Os tipos de seleção natural II



Seleção disruptiva

Este tipo de seleção é exatamente o contrário da seleção estabilizadora. Na seleção disruptiva, os fenótipos extremos são os que são favorecidos e os intermediários são prejudicados. A seleção disruptiva ocorre quando há heterogeneidade ambiental. Suponha que haja dois nichos ecológicos em um ambiente, em um exemplo hipotético, um animal que se alimenta de dois tipos diferentes de frutos, um deles com baixo teor de açúcar e outro rico nesse nutriente. Um metabolismo voltado à obtenção de energia a partir de açúcares seria favorecido naqueles animais que se alimentam de frutos ricos nesse nutriente, mas seria prejudicial em animais que se alimentam de frutos pobres em açúcares, ocorrendo o inverso também. A seleção disruptiva favorece o aparecimento de diferenciação entre as populações e tem sido considerada importante na diferenciação de novas espécies mais especialistas que a espécie ancestral. Esse assunto será retomado no módulo que abordará a formação de novas espécies.

Seleção sexual

Algumas características apresentadas por alguns animais parecem não estar relacionadas com a sua sobrevivência em seus ambientes. Por exemplo, animais que apresentam coloração ou formas exuberantes podem facilitar a sua captura por predadores ou essa característica pode até mesmo dificultar sua livre movimentação. Os exemplos que têm mais chamado a atenção dos naturalistas são a cauda do pavão ou a coloração aberrante de plumas de aves, que fazem com que elas se destaquem no meio da vegetação dos seus habitats. Na maioria dos casos, essas características são diferentes nos machos e nas fêmeas, fenômeno que é conhecido como dimorfismo sexual.

A explicação para o dimorfismo sexual surgiu quando da própria formulação da teoria da evolução. Em seu livro "A origem das espécies", Darwin dedica um capítulo a essa questão. Ele explica que há um tipo de seleção que atua em um dos sexos por causa da escolha que é feita pelos indivíduos do outro sexo. Na imensa maioria dos casos em que há dimorfismo sexual, o sexo que é mais exuberante em termos de forma e coloração é o macho. Isso resulta da escolha por parte das fêmeas dos indivíduos com quem elas irão se acasalar. Os sexos são definidos de acordo com o tipo de gameta que produzem. Os machos produzem os espermatozoides, gametas muito pequenos e móveis. As fêmeas produzem os óvulos, gametas maiores e sem mobilidade própria. Por serem pequenos, os espermatozoides podem ser produzidos em grandes quantidades, ao passo que as fêmeas, que são, na maioria das vezes, responsáveis pela nutrição e cuidado com seus descendentes, produzem óvulos em quantidades muito menores que a quantidade de espermatozoides produzidos pelos machos. Assim, a estratégia mais eficiente para os machos é tentar se reproduzir com o maior número de fêmeas possível, uma vez que o custo relativo da produção de um espermatozoide é muito baixo. Por outro lado, a estratégia mais eficiente para as fêmeas é garantir a sobrevivência dos seus descendentes, já que têm de fornecer a eles nutrientes e energia, pelo menos nas fases iniciais de seu desenvolvimento. Ora, se o sucesso dos descendentes depende da qualidade dos progenitores , é mais eficiente, para as fêmeas, escolher como pai de seus descendentes o macho que teria características mais vantajosas, pois essas características podem ser transmitidas aos seus descendentes.

O dimorfismo sexual resulta, portanto, na maior parte dos casos, da seleção de machos por parte das fêmeas. O que é intrigante é pensar por que razão uma fêmea de pavão escolhe um macho que tenha uma cauda tão grande e exuberante, uma vez que isso dificulta sua mobilidade, além de facilitar a vida de seus predadores, principalmente pelo fato de que essa características podem ser transmitidas a seus descendentes! A explicação para isso é a de que, se uma cauda tão grande e chamativa continua ilesa depois de tudo o que aconteceu durante a vida do pavão macho, é porque esse macho apresenta características vantajosas. Uma cauda vistosa significa que o macho conseguiu lidar com as dificuldades que aconteceram em sua vida, tais como doenças ou eventuais contatos com predadores, além de ter tido sucesso na obtenção de alimentos saudáveis.

O mesmo raciocínio se aplica para outras características. Uma coloração chamativa implica também o sucesso no escape da ação de predadores. Nesse caso, as colorações conspícuas podem também facilitar o encontro das fêmeas, pois os machos que se destacam de seus ambientes são facilmente encontradas pelas fêmeas em busca de acasalamento.

Há também muitos casos de dimorfismo sexual de tamanho, onde os machos são maiores que as fêmeas. Em geral, o dimorfismo sexual de tamanho está associado com territorialidade e poligamia. Os machos que controlam territórios são preferidos pelas fêmeas. No caso de territorialidade, há disputas entre machos pelo controle dos territórios mais favoráveis. Essas disputas raramente chegam a resultar em morte de um dos oponentes, havendo disputas totalmente ritualizadas, nas quais os machos sequer chegam a se tocar. Elas podem ser consideradas como uma demonstração de habilidades, onde os machos que se reconhecem menos hábeis simplesmente abandonam a disputa e procuram oponentes menos aptos em outros territórios ou, então, aguardam o envelhecimento do possuidor do território e seu próprio aprimoramento posterior.