Linguagem visual

A linguagem visual nas Geociências


Ao propor os exercícios anteriores, exploramos uma linguagem muito valorizada nas Geociências: a linguagem visual. Através da análise das representações sobre a Terra, construímos conceitos e teorias sobre suas dinâmicas. Dessa forma, o uso de imagens no ensino de Geociências deve ser bastante explorado não só de forma ilustrativa, mas como linguagem constituinte do próprio conhecimento geocientífico.

A construção da linguagem científica, com a criação de representações em imagens e textos, determinará toda a nossa imagem do mundo natural. O conceito de representação pode elucidar algumas questões sobre a apreensão do mundo real pelo homem. Representação significa “apresentar novamente” (re-presentar), o que revela uma mediação entre o objeto real (aparente, presente) e a construção de um novo objeto através de signos, determinados por toda a bagagem cultural do sujeito que apreende a realidade natural. Dessa forma, não podemos conceber as ciências naturais somente como uma atividade objetiva que descreve fielmente o mundo real, mas também com toda a subjetividade inerente ao processo de formação do pesquisador, as relações de poder, as convenções sociais etc.

Compreender o ensino geocientífico como linguagem envolve dois processos distintos: a observação direta da natureza e a criação de representações sobre a natureza. A prática de observação foi determinada historicamente e condicionou a construção da ciência moderna sistematizada no século XVII. Para a construção de uma teoria científica, tornou-se necessária a observação direta da natureza. Mas devemos fazer uma clara distinção entre os objetos naturais e as suas representações, especialmente no contexto escolar.

Conrado Paschoale (1984) descreve uma situação que ilustra essa confusão entre os fenômenos naturais e suas representações no ensino. Convidado a participar de um debate sobre geologia de campo em Belo Horizonte, o autor destoava dos outros geólogos presentes quanto às concepções sobre os trabalhos de campo e as noções de representação. Ele se conscientizou dessa dessintonia quando um professor descreveu sua atividade didática:

Para mim, é muito clara a importância do campo para o ensino, pois, quando ensino o que é uma dobra, por exemplo, desenho-a na lousa, e posteriormente podemos todos ir ao campo ver exemplos de dobras.”

O Professor Paschoale responde, então:

“Professor, este aí que desenhou a dobra, como foi que ele aprendeu a dobra? Se foi por outro que também lhe desenhou uma, como foi que este aprendeu? Será que não houve alguém que primeiro viu a dobra e a desenhou depois? O que será que estamos ensinando: os fenômenos ou a representação dos fenômenos?

A representação visual realizada na lousa pelo professor é uma decodificação de toda a atividade científica no decorrer da história e torna-se uma convenção social. No contexto educacional, essa representação assume significados diversos. Para a compreensão dos fenômenos naturais, é necessário, então, que o aluno realize uma observação direta da natureza, especialmente através das práticas de campo. Os conceitos e práticas geocientíficas são concebidos como signos com significados próprios.

Ao definir a ciência como uma linguagem, a alfabetização científica deve compreender a demonstração das diversas leituras dos signos da natureza através dos tempos. Devemos, então, mostrar o processo de construção das concepções geocientíficas e de suas representações. O processo pode ser revelado pelo estudo histórico das Geociências, abordado de forma contextualizada, ou seja, das relações espaciais e temporais.