Espoliação em rede

Em seu ensaio Ciberespaço e Acumulação de Capital, Arakin Monteiro organiza seu pensamento em tópicos e o terceiro e último deles está diretamente ligado à espoliação (HARVEY, 2004) de externalidades no processo interativo da rede, constituindo - na imbricação entre produção e consumo – formas peculiares de acumulação que se estabelecem fora de uma relação direta entre capital e trabalho.

Espoliar, em seu significado original, significa esbulhar, privar (alguém) da posse de, violenta ou fraudulentamente. Como nesse ensaio o tema central é a acumulação de capital por meio da captação da subjetividade coletiva nas empresas de Internet (as que funcionam exclusivamente através desta, tendo a informação como produto), obviamente o conceito possui um contexto diferente, onde se relaciona diretamente às redes. 

"O conceito de acumulação via espoliação trata de uma variedade de maneiras pelas quais o capital pode ser acumulado fora de uma relação propriamente capitalista, havendo em seu modus operandi muitos aspectos fortuitos e casuais. Sob o foco deste estudo específico, a espoliação está ligada à transformação em mercadorias de formas culturais, históricas e da criatividade intelectual, que podem ser espoliados de populações inteiras cujas práticas tiveram um papel vital no desenvolvimento desses materiais." (MONTEIRO, Arakin; p.25)

Ou seja, é a captação da subjetividade coletiva (cultura, história, criatividade intelectual) para transformá-la em mercadoria, espoliando essa subjetividade dos seus "proprietários", grupos de pessoas, por exemplo, e tornando-a parte do capital. Citando Bolaños (2002), Arakin nos apresenta uma ideia que auxilia na compreensão do conceito:

"É necessário enfatizar que esta “produção intelectual em geral”- espoliada no processo interativo da Internet comercial - não é ela mesma produtora de valor, mas tão somente a matéria-prima para novos processos produtivos, pois o conhecimento codificado, plasmado em máquina (software), é capital constante e não tem, portanto, a capacidade de gerar valor. O software, por sua vez, é a forma que o sistema encontra de enquadrar o trabalho mental, de padronizá-lo e de explorar as suas potencialidades pelo capital. É a forma em que se materializa num elemento do capital constante, o conhecimento que antes era propriedade do trabalhador intelectual isolado, de forma semelhante ao que ocorreu com o trabalho manual a partir do surgimento da máquina ferramenta. Há, portanto, uma convergência das tendências de desenvolvimento da subsunção do trabalho nos processos de produção cultural e produção intelectual em geral, que se estende inclusive, de forma importante, para amplas camadas da classe trabalhadora tradicional (BOLAÑO, 2007)." (MONTEIRO, Arakin; p. 26)

 

O ensaio completo está disponível na página do STOA da disciplina.

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