Os tipos de seleção natural I



Seleção estabilizadora

Embora haja associação quase imediata entre os termos "evolução" e "seleção natural", nem sempre a seleção natural resulta em evolução! Um dos tipos de seleção natural é a seleção estabilizadora. Esse tipo de seleção ocorre quando existe, na população, uma distribuição de características geneticamente determinadas, onde ambos os extremos são prejudiciais. Um exemplo desse fenômeno pode ser observado quando se comparam dados de taxa de sobrevivência neonatal humana com o peso ao nascer. Bebês muito pequenos e bebês muito grandes são aqueles que, sem cuidados especiais, teriam probabilidade menor de sobrevivência do que aqueles que têmum peso mais próximo da média populacional. Estes têm maior chance de sobrevivência e são menos indicados aos cuidados especiais no pós-parto.

Seleção direcional

Neste tipo de seleção, a tendência da população é um dos fenótipos ser substituído gradualmente por outro fenótipo mais vantajoso. Este é o tipo de seleção mais conhecido. Existem inúmeros exemplos de seleção direcional. Um deles é tratado na maioria dos livros didáticos sobre evolução, mas ele deve ser abordado com cuidado especial. É a questão do pescoço da girafa. Esse exemplo tornou-se especialmente famoso por ter sido abordado por Lamarck em seu livro de 1809. Segundo Lamarck, as girafas, que esticavam seu pescoço para alcançar folhas mais acima das copas das árvores, acabavam por tê-lo estendido pelo uso e transimtiam essa característica aos seus descendentes. Darwin abordou o tema somente na sexta edição do seu livro "A origem das espécies", em decorrência de discussões que aconteceram após a publicação das edições anteriores. Segundo Darwin, em cada uma das gerações, havia variação no tamanho do pescoço das girafas e aquelas com pescoço maior tinham mais sucesso na alimentação e, portanto, deixava mais descendentes com a característica herdada. Mais recentemente, verificou-se que os machos de girafa, em suas disputas por território, usam seus pescoços nessas lutas.

Entretanto, as girafas com pescoços maiores também têm mais sucesso na sua alimentação de folhas dispostas em níveis mais altos, conforme demonstrado em pesquisas de campo recentes realizadas na África. Assim, o pescoço enorme da girafa resulta de uma combinação de seleção natural e de seleção sexual (veja mais adiante). Por essa complicação, esse exemplo não é muito didático. Outro exemplo de seleção natural que é bastante empregado em livros didáticos é o da coloração da mariposa Biston betularia na Inglaterra. Relata a história que, antes da revolução industrial, havia predominância de formas claras, que conseguiam se dissimular dos predadores, pois se confundiam com líquens que ocorrem nas cascas de árvore da região. Com a revolução industrial, os líquens desapareceram das árvores por causa da poluição atmosférica. Com isso, as formas mais claras teriam sido mais predadas por pássaros e foram substituídas pelas formas mais escuras, pela ação da seleção natural pelas aves predadoras de insetos. Com o avanço no combate à poluição atmosférica devido à legislação mais severa e com emprego de tecnologia de limpeza de rejeitos industriais, os líquens voltaram e, com isso, também as formas claras aumentaram de frequência. Tal exemplo tem sido criticado por algumas disparidades, como o uso de mariposas mortas para a demonstração da predação diferencial por pássaros, mas tais detalhes não invalidam a demonstração de seleção natural nessa situação.

Existem, entretanto, bons exemplos de seleção direcional e que podem ser abordados didaticamente pelo seu potencial de motivação, por estarem relacionados às questões ambientais ou de saúde pública.

O DDT é um inseticida, que foi caracterizado como tal pela primeira vez em 1939, embora já tivesse sido sintetizado em 1874. Quando foi testado no combate a insetos praga e insetos transmissores de doenças, foi um sucesso estrondoso. Nessa época, previa-se que o uso de tal inseticida resolveria os problemas causado pelos insetos na agricultura. Logo depois se verificou que sua eficiência não era tão boa como havia sido nas aplicações iniciais. Insetos que tinham uma resistência natural a esse inseticida aumentaram de frequência na população, já que aqueles que eram sensíveis tinham sido rapidamente dizimados.

Um dos primeiros medicamentos contra o HIV, vírus causador da AIDS, foi o AZT, análogo a um ribonucleotídeo. Devido à ação de seleção direcional nos vírus, esse medicamento logo perdeu a eficácia. Atualmente, aplica-se uma mistura de medicamentos diferentes no tratamento da AIDS, conhecida como coquetel anti-HIV. Neste caso, a probabilidade de que uma linhagem de vírus venha a se tornar resistente pela ação da seleção natural é bem menor, pois um vírus resistente a todos os componentes da mistura precisaria ter mutações favoráveis em vários genes ao mesmo tempo, o que é pouco provável. Entretanto, mesmo sendo pouco provável, isso não é impossível. Para prevenir esse acontecimento, a formulação do coquetel anti-HIV é constantemente modificada.

Atualmente no Brasil, é proibida a venda de antibióticos sem prescrição médica também para diminuir a chance da evolução de linhagens bacterianas resistentes a esses medicamentos tão valiosos, que corriam o risco de se tornar inúteis graças à seleção de linhagens bacterianas resistentes.