13. O processo de autofagia

Os lisossomos não estão envolvidos apenas com a digestão de substâncias ou estruturas de origem extracelular, incorporados na célula através de endocitose, num processo denominado de heterofagia. Muitas vezes exercem uma função denominada de autofágica (Fig. 11), onde partes da própria célula são digeridas, num processo fisiológico normal de renovação de organelas e de demais constituintes celulares, assim como, em outras situações, de remodelação de tecidos do organismo.

Desenho esquemático do processo de autofagia
Figura 11: Desenho esquemático do processo de autofagia. Porções do citoplasma da célula são envoltas por membranas de origem ainda não determinada formando um vacúolo com dupla membrana, o autofagossomo, que, posteriormente, se fundirá com o lisossomo ou endossomo tardio, originando uma organela híbrida temporária (autofagolisossomo) na qual ocorrerá a digestão da membrana interna e do conteúdo interno.

Fonte: Original

Nesses casos, porções variáveis do citoplasma, que podem conter diversas organelas, são envolvidas por membranas duplas, de origem ainda não bem determinada. Neste processo forma-se um vacúolo de dimensões variáveis, denominado de autofagossomo. Esta organela funde-se com um lisossomo (ou com um endossomos tardio), dando origem a um autofagolisossomo, onde a membrana interna, assim como o restante do conteúdo, são digeridos, restando, apenas, a membrana externa, passando esta organela a ter o aspecto de um simples lisossomo.

Muitas vezes a função autofágica dos lisossomos é ativada em resposta a condições adversas do meio, como falta nutrientes, contribuindo para a sobrevivência da célula nessas condições. Em outros casos, a autofagia pode ocorrer ao longo do desenvolvimento normal do organismo, na remodelação de tecidos ou órgãos. É o caso da metamorfose dos insetos da larva (uma lagarta, por exemplo) para o adulto (uma borboleta, seguindo o exemplo), passando pelo estágio de pupa, ou dos anfíbios anuros (sapos e rãs), onde tecidos larvais (a cauda do girino, por exemplo) são autodigeridos (histolizados), e os tecidos do adulto forma-se de novo a partir de células indiferenciadas (Fig. 12).


Figura 12: Metamorfose de sapos e rãs que envolve a redução da cauda através de um processo de autofagocitose.

Fonte: DE DUVE, C. The lysosome. In: The living Cell, readings from Scientific American. W. H. Freeman and Company. San Francisco and London. 1963.