8. A membrana como transdutor de sinal

Muitas das interações funcionais entre as células e determinados agentes extracelulares, como é o caso dos neurotransmissores e alguns tipos de hormônios, ocorrem através da ligação específica desses agentes, denominados ligantes, com certas proteínas integrantes da membrana plasmática (MP), conhecidas como receptores. Como resultado desse acoplamento ligante-receptor, desencadeia-se uma série de respostas intracelulares que levam a determinadas alterações fisiológicas da célula. Assim, o agente desencadeante pode interagir com a membrana plasmática e provocar alterações funcionais internas da célula, sem que necessite adentrá-la. A membrana plasmática atua, pois, como um transdutor, capaz de transformar um tipo de sinal em outro.

Um exemplo típico dessa interação é o mecanismo de ação do hormônio adrenalina (Fig. 9). Este hormônio, liberado na circulação sangüínea pelas células da supra-renal, particularmente em situações de estresse, pode se ligar a receptores específicos localizados na MP de alguns tipos celulares, como as células do músculo esquelético. O resultado desta ligação é a ativação (através de um complexo protéico intermediário - a proteína G) de uma proteína enzimática também associada à MP, a adenilciclase, que catalisa a transformação intracelular de ATP em AMP cíclico.

A conseqüência final do aumento da concentração de AMP cíclico no interior da célula é o estimulo da atividade da enzima glicogênio fosforilase, que quebra o glicogênio em glicose, posteriormente utilizada, principalmente, na via glicolítica e no ciclo de Krebs como fonte de energia. O hormônio glucagon, produzido pelo pâncreas, atua de forma semelhante nas células do fígado (hepatócitos). O sistema todo é “desligado” por ação enzimática que desativa o AMP cíclico, até novo estímulo.

Nesta situação, a fluidez da membrana é importante para o livre deslocamento lateral das proteínas envolvidas no processo. Em alguns casos, entretanto, o movimento lateral das proteínas pode ser restrito por associação com proteínas periféricas citossólicas ou por elementos do citoesqueleto. É o que é observado em certas proteínas transportadoras da membrana de eritrócitos, que, para exercerem sua função de forma otimizada, precisam estar uniformemente distribuídas pela MP (Fig. 10).

Cascata de sinalização mediada por adrenalina.

Figura 9: Cascata de sinalização mediada por adrenalina. A ligação da adrenalina ao receptor na membrana plasmática da célula, leva à ativação de uma segunda proteína integrante da membrana denominada proteína G. A mudança conformacional desta proteína ocasiona a ativação de uma terceira proteína integrante, a adenil ciclase, que converte ATP em AMP cíclico (AMPc) no citossol. O aumento citossólico de AMPc ativa a enzima glicogêncio fosforilase que converte o glicogênio em glicose, que, por sua vez, entrará na via glicolítica e posteriormente no ciclo de Krebs, produzindo energia (ATP) para a célula.

Fonte: Original

Detalhe de um corte mediano de um eritrócito mostrando a organização da membrana plasmática
Figura 10: Detalhe de um corte mediano de um eritrócito mostrando a organização da membrana plasmática. Note a presença de complexos glicoprotéicos integrantes da membrana, cuja mobilidade é restrita pela ligação com proteínas periféricas (espectrinas) pelo lado citossólico da membrana.
Fonte: DE ROBERTIS, E.D.P.; DE ROBERTIS, E.M.F. Jr. Cell and molecular biology. 2nd Ed. Saunders College, Philadelphia. 1980.