Os organismos guardam marcas de seu passado evolutivo



Todos os seres que estão vivos atualmente descendem de uma longa linhagem ancestral-descendente, que se originou de um único ser vivo que existiu no passado. Mas, para isso, todos eles, em cada uma das gerações, tiveram de ser viáveis, ou seja, nasceram, cresceram e se reproduziram, originando descendentes também viáveis e férteis. Portanto, durante a evolução, não houve qualquer possibilidade de que um organismo tivesse sido "desenhado a partir do zero". Quando se estudam as intrincadas estruturas e o funcionamento dos seres vivos, é comum que se comparem tais características dos seres vivos com produtos do engenho humano. Essa não é uma analogia correta. Os processos que ocorreram durante a evolução de um ser vivo e uma obra humana são bem diferentes. No caso de uma obra de engenharia, quando se percebe que algo está errado no projeto, podemos apagar tudo e começar novamente do zero, ou como frequentemente se diz: "voltar à prancheta de desenho”. Isso não é possível na evolução! Durante a evolução, a matéria-prima dos seres vivos do futuro está nos seres do presente, assim como os organismos atuais resultaram de modificações evolutivas que ocorreram nos organismos do passado. Esse processo deixa vestígios, que podem ser identificados tanto na comparação feita entre organismos recentes entre si como na comparação entre organismos atuais e aqueles que viveram no passado. Existem muitos exemplos de marcas de um passado, que foi diferente nos ancestrais dos organismos atuais. Vamos a alguns deles:

1. Seres que são muito diferentes quando adultos podem ser muito semelhantes quando são mais jovens ou quando são embriões.

Todos os vertebrados apresentam arcos branquiais e caudas quando estão nas fases embrionárias, embora muitos deles percam essas estruturas durante o desenvolvimento posterior (Figura 2). Fases embrionárias muito semelhantes, mas onde os adultos são diferentes também são vistas em diversos outros grupos de organismos.

Figura 2 - semana 4

Figura 2


2. Órgãos vestigiais

Seres vivos atuais podem possuir vestígios claros de estruturas que não são funcionais. As baleias não usam patas posteriores para locomoção; no entanto, possuem rudimentos de pélvis (Figura 3). O mesmo ocorre com cobras e lagartos, que atualmente não caminham com auxílio de patas. Existem também besouros que não voam; possuem os élitros fundidos, mas asas membranosas no interior. Tais asas não têm nenhuma função agora, mas tiveram nas espécies ancestrais, como pode ser verificado em espécies bastante semelhantes que voam normalmente.

Figura 3 - semana 4

Figura 3


3. Genes não funcionais.

Estruturas vestigiais existem também nos genomas. São conhecidas como pseudogenes que, embora não sejam funcionais, guardam grande similaridade com genes que são expressos e traduzidos em genomas de organismos aparentados. A interpretação evolutiva para a existência de pseudogenes é simples e clara: eles podem ser considerados vestígios moleculares de estruturas que eram funcionais, mas deixaram de sê-lo. Se um gene perde a funçã,o mas isso não é prejudicial para os organismos que o portam, ele simplesmente é mantido e acumula mutações sem qualquer tipo de seleção.


O desenvolvimento dos organismos multicelulares não é direto e passa por caminhos, que somente podem ser explicados levando-se a evolução em consideração

Até meados do século XVII, era aceita a teoria preformacionista. Segundo essa teoria, nos ovos dos animais existiriam miniaturas do adulto, que simplesmente cresceriam. Com o advento de instrumentos ópticos mais precisos, os embriões foram estudados e a teoria preformacionista foi refutada. Atualmente, sabe-se que as mudanças que ocorrem desde o ovo até o nascimento não são diretas. Por exemplo, as estruturas seriadas (como costelas, vértebras etc.) são mais semelhantes entre si nas fases iniciais do desenvolvimento, sendo que elas se diferenciam entre si depois, tal como ocorreu na evolução. Muitas vezes ainda certas estruturas são formadas e depois reabsorvidas. Isso acontece nos embriões de golfinhos, onde brotos de patas traseiras são formados, mas depois se atrofiam. Em parasitas, onde os adultos têm formas mais simplificadas do que seus parentes próximos, estruturas relacionadas com a vida livre são formadas, mas depois desaparecem!