O objetivo desta disciplina é apresentar um conjunto de mudanças de paradigma composicional na escrita da música instrumental mais fortemente presente desde os anos 1950. Tal mudança de paradigma diz respeito à emancipação do parâmetro de timbre através da ampliação da noção de nota musical. Para este processo contribuíram o pensamento de compositores como Edgard Varèse (“agregados sonoros”), John Cage (“evento sonoro”), Olivier Messiaen (“acordes coloridos”), Pierre Boulez (“sonoridade” e “entidade”), Gérard Grisey (“carne do tempo”), Tristan Murail (“sons complexos”) que de certo modo são compiladas por Helmut Lachenmann nas ideias de som-cor, som-flutuação, com-cadência, som-textura, som-estrutura. Tais noções não só foram ampliando a compreensão do que estaria por traz das notas musicais anotadas na partituras, como levaram os compositores a adotarem novas estratégias de escrita musical para além da tradição herdada dos séc. XIX e início do XX. Dentre estas estratégias destacamos aquelas da “síntese” instrumental, seja dos espectralistas franceses (Grisey, Murail, Dufourt) ou de Lachenmann (com o som-cadência), a da parametrização da técnica instrumental das extended techniques empregadas por compositores como Brian Fernehough, Heinz Holliger e Luigi Nono (segundo a tradição aberta pelas Bagatellas op. 9 de Webern), a da decomposição do gesto como propuseram Luciano Berio, H. Joachim Hespos e compositores mais recentes como Georges Aperghis, Salvatore Sciarrino e Thierry de Mey e o uso de instrumentos não tradicionais tal qual realizam compositores como Roberto Victorio e Carola Bauckholt.