1.1. A importância de ser um Recordista

Na lista apresentada, aparecem animais que, por algum motivo ou característica, atraem a atenção dos humanos e assim se tornam conhecidos do grande público e são recorrentemente mencionados. Mas existem muitos outros que, embora não integrem essas listas, deveriam ter sua importância destacada. É sobre isto que vamos tratar, neste início de conversa, com exemplos de aplicações de substâncias animais na saúde humana e no controle biológico de pragas.

Animais que apresentam alta periculosidade pela capacidade de predação e parasitismo, muitas vezes estão associados a toxinas, conhecidas como venenos, além de também encontrarem recordes e capacidades inusitadas. Geralmente se evidenciam os prejuízos causados por esses animais, mas alguns trabalhos têm demonstrado que o estudo cuidadoso de toxinas, potencialmente mortíferas, também pode gerar benefícios à humanidade se devidamente aplicadas.

Existem diversas pesquisas que revelam a ultraestrutura bioquímica de toxinas de animais peçonhentos. Pesquisas são feitas para entender sua atuação no organismo e encontrar aplicações biotecnológicas. Estudar a biologia desses animais, de maneira que possam ser mantidos em cativeiro e sejam realizados diversos testes de interesse, requer mão de obra especializada de zoólogos, toxicólogos, bioquímicos, entre outros.

Leia a reportagem a seguir que exemplifica claramente os meandros científicos e éticos relacionados à pesquisa animal.

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Com relação ao comportamento de parasitismo e predação, pesquisas relacionadas ao controle biológico com animais têm ganhado grande destaque. Realiza-se uma cuidadosa coleta de informações sobre os animais e suas relações com outros seres vivos e seu ambiente, para só depois aplicar os resultados obtidos. Esse tipo de pesquisa sempre gera questões éticas devido à incerteza da dimensão de possíveis impactos gerados pela introdução de espécies.

Um exemplo que tem trazido bons resultados está associado às cigarrinhas-das-pastagens (Figura 9.1): são insetos sugadores de seiva, sendo a principal praga de gramíneas forrageiras como braquiária, colonião, capim-elefante, cana-de-açúcar, entre outras. As espécies mais comuns são: Deois flavopictaDeois schachNotozulia entrerianaMahanarva fimbriolataM. posticata. O ectoparasitismo desses insetos sobre as plantas acaba causando grandes prejuízos à agricultura e pecuária nacionais (Fonte: http://www.cileite.com.br/sites/default/files/16Instrucao.pdf).

Figura 9.1 Típica massa de espuma produzida pela ninfa da cigarrinha (a); após troca de exoesqueleto (ecdise), ilustrando a exúvia sobre a espuma (b); por ocasião da última ecdise (c); emergência do adulto (d).
Fonte: http://pt.engormix.com/MA-pecuaria-corte/administracao/artigos/cigarrinhas-das-pastagens-t942/124-p0.htm. Publicado por José Raul Valério, em 02/03/2012.

Associados às cigarrinhas-das-pastagens, estão seus predadores (pássaros, a mosca Salpingogaster nigra e percevejos), parasitoides (Hymenoptera), e agentes patogênicos (fungos e nematoides). Diversas pesquisas já denotaram grande eficiência deles no controle das cigarrinhas-das-pastagens, sendo agentes de supressão encontrados naturalmente e que devem ser mais explorados. Para o controle biológico aplicado, maior ênfase tem sido dada ao fungo Metarhizium anisopliae (Fiigura 9.2). Esse fungo é o inimigo natural das cigarrinhas-das-pastagens mais utilizado. Ele não sobrevive nos sistemas de exploração de pastos utilizados, o que leva à necessidade de multiplicação em laboratório (produção de bioinseticida) e posterior liberação nas pastagens, pelo menos uma vez por ano, em duas ou mais aplicações, no início do ciclo do inseto, começo do período chuvoso. (Fonte: http://www.isophos.com.br/html/modules/news/makepdf.php?storyid=47).


Figura 9.2 Fungo Metarhizium anisopliae infestando uma cigarrinha de pastagens.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Metarhizium_anisopliae

Este e outros exemplos têm sido pesquisados, tais como: o controle de vermes intestinais de animais por fungos nematófagos; controle da lagarta do milho, Spodoptera frugiperda, com baculovírus (entomopatógeno); controle biológico da mosca-de-chifre; controle biológico de ácaros fitófagos com ácaros predadores etc. Os artigos resultantes desses trabalhos estão disponibilizados na seção “anexos”, dessa semana. Devido à possibilidade de impactos negativos relacionados ao controle biológico, sobretudo pela negligência do estudo taxonômico das espécies envolvidas, recomenda-se a leitura complementar da obra “Controle biológico no Brasil: parasitoides e predadores”, por José Roberto Postali Parra, 2002. O livro aborda conceitos básicos sobre controle biológico clássico e aplicado, e casos de sucesso ocorridos no Brasil, com seus impactos.

A seguir, na seção “mãos à obra”, o cursista terá a oportunidade de participar de um interessante exemplo que mostra como aplicar o conhecimento obtido através da pesquisa com animais.