-319
[17/10] Aula IX - O sistema proporcional
Tema: reforma eleitoral
Bibliografia obrigatória
PORTO, Walter Costa. Reforma política: que esperar do futuro? Direito em foco, v. 6, n. 25, pp. 219-226, 2009.
RICCI, Paolo, and Glauco Peres da Silva. O Código Eleitoral de 1932 e a invenção da proporcional. 10º Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política Belo Horizonte, 30/08–02/09/2016.
BOIX, Carles. Setting the rules of the game: the choice of electoral systems in advanced democracies. American Political Science Review 93.3 (1999): 609-624.
ASSIS BRASIL, J. F. Democracia representativa: do voto e do modo de votar. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1931. Ler o cap I até VII do livro III; cap I e II do livro IV
[24/10] – prova substitutiva da 1ª prova
[31/10] Aula X – O sufrágio universal
Tema: comportamento eleitoral e extensão do voto
Bibliografia obrigatória
CROOK, Malcolm. Universal Suffrage as Counter Revolution? Electoral Mobilisation under the Second Republic in France, 1848–1851. Journal of Historical Sociology 28.1 (2015): 49-66.
ASSIS BRASIL, J. F. Democracia representativa: do voto e do modo de votar. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1931. Ler o cap. I, II, IV, V do livro II
RICCI, Paolo, and Jaqueline Porto Zulini. Partidos, competição política e fraude eleitoral: a tônica das eleições na Primeira República. Dados-Revista de Ciências Sociais 57.2 (2014).
RICCI, P. e Zulini, Jaqueline Porto. Nem só à base do cacete, nem apenas com presentes: sobre como se garantiam votos na Primeira República. in Alencar, J. A. d.; and Viscardi, C. M. R., editor(s), A República revisitada: construção e consolidação do projeto republicano brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2016.
Bibliografia complementar
NUNES, Neila Ferraz Moreira. A experiência eleitoral em Campos dos Goytacazes (1870-1889): freqüência eleitoral e perfil da população votante. Red Dados, 2000.
[07/11] Aula XI – O voto feminino
Tema: voto feminino (conquista e comportamento eleitoral)
Bibliografia obrigatória
ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de. O voto de saias: a Constituinte de 1934 e a participação das mulheres na política. Estudos avançados 17.49 (2003): 133-150.
KARAWEJCZYK, Mônica. Urnas e saias: uma mistura possível. A participação feminina no pleito eleitoral de 1933, na ótica do jornal Correio do Povo. Topoi: Rio de Janeiro, 11.21 (2010): 204-221.
SOIHET, Rachel. A pedagogia da conquista do espaço público pelas mulheres e a militância feminista de Bertha Lutz. (2006).
ASSIS BRASIL, J. F. Democracia representativa: do voto e do modo de votar. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1931. Ler o cap. III do livro II
RUIZ, Blanca Rodriguéz, and Ruth Rubio Marín. Introduction: Transition to Modernity, the Conquest of Female Suffrage and Women’s Citizenship. The Struggle for Female Suffrage in Europe. Voting to Become Citizens (2012): 1-46.
[14/11] Aula XII – O voto secreto
Tema: liberdade individual e segredo do voto
Bibliografia obrigatória
ASSIS BRASIL, J. F. Democracia representativa: do voto e do modo de votar. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1931. Ler o cap. VI do livro II
O voto secreto: collectanea de opiniões, discursos e documentos sobre o assumpto. Partido Democratico (1927)
BRENT, Peter. The Australian ballot: Not the secret ballot. Australian Journal of Political Science 41.1 (2006): 39-50.
LEYER, Annabelle. Mill and the secret ballot: Beyond coercion and corruption. Utilitas 19.3 (2007): 354-378.
[21/11] Aula XIII – A Justiça Eleitoral
Tema: a invenção da Justiça Eleitoral
Bibliografia obrigatória
ASSIS BRASIL, J. F. Democracia representativa: do voto e do modo de votar. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1931. Ler o cap VI do livro IV
SADEK, María Tereza. A justiça eleitoral e a consolidação da democracia no brasil. Fundação Konrad Adenauer, 1995. Cap I, II e III.
BARRETO, Alvaro Augusto de Borba. A Justiça Eleitoral brasileira: modelo de governança eleitoral. Paraná Eleitoral: revista brasileira de direito eleitoral e ciência política 4.2 (2016).
Cadernos Adenauer xv (2014), nº1 Justiça Eleitoral, Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer, agosto 2014. Ler Sadek, Vale, Cadah (pp. 7-44)
Leituras complementares
MARCHETTI, Vitor. Governança Eleitoral: o modelo brasileiro de Justiça Eleitoral. DADOS-Revista de Ciências Sociais 51.4 (2008).
[28/11] Aula XIV – conclusão do curso
Entrega dos trabalhos finais para o dia 07/12
- Docente: Paolo Ricci
O curso propõe uma dupla abordagem d’O Príncipe (1513), de Nicolau Maquiavel, encarando-o como obra ao mesmo tempo (i) retórica e (ii) ideológica. Quanto ao primeiro aspecto, o curso explorará as estratégias discursivas mobilizadas pelo autor para se dirigir a seu leitor imaginado, bem como seu endosso ou recusa de algumas convenções intelectuais de seu tempo. Em relação ao aspecto ideológico da obra, o curso enfoca sua recepção em quatro vertentes interpretativas d’O Príncipe dos séculos XX e XXI: o “Príncipe moderno” de Antonio Gramsci; o “professor do mal” de Leo Strauss; o Príncipe “neorrepublicano”, de Quentin Skinner e Philip Pettit; e o Príncipe “populista”, de John McCormick.
A dupla abordagem (retórica e ideológica) de estudo e discussão do pensamento de Maquiavel foi pensada para promover uma experiência intelectual e didática compartilhada pelas duas docentes ao longo de todo o curso, e que possa embasar atividades didáticas de futuras docentes. O curso está publicado no moodle/usp e será atualizado nesta plataforma.
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- Docente: Daniela Xavier Haj Mussi
- Docente: Eunice Ostrensky
- Docente: Rurion Soares Melo
- Docente: Alvaro de Vita
- Docente: Christian Jecov Schallenmueller
- Docente: Lorena Guadalupe Barberia
- Docente: Glauco Peres da Silva