TEMAS DO PENSAMENTO POLÍTICO LATINO-AMERICANO

Professor Responsável: Bernardo Ricupero

Estagiários PAE: Maria Raphaela Luchini Caldeira Campello

                                   Rafael Marino

 

Objetivo 

A disciplina persegue uma ideia: a ideia de América Latina. Procura entender como a categoria foi constituída e contestada em diferentes momentos: em meados do século XIX, nas disputas imperialistas entre EUA e França; no início do século XX, momento da crise do positivismo e da emergência do modernismo; no segundo-pós-guerra, quando ocorre a desagregação definitiva dos impérios coloniais; nos anos 1980´s, em que se tem a transição de regimes autoritários e, concomitante com ela, uma crise de autoconfiança dos EUA. Nesse sentido, o termo “América Latina” passa a assumir novos significados, que provavelmente tornam irreconhecível seu sentido original. De forma complementar, não foi fácil entender, nesses diferentes momentos, o lugar do Brasil no continente que então se criava. Confrontando esse problema, pode-se, numa frente, perceber melhor os próprios limites da concepção de América Latina então formulada. Já numa outra frente, é possível avançar na compreensão da difícil relação do país lusófono com seus vizinhos hispano-falantes.

 

De maneira significativa, os personagens de A Tempestade, Caliban, Ariel e Próspero (mas não Miranda), aportam, no fim do século XIX, em países que começam a ser identificados com a América Latina. Entre latino-americanos, é, em especial, o impacto da Guerra Hispano-Americana de 1898 e o desafio que passa a representar os EUA que faz com que verdadeiras alegorias tomadas emprestadas da peça de William Shakespeare se aclimatem num ambiente muito diferente do original. Em termos mais imediatos, é significativo como diversos autores provenientes da região fazem uso, a partir de então, dessas referências para lidarem com questões que lhe dizem respeito e, assim, ajudam a consolidar uma identidade latino-americana. Mais especificamente, é possível identificar um “momento Ariel”, um “momento Caliban” e um “momento Próspero” nas leituras e usos latino-americanos da peça shakespeariana. Nessa referência, estes diferentes usos de A Tempestade servem como uma espécie de instrumento para entender como a identidade latino-americana foi pensada ao longo do século XX.