Apresentação da disciplina


O desafio do ensino da Evolução


A imensa maioria das crianças, durante o ensino fundamental ou até mesmo durante as atividades do ensino pré-escolar, teve como tarefa observar a germinação de uma semente: feijão, milho ou de outra semente de fácil acesso. Para isso, os professores pedem aos alunos que coloquem sementes em um recipiente com algodão umedecido. A ideia é a observação do desenvolvimento inicial de uma planta. Elas ficam fascinadas com as modificações que ocorrem nas sementes, e posteriormente, nas plântulas que delas se desenvolvem ao longo do tempo, mesmo em curto espaço de tempo.

O desenvolvimento de uma planta a partir de uma semente é um conceito que passa a fazer parte do senso comum. Um organismo desenvolve-se a partir de um sistema bem mais simples que o da fase madura, seja a partir de uma semente seja de um ovo. Não existe qualquer mistério nisso e os processos que ocorrem no desenvolvimento são considerados como naturais. Existe ainda a possibilidade de interferência experimental nesse processo, como, por exemplo, a observação das diferenças das características de plântulas que cresceram na presença ou na ausência de luz.

No ensino da evolução biológica, entretanto, esse tipo de abordagem é bem mais difícil. O principal problema é a diferença nas escalas de tempo envolvidas. Enquanto o processo de desenvolvimento pode ser acompanhado no intervalo de dias ou até mesmo de algumas horas, os processos evolutivos ocorrem em escalas de tempo muito maiores, que podem atingir bilhões de anos. Embora haja a possibilidade de experimentação em alguns processos evolutivos, como a verificação de seleção natural em populações experimentais ou a existência de mutantes espontâneos, tais procedimentos demandam muito esforço e material especializado, além do tempo que pode ser bem mais longo que aquele que é possível em situações de aula. Assim, o uso de abordagens alternativas é fundamental.

Outro desafio importante que o ensino da evolução enfrenta é a questão do possível antagonismo com as crenças de natureza religiosa, o que pode desencadear situações bastante delicadas em sala de aula. Algumas denominações religiosas não fazem quaisquer objeções quanto à existência da evolução biológica, pois interpretam os textos religiosos de forma menos literal, enquanto outras denominações são menos abertas a interpretações metafóricas ou alegóricas. Assim, a questão da incompatibilidade entre o ensino da evolução e a crença religiosa vai depender muito da crença do aluno. No Brasil, o catolicismo é a religião predominante, com cerca de 70% da população que segue essa religião, de acordo com o levantamento feito pelo IBGE em 2000. A posição oficial da Igreja Católica é a de aceitar a evolução biológica sem restrições, e considera os textos religiosos ricos em metáforas. Mas a diversidade religiosa em uma determinada turma de alunos pode ser bastante diferente da média do país. Como no Brasil se defende constitucionalmente a ampla liberdade de culto religioso, a pior consequência de uma eventual discussão em sala de aula é o confronto entre crenças religiosas diferentes! Além disso, mesmo entre os seguidores do catolicismo, há muitos alunos que desconhecem a posição oficial de sua Igreja e acreditam que o ensino de evolução é antagônico ao que pregam os textos religiosos. Em todo o caso, a postura do professor deve ser a mais isenta possível, independentemente de sua própria crença.

Resumindo, ensinar evolução biológica, à primeira vista, pode ser visto como a tentativa de falar sobre algo que não se vê para alunos que podem ter recebido ensinamentos em contrário!