Programação
-
Ementa
O curso propõe uma dupla abordagem d’O Príncipe (1513), de Nicolau Maquiavel, encarando-o como obra ao mesmo tempo (i) retórica e (ii) ideológica. Quanto ao primeiro aspecto, o curso explorará as estratégias discursivas mobilizadas pelo autor para se dirigir a seu leitor imaginado, bem como seu endosso ou recusa de algumas convenções intelectuais de seu tempo. Em relação ao aspecto ideológico da obra, o curso enfoca sua recepção em quatro vertentes interpretativas d’O Príncipe dos séculos XX e XXI: o “Príncipe moderno” de Antonio Gramsci; o “professor do mal” de Leo Strauss; o Príncipe “neorrepublicano”, de Quentin Skinner e Philip Pettit; e o Príncipe “populista”, de John McCormick.
A dupla abordagem (retórica e ideológica) de estudo e discussão do pensamento de Maquiavel foi pensada para promover uma experiência intelectual e didática compartilhada pelas duas docentes ao longo de todo o curso, e que possa embasar atividades didáticas de futuras docentes. O curso está publicado no moodle/usp e será atualizado nesta plataforma.
2. Objetivos
O objetivo principal é ampliar o repertório teórico a respeito da obra, abordando-a como tratado político retórico e como campo de disputa ideológica no interior da teoria política contemporânea. Os objetivos secundários são: (i) informar sobre diferentes modos de leitura, interpretação e apropriação de um texto histórico; (ii) permitir às estudantes se familiarizarem com algumas técnicas e métodos de pesquisa.
3. Justificativa
Desde que se tornou conhecida, a obra de Maquiavel nunca deixou de ocupar o centro dos debates em teoria política. É parte dos esforços do curso empreender um exame mais detalhado das razões que tornam essa obra tão relevante. Além disso, o curso preocupa-se em fornecer às estudantes instrumentos conceituais para lidarem com diferentes pontos de vista a respeito de uma única obra.
4. Metodologia
O curso será desenvolvido na forma de aulas expositivas, leituras e análise da bibliografia primária e secundária; discussões em sala; instruções para a elaboração de relatórios e textos textos escritos.
5. Avaliação
Pesquisa bibliográfica com o tema “Como Maquiavel é ensinado nos cursos de Ciências Sociais e Filosofia nas Universidades públicas brasileiras?” Entrega de relatório com observações. (3,0 pontos)
Participação ativa nas atividades desenvolvidas em sala (entrega de questões sobre os textos no início da aula) e por meio de leitura/comentário sobre o trabalho. (3,0 pontos)
Prova escrita sobre o conteúdo do curso. (4,0 pontos)
Módulos do curso
Retórica
1. Retórica e história
2. A classificação dos principados
3. Virtù, armas e dependência
4. O principado civil
5. Religião e armas
6. A moralidade do príncipe
7. Medo, amor, ódio e desprezo
8. Fortuna e virtù
9. Maquiavel maquiaveliano ou maquiavélico?
Ideologia
1. O Príncipe como metáfora
2. O Príncipe moderno
3. O Príncipe “professor do mal”
4. O Príncipe neorrepublicano
5. O Príncipe populista
-
Bibliografia obrigatória
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999-2002, v. 3 (Caderno 13. Notas sobre Maquiavel, o Estado e a política).
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe (várias edições). 1513
_____. Discursos sobre a década de Tito Lívio (várias edições). 1519.
MCCORMICK, John. Democracia maquiaveliana: controlando as elites com um populismo feroz. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 12, p. 253-298, set./dez. 2013.
_____. "Machiavelli Greek Tyrant as a Republican Reformer". IN: LUCCHESE, Filippo Del; FROSINI, Fabio; MORFINO, Vittorio (eds.). The Radical Machiavelli. Politics, Philosophy and Language. Leiden/Boston: Brill, 2015.Leiden/Boston: Brill, 2015 (Será fornecida tradução para o português).
PETTIT, Philip. "Keeping republican freedom simple - On a Difference with Quentin Skinner". Political Theory, Vol. 30 No. 3, June 2002 339-356 (Será fornecida tradução para o português).
POCOCK, J. G. A. Quentin Skinner: a história da política e a política da história. Topoi, v. 13, n. 25, p. 193-206, jul.-dez. 2012.
SKINNER, Quentin. Liberdade antes do liberalismo. São Paulo: Editora Unesp, 1999 (capítulo 3).
_____. Hobbes e a liberdade republicana. São Paulo: Editora Unesp, 2010 (introdução).
STRAUSS, Leo. Reflexões sobre Maquiavel. São Paulo: Editora Realizações, 2017. (Capítulo 1).
THOMAS, Peter D. "Gramsci’s Machiavellian Metaphor: Restaging The Prince" . IN: LUCCHESE, Filippo Del; FROSINI, Fabio; MORFINO, Vittorio (eds.). The Radical Machiavelli. Politics, Philosophy and Language. Leiden/Boston: Brill, 2015 (Será fornecida tradução para o português).
Bibliografia auxiliar
BARON, Hans. “The Republican Citizen and the Author of 'The Prince’”. IN: English Historical Review, Vol. 76, No. 299, (Apr., 1961), pp. 217-253.
_____. The Crisis of the Early Italian Renaissance: Civic Humanism and Republican Liberty in an Age of Classicism and Tyranny. New Jersey: Princeton University Press. 1966
BERLIN, Isaiah. A originalidade de Maquiavel. In: Estudos sobre a humanidade. São Paulo: Cia das Letras, 2001 p. 299-348.
BOCK, Gisela, and SKINNER, Quentin. Machiavelli and Republicanism. Cambridge University Press. 1993
GINZBURG, Carlo. “Pontano, Machiavelli and Prudence: Some Further Reflections.” In From Florence to the Mediterranean and Beyond.Essays in Honour of Anthony Molho, Curto, 117–25. Firenze, 2009
HÖRQVIST, Mikael. Machiavelli and Empire. Cambridge: Cambridge University Press, 2008
JURDJEVIC, Mark. A Great and Wretched City. Boston: Harvard University Press, 2014
KAHN, Victoria. Machiavellian Rhetoric –from the Counter-Reformation to Milton. Cambridge: Cambridge University Press, 1994
LEFFORT, Claude. Le travail de l’oeuvre Machiavel. Paris: Gallimard, 1972.
_____. "Maquiavel e a veritá effetualle". IN: Desafios da escrita política. São Paulo: Discurso Editorial, 199; pp. 141-178.
MANSFIELD, Harvey (1996). Machiavelli’s Virtue. Chicago and London: University Press, 1996
NAJEMY, John. Machiavelli and the Medici: The Lessons of Florentine History. Renaissance Quaterly, v. 35, n. 4, p. 551-576, 1982.
_____. A History of Florence 1200-1575. Wiley Blackwell: Oxford, 2008
_____. (ed.). The Cambridge Companion to Machiavelli. Cambridge: University Press, 2010
PITKIN, Hanna. Fortune Is a Woman: Gender and Politics in the Thought of Niccolo Machiavelli. Chicago: University of Chicago Press. 1984.
POCOCK, J. G. A. The Machiavellian Moment. Princeton: University Press, 1975
SILVA, Ricardo. Visões da liberdade: republicanismo e liberalismo no debate teórico contemporâneo. Lua Nova, n. 94, p. 181-215, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64452015000100007&script=sci_abstract&tlng=pt
_____. Liberdade e lei no neo-republicanismo de Skinner e Pettit. Lua Nova, n. 74, p. 151-194, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ln/n74/07.pdf
_____. O Contextualismo Linguístico na História do Pensamento Político: Quentin Skinner e o Debate Metodológico Contemporâneo. Dados, v. 53, n. 2, p. 299 a 335, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/dados/v53n2/02.pdf
_____. Maquiavel e o conceito de liberdade em três vertentes do novo republicanismo. RBCS, v. 25, n, 72, p. 37-58, fev. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v25n72/v25n72a04.pdf
SKINNER, Quentin. As Fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Cia das Letras 1996.
VATTER, Miguel. Machiavelli’s “The Prince”: A Reader’s Guide. A&C Black, 2013.
VIROLI, Maurizio. From Politics to Reason of State. Cambridge University
Press, 1992.
_____. Machiavelli. Oxford: University Press, 1988.
-
Cronograma de aulas
Agosto
20 e 21
27 e 28
Setembro
3 e 4
10 e 11
17 e 18
24 e 25
Outubro
1 e 28 e 9
15 e 16
22 e 23
29 e 30
Novembro
5 e 6
12 e 13
Consciência Negra
26 e 27
Dezembro
2 e 3
9 e 10
-
I. Os Medici e o Papado
Família Medici
· Cosimo di Giovanni de' Medici (1389-1464) – Pater Patriae
· Piero de’ Medici (1416-1469)
· Lorenzo de’ Medici, Il Magnifico (1449-1492)
· Piero de’ Medici, Il Sfortunato (1462-1503)- de 1492 a 1494
· Giovanni de’ Medici (1475-1521) – 1512
· Giuliano de’ Medici (1479-1516) – 1513 a 1516
· Lorenzo II de’ Medici, Duque de Urbino (1492-1519)- 1513 a 1519[1]
· Giulio de’ Medici (1478 – 1534) – 1519-1523[2]
· Ippolito de’ Medici (1511-1535) – 1524 a 1527
· Alessandro de’ Medici, Duque de Florença (1510-1537)- 1531 a 1537
Papas
* Alexandre VI: Rodrigo Borgia (1431-1503) -1492 a 1503
* Júlio II: Giuliano della Rovere (1443-1513)- 1503 a 1513
* Leo X: Giovanni de’ Medici -1513-1521
* Adriano VI: Adriaan Florensz (1459 ‒ 1523) -1522-1523
* Clemente VII (Giulio di Giuliano de’ Medici) – 1523-1534
[1] Filho de Piero de’ Medici e neto de Lorenzo, o Magnífico. O Príncipe é dedicado a ele
[2] Em 1520, atribuiu a Maquiavel a missão de escrever as Histórias Florentinas.
-
THOMAS, Peter D. "Gramsci’s Machiavellian Metaphor: Restaging The Prince" [tradução: A metáfora maquiaveliana: reencenando O príncipe] . IN: LUCCHESE, Filippo Del; FROSINI, Fabio; MORFINO, Vittorio (eds.). The Radical Machiavelli. Politics, Philosophy and Language. Leiden/Boston: Brill, 2015.
-
Referência de leitura:
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999-2002, v. 3 (Caderno 13. Notas sobre Maquiavel, o Estado e a política).
-
STRAUSS, Leo. Reflexões sobre Maquiavel. São Paulo: Editora Realizações, 2017. (Introdução e Capítulo 3 - A intenção de Maquiavel: O Príncipe).
-
Leituras referentes ao tópico "O Príncipe neorrepublicano"
Aula 12/13: Skinner, 1999; Silva, 2010.
Aula 26/27: Pettit, 2002; Pocock, 2012
PETTIT, Philip. "Keeping republican freedom simple - On a Difference with Quentin Skinner". Political Theory, Vol. 30 No. 3, June 2002 339-356 Obs: o texto está na versão traduzida para o português para o curso.
POCOCK, J. G. A. Quentin Skinner: a história da política e a política da história. Topoi, v. 13, n. 25, p. 193-206, jul.-dez. 2012.
SKINNER, Quentin. Liberdade antes do liberalismo. São Paulo: Editora Unesp, 1999. (Capítulo 3). Obs: o livro está todo escaneado para quem quiser ler, mas dividido em três arquivos.SILVA, Ricardo. Maquiavel e o conceito de liberdade em três vertentes do novo republicanismo. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 25, n. 72, p. 37-58, 2010.
-
Leituras para o tópico "O Príncipe populista"
MCCORMICK, John. Democracia maquiaveliana: controlando as elites com um populismo feroz. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 12, p. 253-298, set./dez. 2013.
_____. "Machiavelli Greek Tyrant as a Republican Reformer". IN: LUCCHESE, Filippo Del; FROSINI, Fabio; MORFINO, Vittorio (eds.). The Radical Machiavelli. Politics, Philosophy and Language. Leiden/Boston: Brill, 2015.Leiden/Boston: Brill, 2015. Obs: O texto está em português na tradução feita para o curso. -
DATA DE ENTREGA: 14 DE DEZEMBRO, POR EMAIL (prorrogado o primeiro prazo)
Além dos dois trabalhos de pesquisa exploratória e as questões para as aulas, nosso curso terá como avaliação final a entrega de um trabalho de reflexão a partir de um ponto temático sugerido. Foram elaborados quatro pontos dentre os quais vocês podem escolher um para desenvolver. Os trabalhos deverão ter entre 5-7 laudas (nem mais, nem menos) e ser entregue por email no formato pdf. Seguem as orientações:
Proposta: O trabalho final do curso deve desenvolver um dos temas propostos a partir dos textos discutidos em sala nos dois módulos do curso, retórica e ideologia, sobre o Príncipe de Maquiavel. O formato é deve ser o de um texto analítico, com começo, meio e fim (ex. Apresentação, Desenvolvimento, Apontamentos). Isso significa que na primeira parte vocês deverão apresentar o tema discutido, no segundo desenvolver uma reflexão sobre ele com base na bibliografia e em suas reflexões e, ao afinal, registrar seus apontamentos e impressões sobre a atividade realizada.
Temas sugeridos:
1-) Discuta a relação entre Fortuna e virtù n'O Príncipe;2-) Analise o papel do povo n'O Príncipe.3-) Discuta a relação entre príncipes e tiranos n'O Príncipe.4-) Discuta o republicanismo de Maquiavel.Outras orientações técnicas:- Fonte: Times New Roman; Tamanho: 12, Espaçamento entrelinhas: 1,5, Alinhamento: Justificado- Inserir, no início, título (que pode ser o tema proposto ou título escolhido pelo aluno desde que mencione qual tema proposto vai discutir)- Inserir, em seguida ao título, nome do autor/a e número USP- Inserir, em seguida, um resumo (máx. 10 linhas) e três palavras-chave para o texto- Não esquecer de inserir paginação no texto- As Referências bibliográficas devem vir ao final (não em notas de rodapé) e seguir as normas da ABNT- Nas citações no corpo do texto, usar o formato (AUTOR, Ano, p. X)- Não esquecer de revisar ortograficamente o texto antes de entregar.