1. Início de Conversa

Estudos que relacionam a Etologia, ciência que estuda o comportamento, à sociedade humana têm aumentado nos últimos anos, bem como pesquisas com meio ambiente, manejo e bem-estar animal. Tal evolução do conhecimento comporta também o campo educacional, gerando debates éticos sobre os direitos de todos os seres vivos como um todo.

De acordo com Charles T. Snowdon (1999), a Etologia procura estudar as interações comportamentais e ambientais, tanto do ponto de vista imediato quanto adaptativo. Muitos problemas da sociedade humana estão, frequentemente, relacionados a interações entre ambiente e comportamento ou entre genética e comportamento. Um número crescente de cientistas sociais tem recorrido ao comportamento animal como uma base teórica para interpretar a sociedade humana e entender possíveis causas de seus problemas. Por exemplo, estudos sobre abuso infantil utilizam a teoria e dados de estudos de infanticídio em animais.

Pesquisadores bem conhecidos no campo da Psicologia, como Jean Piaget e Vygotsky, mesmo com pensamentos aparentemente opostos, basearam suas premissas não apenas no estudo da humanidade, mas usaram como base reflexiva o estudo do comportamento animal. Jean Piaget enfatizava seus estudos sobre o desenvolvimento da cognição, salientando o potencial biótico do organismo. Vygotsky, porém, defendia a tese de que a interação entre seres vivos é determinante na expressão de seu pensamento como compreensão de si mesmo e da realidade em seu entorno. Atualmente, entende-se que ambas as teorias têm o seu lugar no estudo do comportamento.

Dessa forma, os estudos sobre o comportamento de caramujos (por Jean Piaget), gaivotas (por J. B. Watson), macacos (Harry Harlow), gansos (K. Lorenz), camundongos (B. F. Skinner) entre outros, se mostraram úteis, pois ao serem discutidos de forma comparativa, forneceram ideias sobre a origem e as causas do comportamento humano. Contudo, tais observações do comportamento animal são bem mais antigas, com grande aplicação para a área educacional como, por exemplo, consta no relato de alguns provérbios do sábio rei Salomão: “... Há quatro coisas mui pequenas na terra que, porém, são mais sábias que os sábios: as formigas, povo sem força, todavia no verão preparam a sua comida; os arganazes, povo não poderoso, contudo fazem sua casa nas rochas; os gafanhotos não têm rei, contudo marcham todos em bandos; e o geco, que se apanha com as mãos, contudo está nos palácios dos reis... Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, no estio prepara o seu pão, na sega ajunta o seu mantimento”. (Provérbios 30:24-28; 6:6-8).

Consulte o material extra fornecido em PDF na página inicial da semana para aumentar seu conhecimento sobre o comportamento animal:

Com a atenção voltada ao comportamento animal, têm sido desenvolvidos trabalhos nas áreas de desenvolvimento social, desamparo infantil, linguagem em crianças, adaptabilidade humana diante das variações do ambiente, entre outros aspectos, todos gerando resultados importantes para a melhoria da qualidade de vida humana.

O estudo do aparato sensorial de diferentes animais tem gerado diversas aplicações no campo da tecnologia, como o desenvolvimento de radares e sonares (morcegos e cetáceos). Descobertas relacionadas ao estudo da morfofisiologia de moluscos (Nautilus sp.) forneceram ideias para a construção de veículos de navegação subaquática e modelos experimentais para o entendimento da transmissão do impulso elétrico em neurônios (axônios gigantes em lulas). A forma aerodinâmica das aves forneceu diferentes modelos para a elaboração de máquinas que podem voar. Trabalhos com chimpanzés, usando análogos da linguagem, levaram a novas tecnologias, tais como o teclado de computadores usando símbolos arbitrários. O estudo de ritmos endógenos em animais motivou pesquisas sobre fatores humanos na produtividade como, por exemplo, nas mudanças de turnos de trabalho.

Pensando na produção animal, sabe-se que seu comportamento fornece indícios sobre a degradação do meio ambiente provocando, ao final, migrações e/ou extinções, fornecendo indício do grau da ação antrópica local como, por exemplo, a poluição por pesticidas e outros produtos tóxicos. Tais alterações de comportamento têm implicações econômicas, já que existe toda uma estrutura voltada para a captura e manutenção de certas espécies animais de importância alimentícia.

O estudo sobre o controle biológico de pragas teve seu início em observações comportamentais, tais como o que acontece com o besouro “rola-bosta”, que interfere no ciclo de vida da mosca-de-chifre (impede o desenvolvimento das larvas ao recolher o estrume para sua toca) que, devido ao seu comportamento hematófago, chega a ocasionar a perda de 40 kg de peso/cabeça de gado.

Existem diversos exemplos ainda da melhoria da qualidade de vida e bem-estar animal graças ao cuidadoso estudo de seu comportamento em vida livre e em cativeiro. Assim, a produção animal aumenta e são também gerados modos de criação mais adequados: como recintos com enriquecimento ambiental, que possibilitam um modo de vida mais saudável, conseguindo inclusive aumentar a reprodução em cativeiro, o que é muito importante para espécies ameaçadas de extinção, por exemplo.

Para conhecer mais exemplos sobre a aplicação do estudo do comportamento animal, consulte os links para PDFs fornecidos em “Anexos” no final dessa semana. Cada um dos artigos pode ser usado para trabalhos em grupo para alunos do ensino médio, como ideias da aplicação do estudo zoológico. Assim, os alunos podem ser estimulados a se dedicarem a essas áreas de pesquisa em sua formação universitária. Consulte a sugestão de atividade extraclasse fornecida na página inicial da semana: Sugestão de atividade – estudo de comportamento animal em cativeiro.